sexta-feira, 26 de junho de 2009

SENADO, PETROBRAS E AGENDAMENTO MIDIÁTICO

A onda de denúncias sobre irregularidades no Senado começou em fevereiro de 2009, quando uma entrevista colocou na berlinda o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).

Expoente da ala peemedebista mais próxima da candidatura de José Serra (PSDB-SP) à presidência da República em 2010, Vasconcelos teve seus minutos de fama ao acusar seus próprios correligionários peemedebistas de corrupção e clientelismo.

O factóide vasconcelista não durou uma semana, mas abriu as portas ao agendamento negativo do PMDB na mídia nacional. Dentro da estratégia pré-eleitoral de 2010, o PSDB e o DEM miravam para desmontar o maior partido da base do governo Lula.

Assim, seguiu-se à verborragia do senador pernambucano uma onda de denúncias atingindo, primeiro, o diretor geral do Senado, Agaciel Maia, há 14 anos no cargo.

Maia serve à corte parlamentar brasileira desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, em 1995, mas só agora foi “descoberto” pela mídia nacional como foco das maldades no Planalto Central.

Assim, o primeiro alvo estava alcançado e o diretor geral foi afastado do cargo. Porém, as denúncias contra Agaciel Maia estavam diretamente associadas ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), um dos principais aliados do presidente Lula.

A pauta midiática nacional fechou o arco temático completo: Jarbas Vasconcelos – Agaciel Maia – José Sarney.

É o que se chama, nas teorias da Comunicação, de Agenda Setting. A mídia impõe no noticiário um tema ou seqüência de temas sobre os quais debruça-se durante um determinado tempo, pautando os debates do público.

Ao impor uma agenda, os meios de comunicação têm o poder de definir os temas sobre os quais discutimos e comentamos. Mas nem sempre essa agenda é imposta ou armada nos bastidores dos jornais, rádios e TVs.

O agendamento pode surgir por outros motivos alheios à vontade dos donos da mídia. Enchentes, acidentes aéreos, morte de celebridades, grandes descobertas científicas, conflitos e decisões internacionais etc percorrem o circuito midiático atendendo aos critérios de noticiabilidade.

Sob o guarda-chuva do interesse público, um assunto vira notícia quando preenche critérios de falta, inversão ou excesso.

Em outras circunstâncias, os temas podem ser “fabricados” pelos grupos de poder e lobistas que produzem documentos e municiam os meios de comunicação com informações detalhadas para alimentar o noticiário. Soma-se a isso o papel investigativo próprio do Jornalismo.

Há, portanto, uma conjugação de fatores na definição da agenda midiática. É o que se percebe na onda de escândalos no Senado.

Para sair de uma agenda é necessário criar outra. Foi o que fez o senador José Sarney, ao deixar aprovar a CPI da Petrobras.

Sarney acreditava no abafamento da crise senatorial com a ascensão do noticiário sobre a Petrobras. Ocorre que a CPI voltou-se contra seus próprios criadores – o PSDB e o DEM.

Se no começo criou uma agenda negativa para o governo, a investigação da Petrobras passou a ser interpretada como uma nova tentativa dos tucanos de privatizar a empresa.

Escaldados com o desgaste privatizante da candidatura presidencial de Geraldo Alckimin (PSDB-SP) em 2006, os tucanos não querem cometer o mesmo erro com José Serra em 2010.

Era preciso, portanto, refazer a pauta nacional. Ou melhor, retomar a pauta anterior do Senado. Ao perceber o tiro pela culatra na CPI da Petrobras, a mídia voltou a alimentar o noticiário com os “escândalos” focados no presidente da Casa José Sarney.

Porém, nada disso isenta Sarney de responsabilidades públicas na presidência do Senado. As denúncias sobre nepotismo, clientelismo, tráfico de influência etc são típicas da prática de manutenção do poder pelo grupo Sarney no Maranhão e em Brasília, desde a época da ditadura militar.

À luz do agendamento midático, no entanto, o incêndio noticioso no Senado tem como objetivos, entre outros, desgastar o PMDB e atingir o principal aliado do governo Lula no Congresso Nacional.

É tão evidente esse propósito que o presidente Lula reagiu às denúncias contra Sarney, com uma defesa estapafúrdia e desrespeitosa: “Sarney não deve ter o tratamento de um cidadão comum”.

Nos embalos de gangorra do agendamento midiático, por enquanto estão no alto os escândalos do Senado, originados no fogo inicial da entrevista de Jarbas Vasconcelos.

A CPI da Petrobras sucumbiu, podendo descer às profundidades do pré-sal.

Um comentário:

  1. Caro Ed.

    Vc tem razão em destacar o papel ativo dos grandes meios de comunicação na construção ou desconstrução de uma imagem, idéia ou teoria.
    Desde a redemocratização e a primeira campanha Lula X Collor que eles interferem explicitamente, como uma força política, com opiniões próprias , para seus objetivos.
    É mostrar esse outro lado da notícia.

    Saudações.

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