Feito em tempo recorde (180 dias), num frenético movimento de caçambas e operários, o espigão, segundo a propaganda do governo, custou R$ 12 milhões, tem 572 metros e foi construído com blocos de rocha de até cinco toneladas.
Segundo o informe publicitário do Governo do Estado, a obra servirá para conter a erosão na Ponta d’Areia e evitar o assoreamento do canal de navegação.
Acrescenta ainda que o espigão “vai preservar o mangue”, como se no Palácio dos Leões tivesse alguém preocupado com o meio ambiente ou coisa parecida.
Ñão se questiona aqui a necessidade do espigão. Diversas reportagens de jornal e TV já mostraram o impacto das marés na Ponta d’Areia, destruindo bares na orla e ameaçando outras edificações.
A observação do blogue está relacionada à agilidade na construção de uma obra onde, coincidentemente, estão localizados os condomínios de luxo de São Luís.
Na chamada península da Ponta d’Areia, principal área beneficiada com o espigão, localizam-se os prédios de R$ 5 milhões.
É para estes moradores, principalmente, que o espigão foi construído. O resto é lorota para encher página de jornal e fazer propaganda de um governo que só administra e beneficia os interesses privados da elite.
Já se vão décadas de abandono em todo o Maranhão. Das mil pirotecnias midiáticas inventadas em todos os governos da oligarquia Sarney, o Maranhão já foi pólo de confecções (Kao-I de Rosário), paraíso da agricultura irrigada (Salangô de São Mateus) e até cenário de novela da Globo, porque aqui é terreno fértil demais para ficção.
Mas na vida real, São Luís e o Maranhão inteiro estão separados por muralhas rochosas como essa do espigão. Há um apartheid econômico concreto na ilha e no continente.
A capital vive cercada de favelas, bairros abandonados, conglomerados urbanos sem qualquer infra-estrutura ou saneamento. Para fugir dessa barbárie, a elite refugia-se em oásis privados como a península da Ponta d’Areia.
O governo Roseana, tão ágil para fazer o espigão de R$ 12 milhões, em 180 dias, não dá a mínima para a agricultura no estado onde quase 50% da população vive no campo.
A indústria da miséria e do abandono que desgraça nosso povo constrói mais muralhas para segregar. Enquanto o espigão avança sobre o mar da Ponta d’Areia, os moradores da periferia enfrentam buracos, lama e lixo para ir e vir todos os dias.
Na avenida principal do Jardim América, ligando os bairros Cidade Operária e Cidade Olímpica, onde não há uma escola do ensino médio, as imagens dizem tudo sobre o apartheid maranhense.