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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O SAMBA DO CRIOULO DOIDO E O ROCK DO BRANCO BIPOLAR


por Samuel Marinho *

Próximo ao Carnaval, estão por vir ao Brasil duas das maiores bandas de pop-rock cantado em inglês: Coldplay e The Cranberries.

Difícil é fazer uma conexão entre as duas coisas: o carnaval brasileiro e o britpop britânico e irlandês.

Mas o sábio Luiz Melodia um dia nos deu sem querer a resposta: “O carnaval, o carnaval, eu fico tão triste quando chega o carnaval (...)”.

Os irlandeses do The Cranberries, com carreira interrompida há alguns anos, escolheram então os tristes trópicos para retomar o fio condutor perdido há quase uma década, desde o álbum
Wake Up and Smell the Coffee (2001).

Provavelmente estará no set list dos shows que ocorrerão no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre no final de janeiro e início de fevereiro, sucessos que embalaram o mundo desde o início da década de noventa como “Dreams”, “Linger”, “Ode to my family”, “When you´re Gone”, “Zoombie”, “Free to Decide”, “Animal Instinct”, dentre outras canções autorais na voz inconfundível de Dolores O´Riordan.

Por outro lado, o Coldpaly, tida como a banda de rock mais bem sucedida da atualidade, e também a mais acusada de plágio de todos os tempos, deve reproduzir sua extensa lista de baladas para inverno que já invadiram e confundiram o imaginário coletivo: “The Scientist”, “Clocks”, “Viva la vida”, “Trouble”, ‘Yellow “ e “In my place”, só pra citar algumas.

O público terá a oportunidade de ver em plena Praça da Apoteose no Rio de Janeiro no dia 28 de fevereiro e no estádio do Morumbi em São Paulo no dia 3 de março como o Coldplay pegou a faceta mais pop do Radiohead e conseguiu radicalizá-la com êxito.

Vale ressaltar que, sob o aspecto artístico, o som de Thom Yorke e companhia é muito mais convidativo e perturbador e o Radiohead é referência assumida do Coldplay.

Entretanto, pela força da dialética é uma obrigação reconhecer o poder de comoção das baladas públicas do Coldplay, algo lamentavelmente perdido pelo Radiohead nos discos da fase pós OK Computer.

Como disse Renato Russo, seguramente nosso elo mais forte com a temática e forma conturbadas desse britpop britânico-irlandês, próximo ao lançamento do sugestivo “O descobrimento do brasil” em 1993: “Que se dane o país do Futebol e do Carnaval!”

Era a resposta do vocalista da Legião quando foi questionado sobre as datas daquela que seria a última turnê da banda, a começar em pleno carnaval e se estender até a Copa de 94.

Pra usar um bardo poético dos novos britânicos que hão de passear na garoa de sampa e apresentar em terras tupiniquins seu rock do branco bipolar: Viva la vida!

E tenham todos uma ótima quarta-feira de cinzas.


* Samuel Marinho é colaborador deste blogue, contador e servidor público federal.

23 comentários:

Wsclay Oliveira disse...

Bom. Faltou lembrar dos show das duas mais bem sucedidas bandas bandas de Heavy Metal e de Hard Rock das últimas duas décadas. O Guns n Roses, que se apresenta em Março e o Mettalica, que toca no fim de Janeiro, ambas no Brasil e que com certeza colocarão dez vezes mais público em seus shows que as duas citadas no texto.

Bandas, cada uma, com vendagem de discos superior a 100 milhões de cópias. Pela analogia feita ao carnaval, lembro até do episódio ocorrido no Rock n' Rio III, em 2001, quando Carlinhos Brown tocou na mesma noite do Guns e foi alvo da maior chuva de copos com cerveja e urina que a américa do sul já viu. Neste mesmo show, alguém teve a brilhante idéia de por a bateria do salgueiro para entrar no palco no fim do show do Guns e atravessar uma passarela no meio do público. Novamente chuva de copos de cerveja e urina, o que fez Axl Rose entrar às pressas no palco e executar Nightrain para tirar as atenções do público dos pobres sambistas.

Ed Wilson Ferreira Araújo disse...

Wsclay,
Esse episódio do Rock n'Rio 3 seria uma demonstração de que definitivamente carnaval não combina com rock?

Ed Wilson

Anônimo disse...

"Cerveja e urina nos sambistas"...
"que se dane o país do futebol e do carnaval"....

Isso é coisa de mentalidade colonizada, de quem já tem o espírito dominado pela indústria do pop, do enlatado, do lixo, do rock and rool made in USA !!!

É muita cretinice chamar esse lixo de música !!!!

"Venderam milhões de cópias" !!! Viva a MTV !!! VIva os oligopólios da megaindústria cultural !!! Viva o pop e a homogeneidade das massas acéfalas !!!!

Cultura boa é cultura dita em inglês!! Eu quero ir para os EUA !!! Quero meu Green Card !!!

O observador!!!

Samuel Marinho disse...

Para o observador:
"Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurraram com os enlatados dos USA de 9 às 6. Desde pequenos nós comemos lixo comercial e industrial, mas agora chegou nossa vez: vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês."

Não era pra eu citar algo tão óbivo que um brasileiro, ao encarnar o espírito questionador de longe dos trópicos, sorveu toda intenção de um estilo musical que um dia pretendeu mudar o mundo. Mas enfim todos nós sabemos que o rock errou e tudo isso é coisa do século passado. Sempre em frente. Não temos tempo a perder...

Samuel Marinho disse...

Wsclay e Ed

O texto se ateu mais ao britpop britânico por ser um estilo de música muito pausado e um tanto melancólico.

Aliás é a melancolia que une o samba e essa expressão mais melódica do rock. Nesse contexto não caberia mesmo falar de Guns e Mettalica, bandas que eu venero... fico realmente devendo...

Ed acho que as duas coisas podem se unir sim..

Pra quem duvida dessa mistura inusitada, temos os Los Hermanos para provar que é possível fundir em um resultado artístico impressionante ROCK E CARNAVAL... Esse um dos nossos proximos temas... grande abço a todos

VIVA LA VIDA E NAO DEIXEM O SAMBA MORRER...

Wsclay disse...

Boa pergunta Ed Wilson. No caso do episódio do Rock n Rio III, os presentes interpretaram aquilo com uma afronta,já que para quem curte Rock n Roll Clássico, argumentos bastante parecidos com os utilizados no comentário do observador, são usados para justificar o sucesso de bandas de pagode, sertanejo, etc.

Resumindo. Nãoimporta de que lado está, a intolerância será sempre intolerância.

Anônimo disse...

O problema da 'Legião' é que eles 'cuspiram' o lixo em cima da gente e não dos norte americanos !!! Se fossem cuspir seus lixos nos EUA eu até agradeceria !!!

O rock não tem erros...Ele é feito assim mesmo, pobre, pausterizado, cópia da cópia, no máximo com três acordes... A questão não é de 'erro' é de música mesmo !!!

Que tel falar de música mesmo ??? Vamos dixar o pop de lado, vamos aumentar o número de acordes nessas sonoridades!!!

Não sei por que sempre acho que esse negócio de rock é prá quem se recusa a crescer... Sair da adolescência !!! Legião Urbana, Metálica ... Sei não... É tão esquisito!!!

Mas não se zangue, é apenas umas observações.

O Observador

ED WILSON disse...

OBSERVADOR,
POR GENTILEZA, IDENTIFIQUE-SE.
EXPONHA SUAS IDÉIAS COM A MESMA CLAREZA QUE SEU NOME.
ED WILSON

Anônimo disse...

Desculpa Ed... Não vou me identificar para não causar constrangimentos... Afinal sou mais ortodoxo em termos de música do que de política !!!!

Não quero que uma coisa interfira na outra.

Prometo não falar mais dese assunto.

Quem sabe um dia ....

ED WILSON disse...

OBSERVADOR,
UMA PENA.
ED

Samuel Marinho disse...

O observador, eu te garanto Ed, deve ser um aluno de Sociologia que largou o curso lá pelo primeiro período... Talvez tenha até feito doutorado... não sei... Mas isso não nos interessa porque percepção de vida não se ganha mesmo na academia...

Essa história tão clichê de achar que o rock é coisa de americano blá blá blá... que isso é coisa de colonizado parece assim um discurso tão primário de gente que se acha “cabeça”.

Sem preconceitos, escuto rock escuto bossa nova, escuto música clássica, assim como sou apaixonado pela cultura popular... A música me interessa enquanto fenômeno de expressão cultural, e nesse contexto o RocK é uma linguagem universal fascinante. Os textos que aqui são postados são apenas uma parcela do universo daquilo que escuto. São textos, longe de críticos, mais perto de crônicos, que se propõe a reflexão em cima do fenômeno musical pop, acontecimento tão forte e intenso que, enquanto cidadão do mundo, não posso ignorar.

São três pobres acordes, mas sim, vai vender 30 milhões de cópias como a Legião com apenas três acordes... É um fenômeno de comunicação!!! Vai invadir a vida, a emoção das pessoas, transformar o que quer que seja nelas com apenas três acordes como fizeram os Beatles... Isso é fascinante, não podemos negar...

E isso não é menos nem mais sofisticado que as dissonâncias de Tom Jobim.

Concordo com o Wsclay: é uma questão de tolerância.

Não deixem o samba morrer e VIVA LA VIDA.

Unknown disse...

Samuel estou indo para o Rio de Janeiro, vou ver o desfile da Beija-Flor
A Beija-Flor vai falar da História de Brasília e estão dizendo que vai ter uma ala inteira em homenagem ao Renato Russo.

Começo a desconfiar que rock e carnaval tem tudo a ver... rsrsrsrsr

Seu texto acaba sendo profético, e muito bom por sinal desde o título. Ainda me deve o Lenine...

Abçao querido...

ed wilson disse...

olá todos,
quando vou preencher algum formulário em que perguntam qual a minha cor, gostaria que tivesse a opção "mestiço". digo isso porque não sou branco, nem negro, nem amarelo. sou uma mistura.
esse princípio vale para a música: saber respeitar as especificidades e as misturas.
por isso acho que o rock, assim como o jazz e o blues e o samba podem conviver tranquilos e se misturando quando necessário.
não creio que gostar de rock seja algo "imperialista".
Agora vou de Paulino da Viola. Vejam aí o "argumento" dele:

"Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim

Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado de quem não quer navegar
Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Pega o barco devagar.

Wsclay disse...

Olá mais uma vez observador. Falar que o rock é um ritmo de três acordes é, no mínimo, desconhecê-lo em todas as suas nuances e vertentes.
O Rock feito pelo Legião Urbana é, sim, um rock de três acordes, por ser altamente influenciado pelo Punk e pelos Beatles, o que não o deixa menos genial, já que o grande diferencial dos meninos de Brasília está nas letras que casaram-se perfeitamente com o momento que o Brasil passava no fim dos anos 80 e no início dos 90.

Só que o Rock não é só isso. O Heavy Metal, por exemplo, é extremamente influenciado pela música clássica, com seus vocais líricos, sua complexidade musical, suas camadas de solos, arranjos e notas. Quem fala o que você falou nunca ouviu Iron Maiden ou Manowar.

E por aí temos o Rock Progressivo com o genial Pink Floyd, que elevou a música a um status diferente na concepção artística, o Hard Rock do Guns n Roses, com os solos lindíssimos de Slash e as letras de Axl Rose, que falam de uma juventude vivendo no fio da navalha.

Além disso alguns dos maiores instrumentistas do planeta estão no Rock n Roll, como Malmsteen, Steve Vay, Joe Satriane e Ritchie Blackmore. Além disso, o que falar da parceria entre o Scorpions e a orquestra sinfônica de Hanover? que resultou numa das mais belas obras musicais que pude testemunhar.

Anônimo disse...

O problema é que não dá para comparar o MASSACRE do pop - expressão legítima da indústria cultural - com qualquer outro gênero da música mundial !!! Esse é o problema: os meios de divulgação, propaganda e difusão são completamente incomparáveis.

O que faz, portanto, o pop ser universal não é sua qualidade etc., mas sim os poderosos meios de divulgação em massa. Não é uma casualidade o rock ser norte americano, ou vc acha que é ???

A crítica não é ao sentimento das pessoas, mas a absolutização da indústria cultural que impõe sua subjetividade de massas.

Valeu Ed. Essa do Paulinho diz tudo!

O observador.

Anônimo disse...

Me desculpe companheiro Wasclay mas se o rock aumentar muito o nº de seus acordes ele vira outra coisa e deixa de ser "o velho e bom rock in rool"!

Me desculpe mais uma vez mas o Heavy Metal não tem nem um parentesco, mesmo de longe, com a música clássica. O fato de tocarem juntos não significa parentesco musical.

Quanto aos "grandes instrumentistas" serem do rock... Só se for contratação pelas grandes gravadoras para participarem de algum disco desses astros pops, porque no que diz respeito aos grandes intrumentistas eles estão longe do pop rock.

O nosso julgamento estético é influenciado pelo que escutamos e aprendemos. Como não aprendemos música no colégio, é a cultura popular ou os meios de comunicação que formam nossos juízos de gosto. Portanto, o fato do mundo gostar de rock é porque existe uma indústria que nos oferece isso. É como a coca-cola, o jeans, os carros, o american of life, o rock ...

O Observador.

Samuel Marinho disse...

Muito boa a observação do Wsclay, acrescentaria só os britânicos do Radiohead que pra mim são insuperáveis na genialidade de transmutação do rocnkroll contemporâneo. Não há paralelos para eles: são uma evolução do rock progressivo com junção de música clássica e a inserção mais fiel e bem acabada de elementos eletrônicos.

Muito bem lembrado o trabalho do Scorpions com a orquestra sinfônica de Hanover: emocionante!!!

Quanto ao discurso pueril do observador, Caetano Veloso no auge do anti-americanismo da fase Bush II, fez questão de gravar um disco só com canções norte-americanas, como que lembrando a todos nós que a música, a arte, está acima de qualquer coisa. Ele não se esqueceu de incluir na lista de músicas o clássico "Smeels Like teen spirit" do Nirvana. Bate-estaca de primeira.

Como falou o Ed Wilson, mulatos, crioulos, brancos, mestiços: a música nos une.

Wsclay disse...

Olá mais uma vez caro Observador. Suas palavras só confirmam o quanto você está por fora quando o assunto é Rock n Roll. Não conhece nenhum dos instrumentistas que citei e mesmo assim emite uma opinião preconceituosa sobre eles. Não deve saber que o tecladista do Dream Theather é considerado, pela sua técnica,pelo seu ouvido apurado e pelo dom da afinação absoluta, um novo Beethoven, mas mesmo assim insiste na sua tese.


Para seu conhecimento, o Heavy Metal e o Hard Rock há quase duas décadas foram banidos da MTV,que hoje só toca rap, Emo e Indie Rock.

Veículos de comunicação como a Rede Globo também tem uma linha editorial que exclue essas vertentes do Rock, que sobrevivem no chamado circuito underground, formado por pessoas que não seguem tendências nem modismos, mas realmente curtem Rock n Roll de boa qualidade.

Quando se fala do que não se conhece o resultado é esse. Um texto que dá vontade de rir por que não tem absolutamente nada haver com a realidade.

ed wilson disse...

Wsclay,
Desculpa a demora na postagem do teu comentário recente. Estava viajando e só hoje retornei à normalidade.
O debate está bom.
Ed Wilson

Anônimo disse...

Wsclay, estava querendo elevar o nível do debate, mas depois dessas comparações entre Heavy Rock e Hard Metal ou rap Rock e Indie Emo, ou seja lá como for, (para mim tudo isso é POP LIXO) com a música clássica e ainda dizer que um "tecladista é um "novo Beethoven"!!!Por favor!!! Um "tecladista"!!!??? É muita barbaridade !!! Onde chegamos???

Que espécie de formação musical as pessoas tem hoje ??? Ter como prâmetro de qualidade o que toca ou não toca na MTV ????

Mas encerro mesmo com essa do "tecladista sendo um novo Beethoven" !!! Com essa eu não tenho como competir !!!

Desisto, vc venceu !!!

O Observador.

Wsclay disse...

Caro Observador. Não sei em que nível você pretende "elevar" esse debate, já que você simplesmente fala do que desconhece por puro preconceito, além de distorcer as minhas palavras, já que em nenhum momento comparei Heavy Metal e Hard Rock com Rap, Índie ou Emo, até por que essa comparação para mim seria um sacrilégio.

Em nenhum momento pus o que toca na MTV como parâmetro para qualidade, o que disse foi que o Heavy/Hard, ao contrário do que vc imagina, não toca há 20 anos na MTV e mesmo assim continua firme e forte na cultura Underground.

Ah. Sobre o Jordan Rudess, que você esnobou, segue um vídeo básico dele no Youtube para quem quiser dar uma olhadinha na genialidade e na versatilidade deste que é considerado o maior nome do piano/teclado a atualidade. P.S. Sei que o Observador não vai olhar, já que a opinião dele parece ser mais importante que a realidade em si.

http://www.youtube.com/watch?v=xgZhiYff7nM

Para o Ed: Está desculpado meu amigo. Não deixe de ver a performance do rapaz e dar a sua opinião.

Wsclay disse...

Ah! E o fato de ele ser tecladista não significa que ele não tenha formação em piano clássico pela prestigiosa Juiliard School of Music e que todo menino que estude teclado em qualquer escola de música ao redor do mundo não tenha como ícone.

Samuel Marinho disse...

Figuras como Jordan Rudess me fazem acreditar que tudo no mundo é possível com muita tolerância e bom senso. O clássico a serviço do pop. O pop a serviço do clássico. Digamos assim: um pop clássico.
Não entendo as vezes porque dizem que os Beatles são o "clássico" do rock. Eles não seriam pop? Eu não estou entendendo mais nada.....rs

"
Music makes the people come together
Music mix the bourgeoisie and the rebel
"
Madonna