Jorge Leão
Professor de Filosofia do IFMA
O debate entre ciência, filosofia e religião
ganha força, à medida que novos cientistas, filósofos, artistas e líderes
religiosos vão quebrando as amarras sectárias em seus âmbitos de
restrições ideológicas.
Novos espaços de diálogo favorecem a ultrapassagem
de visões estreitas e dogmáticas sobre a dança do universo. Cada vez mais temos
motivos sinceros para crer numa sincronicidade cósmica, isto é, numa existência
que se interconecta a todo instante, sob a geração de múltiplos e diferenciados
modos de ser, pensar e atuar.
Por outro lado, muitos se perguntam se há de fato
um "propósito" intrínseco no universo, isto é, se tudo deve ocorrer
por uma necessidade ulterior. É de fato instigante uma questão como essa, pois,
de início, podemos pensar que se trata aqui de "determinismo
finalista", ou que haveria um deus prevendo e controlando todos os
acontecimentos por meio de uma vontade absoluta, antes mesmo que tudo pudesse
vir a ser.
Trata-se, como se observa, de um pensamento
que acarreta implicações filosóficas profundas, sendo mesmo propício e urgente
o debate em termos de uma possível ambivalência neste previsível "mapa
mental", anterior ao aparecimento das coisas, como no caso das explicações
religiosas.
Minha opinião é de que há um sentido maior em tudo,
sem que haja, por isso, uma negação da liberdade. Penso que há sim uma
razão de ser em tudo, pois nada é solto, sem nexo, o que acabaria nos levando a
dilemas intermináveis, como, por exemplo, a questão do mal.
Para ilustrar, lembro de Spinoza, filósofo que
para mim traz uma grande contribuição sobre esse assunto tão polêmico. Ele tem
uma leitura muito interessante para pensar sobre o impasse entre
liberdade e necessidade. Deus é, e está em tudo. Há, segundo ele, uma
causa sui em tudo, que interconecta todos os fenômenos do universo com uma
beleza geométrica. É o que se denomina de "monismo cósmico". O ser
humano não estaria subjugado a uma vontade anterior, mas por meio da razão, ele
compreende o mecanismo natural das coisas, fazendo-o um ser livre por
necessidade. Somos necessariamente livres. Essa é a questão fundante. Deus,
definitivamente, não joga dados com o mundo.
Há também autores como Teilhard de Chardin (padre
jesuíta francês, cientista e escritor no século XX), que tinha uma profunda
formação religiosa, e que apresenta uma proximidade fecunda com a ciência, o
que é deveras fascinante.
Vejo o Dalai Lama escrevendo sobre temas como
complexidade e diálogo ecumênico entre os povos, o que reforça mais esse
aspecto holístico no conhecimento. Como diz Carl Gustav Jung: "não
preciso crer em Deus, eu sei que há". Não se trata de confessionismo
sectarista (o que pode e tem acarretado mais separação do que re-ligação), mas
de uma gradativa consciência da unidade perdida, que está ainda presente nas
culturas originárias pelos quatro cantos do mundo.
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