sexta-feira, 8 de agosto de 2014

HÁ UMA INTERCONEXÃO EM TUDO

Jorge Leão
Professor de Filosofia do IFMA

O debate entre ciência, filosofia e religião ganha força, à medida que novos cientistas, filósofos, artistas e líderes religiosos vão quebrando as amarras sectárias em seus âmbitos de restrições ideológicas.

Novos espaços de diálogo favorecem a ultrapassagem de visões estreitas e dogmáticas sobre a dança do universo. Cada vez mais temos motivos sinceros para crer numa sincronicidade cósmica, isto é, numa existência que se interconecta a todo instante, sob a geração de múltiplos e diferenciados modos de ser, pensar e atuar.

Por outro lado, muitos se perguntam se há de fato um "propósito" intrínseco no universo, isto é, se tudo deve ocorrer por uma necessidade ulterior. É de fato instigante uma questão como essa, pois, de início, podemos pensar que se trata aqui de "determinismo finalista", ou que haveria um deus prevendo e controlando todos os acontecimentos por meio de uma vontade absoluta, antes mesmo que tudo pudesse vir a ser.

Trata-se, como se observa, de um pensamento que acarreta implicações filosóficas profundas, sendo mesmo propício e urgente o debate em termos de uma possível ambivalência neste previsível "mapa mental", anterior ao aparecimento das coisas, como no caso das explicações religiosas.

Minha opinião é de que há um sentido maior em tudo, sem que haja, por isso, uma negação da liberdade. Penso que há sim uma razão de ser em tudo, pois nada é solto, sem nexo, o que acabaria nos levando a dilemas intermináveis, como, por exemplo, a questão do mal.

Para ilustrar, lembro de Spinoza, filósofo que para mim traz uma grande contribuição sobre esse assunto tão polêmico. Ele tem uma leitura muito interessante para pensar sobre o impasse entre liberdade e necessidade. Deus é, e está em tudo. Há, segundo ele, uma causa sui em tudo, que interconecta todos os fenômenos do universo com uma beleza geométrica. É o que se denomina de "monismo cósmico". O ser humano não estaria subjugado a uma vontade anterior, mas por meio da razão, ele compreende o mecanismo natural das coisas, fazendo-o um ser livre por necessidade. Somos necessariamente livres. Essa é a questão fundante. Deus, definitivamente, não joga dados com o mundo.

Há também autores como Teilhard de Chardin (padre jesuíta francês, cientista e escritor no século XX), que tinha uma profunda formação religiosa, e que apresenta uma proximidade fecunda com a ciência, o que é deveras fascinante.

Vejo o Dalai Lama escrevendo sobre temas como complexidade e diálogo ecumênico entre os povos, o que reforça mais esse aspecto holístico no conhecimento. Como diz Carl Gustav Jung: "não preciso crer em Deus, eu sei que há". Não se trata de confessionismo sectarista (o que pode e tem acarretado mais separação do que re-ligação), mas de uma gradativa consciência da unidade perdida, que está ainda presente nas culturas originárias pelos quatro cantos do mundo.

Na tentativa de aproximar a poética da ciência e a lógica da mística, encontramos pistas para acolher o universo em nossas mãos. Ainda que nossas palavras sejam pequenos vislumbres de um imenso oceano à nossa frente.

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