quinta-feira, 7 de março de 2013

HUGO CHÁVEZ: A MÁQUINA DE GUERRA NO CONTEXTO LATINO-AMERICANO

Chávez plantou a semente da revolução bolivariana e enfrentou o imperialismo dos EUA

A trajetória do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deve ser analisada no movimento das forças políticas que chegaram ao poder na América Latina, com o fim das ditaduras militares, e no contexto das disputas pelo controle das reservas internacionais de petróleo.

Nos anos de 1960, estendendo-se até os 80, a maioria dos países latino-americanos era controlada por ditaduras militares.

Esse cenário começou a mudar nos anos 1990 e no século XXI, quando ascenderam ao poder, nestes países, novas forças políticas com viés de centro-esquerda (uns mais, outros menos).

Vejamos:

ARGENTINA

As Mães da Praça de Maio até hoje procuram por seus filhos torturados e assassinados na ditadura militar que governou a Argentina, tendo como principais representantes Raul Alfonsín, Jorge Rafael Videla e o general Leopoldo Galtieri.

Dominada posteriormente pelo peronismo, seguido das duas gestões de Carlos Menem (1989 – 1999), a Argentina voltou a respirar os ares da democracia nas gestões de Nestor Kirchner (2003 – 2007) e da sua esposa Cristina Kirchner, reeleita em 2011.

BOLÍVIA

Por três décadas (anos 1960, 70 e 80) a Bolívia também foi arrasada por golpes militares, liderados, entre outros, pelos generais Hugo Bánzer Soares e Garcia Meza.

Os bolivianos retomaram a democracia com a eleição de Sánchez de Lozada (1993) e hoje consolida-se com a perspectiva da reeleição do líder indígena Evo Morales em 2014.

BRASIL

A redemocratização começou em 1989, com a primeira eleição direta após a ditadura militar, seguindo-se os mandatos de Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula-Dilma (PT).

CHILE

A ditadura sanguinária de Pinochet foi substituída pela “Concertação” – coligação que governou o país andino de 1990 a 2010, liderada no último ciclo pela presidenta Michelle Bachelet. Hoje o Chile é governado por Sebastían Piñera, bilionário e dono de uma das principais redes de TV do país.

EQUADOR

Rafael Correa reelegeu-se nas últimas eleições, em fevereiro de 2013, com quase 60% dos votos, reafirmando a coalizão de forças democráticas e populares naquele país.

PARAGUAI

Os paraguaios livraram-se do jugo ditador de Alfredo Strossner, que governou de 1954 a 1989, um dos períodos de maiores atrocidades contra os direitos humanos em todo o mundo.

Posteriormente, o Paraguai passou por uma transição com Fernando Lugo, mas houve um revés com sua cassação, em um processo de impeachment, que colocou no poder Frederico Franco.

URUGUAI

Menos marcado por ditaduras sanguinárias, o Uruguai segue em boas mãos com o presidente reeleito José Pepe Mujica, ex-guerrilheiro do Movimento Tupamaros.

DEMOCRACIA, PETRÓLEO E COBERTURA MIDIÁTICA

No geral, a vitória eleitoral de presidentes com perfil popular consolida, em primeiro plano, a recomposição da cidadania na América Latina, afastando o fantasma das ditaduras.

Os golpes militares, seguidos de torturas, assassinatos e a supressão dos diretos civis foram substituídos por eleições diretas. Trata-se de uma mudança considerável, estimulante ao restabelecimento da democracia e à propulsão do sentimento nacional.

A violência dos generais trocada pelo voto direto instituiu uma nova cultura política no povo latino-americano.

Chávez soube construir uma plataforma colada no nacionalismo e na versão socialista bolivariana. Ele instituiu uma cor (vermelho), um lema, uma mística e um estilo de liderar, alternando o carrancudo e as performances teatralizadas nas aparições públicas.

Mas Chávez destacou-se, sobretudo, por duas ações: o ataque ao imperialismo no plano internacional e a opção preferencial pelos pobres na Venezuela.

Esta opção popular passou necessariamente pela defesa do petróleo e a manutenção da PDVSA como a máquina de guerra bolivariana. As riquezas minerais da Bolívia, país historicamente expropriado, deveriam ser distribuídas para atender aos mais necessitados.

Para além do petróleo, as coalizões partidárias que assumiram o controle dos estados latino-americanos inverteram a regra da subserviência ao FMI, sob a liderança dos Estados Unidos (EUA).

Em parte oriundas de fontes ideológicas de esquerda, as forças políticas eleitas na América Latina convergem para uma postura de soberania e da formação de um bloco econômico – o Mercosul.

Nesse novo contexto geopolítico, revigorada com as democracias pulsantes, governada por presidentes eleitos, em parte de perfil popular, a América Latina deu um passo relevante na disputa de hegemonia internacional.

A Venezuela possui a maior reserva de petróleo do mundo, com cerca de 297 milhões de barris, dando à estatal PDVSA uma posição privilegiada em uma das áreas mais sensíveis da economia internacional – a produção de energia.

Esse é o ponto central do conflito entre a Venezuela e os EUA, interessados em diminuir o poder de Chávez na América Latina, inclusive impondo sanções à PDVSA.

Juntamente com o Irã, a Venezuela compõe o seleto grupo de países com influência política e força econômica na Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo).

Não alinhados às regras do FMI, o Irã e a Venezuela são alvos de constantes retaliações do imperialismo liderado pelos EUA.

Vem deste conflito, sobretudo econômico, a cobertura midiática pejorativa feita pela rede de TV CNN sobre a Venezuela e Chávez, geralmente associando o líder bolivariano aos conceitos de autoritarismo e populismo.

O conceito pejorativo sobre Chávez não condiz com um presidente eleito e reeleito duas vezes, no voto direto, maciçamente apoiado pelas camadas populares. O documentário “A revolução não será televisionada” desmascarou a interpretação depreciativa da personagem Chávez.

Em que pesem a cara de arrogante e a teatralidade na arena da política, Chávez está longe de ser um ditador assassino e torturador – personagem tão comum no sul da América entre os anos de 1960 até o final do século XX.

A mídia internacional, benevolente com os ditadores sanguinários, torce o nariz para um líder adorado pelo seu povo.

Importante também ressaltar que o viés de cobertura da CNN tem apreciadores e seguidores na mídia neoliberal, representada no Brasil pelas Organizações Globo, a revista Veja , o jornal Folha de São Paulo, o Estadão, etc.

A mídia hegemônica, como agente político e cultural preponderante no capitalismo contemporâneo, cumpre um papel fundamental no processo de desestabilização política na Venezuela.

Mas não deve conseguir. Chávez plantou a semente e a árvore já cresce vigorosa, bolivariana, altiva, soberana, livre do FMI e do pensamento único neoliberal.

O mundo precisa de gente assim. Hora arrogante, hora libertário, Chávez cumpriu a missão honrosa de enfrentar o imperialismo com petróleo, a constituição bolivariana na mão do povo, a cor vermelha e uma língua ferina, indo aos extremos nos ataques a George W. Bush, a quem chamou de “demônio”.

E o que foi mesmo esse Bush?

Vida longa à revolução bolivariana!

Um comentário:

  1. Não deprecio quem defende o ex-comandante Chávez. Agora, considera-lo um democrata é um pouco demais. Foi artífice de um golpe de Estado, ainda que frustrado. Se se manteve todos esses anos no poder, é porque empreendeu ações de caráter populista e caudilhista. Tomou as rédeas do Supremo Tribunal e calou a oposição. Não renovou a licença da RCTV, que lhe fazia oposição. Na verdade, assim como os irmãos Castro, Chavéz queria permanecer ad eternum no Poder, a pretexto dessa balela de revolução bolivariana. Que revolução é essa que impõe pobreza à população, ainda que sentado sobre uma das maiores reservas de petróleo do mundo? Deixou como legado uma inflação anual de 20% ao ano; e todos sabemos o que isso significa no bolso dos menos favorecidos. Tenho medo desse messianismo, dessa ideia de que o grande irmão vai conduzir o povo à libertação. Não acredito nisso. O Socialismo é um lindo sonho de verão. Todas as tentativas de implantá-lo levaram, mais cedo ou mais tarde, à tirania e à falta de liberdade. Salve todos os tipos de liberdade!

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