sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A MISÉRIA DA POLÍTICA

CAPOVILLA DESMONTA ROCHA
Cristiano Capovilla*
Quero aqui combater uma prática coronelista e anti-republicana que há muito graça pela política de São Luís: a de fazer afirmações peremptórias sem pensar nas condições que tornam possíveis as sentenças serem verdadeiras.

Sem isso, sem essa capacidade de julgar as condições de possibilidade das afirmações, é impossível expor um pensamento minimamente coerente, que conjugue objetividade e racionalidade.

Na medida em que desprezarmos a lógica dos juízos, qualquer afirmação vale por si mesma e nada mais precisa ser demonstrado. A política, o reino do discurso por excelência, passa a ser o vale tudo das palavras vazias, que ganha força à medida que são massivamente divulgadas.

É o que atualmente já estão chamando de “efeito Duda Mendonça” na política maranhense. É a essa prática política de desprezo ao debate racional que volto a minha atenção.

É o caso do deputado federal Roberto Rocha (PSDB). Empolgado pela vitória do arqui-reacionário João Castelo (PSDB) à prefeitura de São Luís, o tucano anda se queixando em notas e artigos que ‘não é direita’, que é de ‘centro-esquerda’, ‘social-democrata’ etc.

Nas suas exposições, confunde conceitos, falsifica a história e descontextualiza as noções de direita e esquerda, tentando escamotear sua verdadeira posição ideológica.

Tudo isso exposto em um rosário de argumentos falaciosos - sempre concluindo algo que não está contido nas premissas – para reescrever a toponímia das forças políticas que emergiram das últimas eleições.

Uma das premissas falaciosas do deputado é querer criar uma oposição entre ser social-democrata e de direita. A verdade é que a nível internacional a social-democracia, após a queda da URSS, abandonou o keynesianismo e em alguns casos a própria defesa do estado de bem estar social, adotando sem reservas as novas teses, reformas e políticas neoliberais.

Com isso, deslocou-se do centro político (que ocupava durante a guerra fria) para ser a renovação da ortodoxia econômica do capitalismo, efetivando suas políticas nos mercados financeiros liberalizados.

Temos vários casos paradigmáticos desta virada neoliberal da social-democracia, como os casos de Felipe González do Partido Socialista da Espanha; o de Gerhard Schröder do histórico SPD alemão e de Tony Blair do Partido Trabalhista inglês.

Já no Brasil, o PSDB foi quem capitaneou a modernização conservadora da política e da economia. Ao assumir a presidência da república, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso em aliança com o PFL (atual DEM) de Antônio Carlos Magalhães, Jorge Bornhausen, Marco Maciel e outros ícones da ditadura militar, conduziu o país pelas diretrizes políticas e econômicas do ‘Consenso de Washington’, tendo como metas fundamentais de seu governo as reformas neoliberais de abertura comercial, privatizações, desregulamentação e liberalização financeira.

Tal receituário iniciou o maior ataque à nação brasileira desde as tentativas das cortes portuguesas de retornar o Brasil à condição de colônia.

O resultado dessa política desastrosa e antinacional nós já conhecemos. O país ancorou seu processo de desenvolvimento no déficit em conta corrente, aumentando o nosso endividamento externo financeiro e patrimonial, provocando um vertiginoso endividamento público, passando de 30% do PIB em 1992 para 56,5% em 2002.

Segundo dados do IPEA, só durante a vigência do câmbio fixo, paridade Real-Dólar, a dívida externa bruta saltou de US$ 148 bilhões em 1994 para US$ 241 bilhões em 1998.

A desnacionalização do parque industrial e de serviços através da transferência de propriedade de empresas nacionais, públicas e privadas, para o capital estrangeiro (leia-se desregulamentação e privatização), provocou a maior onda de desemprego da história recente brasileira.

Segundo o IBGE, em fins de 1994 o desemprego vitimava 4,5 milhões de trabalhadores, ou 6,1% da força de trabalho no país. Ao término do primeiro mandato de FHC em 1998 o desemprego avançara para 7 milhões de brasileiros ou, 9,2% da PEA (População Economicamente Ativa): leia-se, em seu primeiro mandato o PSDB foi responsável por mais 2,5 milhões de desempregados.

Ao final do seu segundo mandato, com o país esfacelado e sofrendo com o apagão de energia, o desemprego emerge para 15% da PEA. Todos nos lembramos da degradação social, do arrocho nos salários e do aumento das desigualdades.

Por isso, Sr. Roberto Rocha, o PSDB e seus líderes são o que há de mais direitista na política nacional e não há nada que você possa fazer a respeito, a não ser mudar de partido!

Outra premissa falaciosa que o deputado tucano utiliza em um de seus textos é o de que existem apenas dois campos políticos no maranhão: o do Sarney e do anti-Sarney.

Com esse maniqueísmo provinciano, Roberto Rocha espera afastar a política nacional do seu terreiro e, de quebra, colocar-se à esquerda de Sarney. Ora, nada mais primário que uma dicotomia entre bem e mal para reduzir a vida política a apenas duas cores. Entretanto, o mundo é mais complexo que supõe os neurônios de um tucano.

Na verdade, desde a redemocratização existem três pólos de poder político em São Luís e no Maranhão. O antigo grupo oligárquico hegemônico, capitaneado por Sarney, forma um desses pólos.

O outro é formado pela oposição intra-oligárquica, de direita, que está tentando ser a oligarquia hegemônica, da qual sempre fez parte o Sr. João Castelo, desde os tempos do PDS, e o próprio Roberto Rocha.

O terceiro pólo é o da esquerda, sempre muito fragmentado entre os dois maiores blocos, mas que tem por centro o PT e o PC do B.

Com o advento das novas forças políticas no comando da nação através da eleição do Lula, o pólo de esquerda fortaleceu-se e, pela primeira vez na história do Maranhão, criou as condições que levaram a disputa de um segundo turno na capital.

Um feito inédito, dada as condições desiguais do embate. Portanto, parece óbvio que o pólo das forças democráticas, progressistas e de esquerda, a partir dessa eleição, entrou definitivamente para a disputa do poder político contra as velhas contendas intra-oligárquicas que tanto alegram o Sr. Roberto Rocha. Aqui, mais uma vez, em nosso estado, o PSDB também encampa as posições de direita.

Não passa despercebido o enorme esforço para ligar a figura de Sarney ao novo pólo de esquerda que se fortalece. Nesse ponto, o deputado tucano recicla os surrados motes mentirosos da campanha eleitoral e os utiliza como mais um argumento falacioso.

Ora, sobre esse assunto será que é preciso trazer a tona à lembrança do papel político de fâmulo que o então governador Luiz Rocha tinha com Sarney? Ou será que devemos lembrar que João Castelo foi outorgado governador pela ditadura militar com o consentimento e apoio do Sarney?

Ou mesmo agora quando Cutrim (DEM ex-PFL), eterno secretário de segurança de Roseana Sarney, oposição a Jackson na assembléia legislativa, votou, pediu votos e liberou lideranças para fazê-lo em prol do candidato do PSDB, não seria suficiente para demonstrar quem é que se beneficia nas relações com o grupo Sarney?

Bastam esses exemplos para provar que quem deve favores e a própria presença na política maranhense ao Sarney são os senhores do PSDB. Essa é a verdade que se tenta esconder com as falácias.

Não podemos deixar que a inverdade e o irracionalismo cubram com o manto da ignorância o desejo de mudança e de transformações sociais que nosso povo tanto precisa.

Temos que desmascarar a miséria política que a nova oligarquia direitista do PSDB quer instalar na nossa cidade e em nosso estado. Isso nós não vamos permitir.

* Cristiano Capovilla é professor de Filosofia COLUN-UFMA

3 comentários:

  1. Olá Ed Wilson. Um abraço.
    Capovilla remora-nos a sena da vida política maranhense com enfase na atuação dos políticos de direita. Bem, o artigo é espetacular sobre esse aspécto, esgrima bem estatistica, contextualiza o tempo histórico... Mas não diz uma gota sobre o momento de hoje, o agora. Nenhuma frase sobre a que diabos o governo Jacson serve: a esquerda, a direita ou a ambos.
    Também sugere erroneamente que o sucesso de 44% de votos na esquerda local deve-se totalmente ao Lula. Não creio. Se isso for verdade, revoge-se os PAC da vida, pois o insucesso eleitoral nessas areas de atuação dos projetos deve-se a pouca apetência política das pessoas de esquerda no sentido de resultados para o grupo político e que atuam no governo estadual.
    Aliás, a responsabilidade do momento é se afirmar o que se vai fazer após o peso eleitoral das urnas, que povo de São Luís colocou na esquerda. É, pelo jeito, as lideranças dos partidos à esquerda figem não ouvir.
    Não dá nem pra citar Chico Boarque: Paulo que amava dora, que amava... Será que sobrou só a quadrilha?
    Capovilla está convidado a se manisfestar também publicamente, pois bater na direita é facil. Mas o momento de tomar decisões de aprofundar as conseqüencias de 26 de outrobro ou de tergiverssar.
    O quê que o PC do B por exemplo vai fazer?
    Já me disseram: "o tempo é de reflexão". Eu vos diria: reflexão é tempo usado ou mal usado. O resultado estará a nossa frente.

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  2. Celijon,
    Acho que no artigo Capovilla esqueceu de dar nome ao chefe da vitória de Castelo - Jackson - o protagonista da hegemonia do PSDB no Maranhão.
    Reafirmo o que disse em 2006, quando da formação da Frente de Libertação. Naquela época já estava se desenhando a preponderância de um governo de direita no Maranhão.
    Sobre o futuro, defendo que o PT e o PC do B possam consolidar a aliança de 2008 em São Luis, ampliando com outros partidos do campo democrático popular.
    Ed Wilson

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  3. Caro edwilson, lucidez histórica o artigo do professor Capovilla.
    E o que é interessante é que o PCdoB tem em seus documentos essa tese afirmada há muito tempo. não se conseguia a unidade orgânica da esquerda, mesmo que minimamente, para que houvesse a constituição de uma terceira via às oligarquias de direita no estado.
    a eleição de São Luís mostrou que há uma tendência clara do acirramento político entre a esquerda unida com o apoio de setores democráticos e populares do estado, de uma amplidão jamais vista, contra os interesses direitistas do PSDB no estado.
    parabéns a todos.

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