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quarta-feira, 5 de março de 2014

BALAIOS E BARRICAS NO CARNAVAL DO MARANHÃO

Ed Wilson Araújo 
De Porto Alegre *

Durante o processo de cassação do ex-governador Jackson Lago (PDT), a resistência ao golpe caracterizou-se como um revival da Balaiada, marcante rebelião popular na primeira metade do século XIX, no Maranhão.

Assim, pedetistas, petistas, socialistas e outras tribos passaram a se chamar “balaios”.

Os golpistas, símbolo da oligarquia Sarney, ficaram com o epíteto de “barricas”, alusivo ao Boi Barrica, companhia de teatro de rua formada por artistas do bairro da Madre Deus, sob a liderança do talentoso José Pereira Godão.

Detalhe importante! “Barrica” também serviu para denominar uma operação da Polícia Federal que saiu no encalço do empresário Fernando Sarney, homem dos negócios da família. A chamada “Operação Boi Barrica” da PF foi tão impactante que Fernando reagiu a ponto de apagá-la dos registros oficiais do Ministério da Justiça.

Derivada do Barrica, o Bicho Terra é outra bela manifestação cultural, também criada na Madre Deus.

Carnavalescos palacianos

Todos os buracos nas ruas e avenidas de São Luís (e são tantos!) sabem que o Boi Barrica e o Bicho Terra têm padrinhos no Palácio dos Leões e tiveram tratamento especial desde a gestão do ex-secretário estadual de Cultura Luis Bulcão.

Há tempos os barricas frequentam as festas privadas na corte de Roseana, cantam e dançam nas rodas de violão do soberano e beneficiam-se dos privilégios da política cultural do Governo do Estado.

Sem tirar o mérito, o talento e a criatividade dos seus criadores e brincantes (muitos deles pessoas comuns), as condições de produção do Boi Barrica e do Bicho Terra dão a eles vantagens, favores, trânsito entre os financiadores, facilidades dos agentes públicos e sobretudo a simpatia da família da governadora.

Na área Itaqui-Bacanga, na Camboa, Liberdade, na zona rural de São Luis e em dezenas de cidades do Maranhão existem usinas de artistas tão criativos quanto os da Madre Deus, mas não recebem os mesmos mimos.

O tratamento diferenciado entre os iguais é a questão central. O resto é máscara e perfumaria.

Política cultural

Nos sucessivos governos Roseana, as condições de produção do Barrica e do Terra são infinitamente superiores em relação às migalhas distribuídas ao resto das manifestações culturais do Maranhão inteiro.

Mas não é só isso. A inserção da oligarquia na vida cultural de São Luis foi uma diretriz pensada na primeira era (ou maldição!) Roseana Sarney (1995 – 2002), quando o governo tratou o Carnaval e o São João como questões estratégicas do ponto de vista da hegemonia política.

Foi nesse período que Roseana convocou Luis Bulcão e deu status especial à pasta da Cultura, centralizou o dinheiro e descentralizou os espaços, criando as praças nos bairros - os Viva(s) - e demarcou a Madre Deus e adjacências como principais territórios carnavalesco e junino da cidade.

Quem assistiu à reportagem cinematográfica “Maranhão 66”, de Glauber Rocha, sobre a posse do então governador de José Sarney, entenderá esses dois parágrafos aí acima como um desdobramento das cenas política e cultural no nosso estado.

Francisco Gonçalves e Bicho Terra

Pois bem, tudo isso foi dito para tecer algumas considerações sobre a polêmica em torno do tratamento dispensado ao Bicho Terra pela Fundação Municipal de Cultura (FUNC), presidida pelo professor e jornalista Francisco Gonçalves, reconhecido pela correção nos seus atos.

Entre as principais ações na FUNC, o presidente instituiu os editais como regra, visando quebrar os vícios do apadrinhamento e do clientelismo vigentes no serviço público, especialmente no Maranhão, onde o compadrio vale mais que o mérito.

Gonçalves foi patrulhado pelos balaios, porque o Bicho Terra apresentou-se na condição de convidado para a abertura do Carnaval, sem exigência de concorrer nos editais.

A crítica balaia argumenta que o folguedo preferido de Roseana Sarney, já tão badalado no governo, não deveria ser convidado de honra no terreiro do prefeito Edivaldo Holanda Junior (PTC), hoje na oposição à oligarquia.

Evangélico, o prefeito não participa de festas juninas ou carnavalescas.

Em nota (leia abaixo), o presidente da FUNC disse o seguinte: "a atual gestão não adota critérios ideológicos e/ou partidários para contratar artistas e grupos artísticos."

No Carnaval, festa profana, todo pecado é permitido. Convidado é convidado e concorrente de edital veste a regra.

Aqui, parece não ter sido seguido o provérbio “pau que bate em Chico também dá em Francisco.” Na crítica dos balaios, os barricas do Bicho Terra também teriam de concorrer nos editais.

Outros carnavais

O blogue não vê como o fim do mundo o desfile do Bicho Terra no terreiro da oposição à oligarquia.

Quando era governador, o líder da Balaiada, Jackson Lago (PDT), pagava religiosamente para ser achincalhado no blogue de Décio Sá, seu principal algoz no ciberespaço barrica do Sistema Mirante de José Sarney (PMDB).

Ao mesmo tempo em que despejava fortunas no Sistema Mirante, Lago mandou a sua própria Polícia Militar fechar a rádio Timbira AM, controlada pelo Governo do Estado, porque o radialista aliado, Gilberto Lima, reclamava da falta de apoio à emissora balaia.

O prefeito de Barreirinhas, Léo Costa, pedetista histórico, a dita cara da Balaiada, é agora o maior correligionário da governadora Roseana Sarney (PMDB).

Conhecidas famílias tradicionais do Maranhão, agindo em benefício próprio, para atender aos seus interesses financeiros, oscilam entre balaias e barricas, momescamente.

Doido é quem se mata por elas!

Mascarados

Esse suposto maniqueísmo parece sempre acabar na quarta-feira de cinzas eleitoral, quando balaios e barricas deixam cair as máscaras e assumem outras personas.

Nas festas do Pergentino Holanda (PH) estão juntos e misturados, dividindo o dinheiro, compartilhando os favores e negociando os privilégios, na maioria das vezes contra o interesse público.

Não é o caso de Francisco Gonçalves, que vem fazendo um bom trabalho à frente da FUNC e se distingue na conduta da maioria. Afinal, uma falha no desfile não tira o brilho do Carnaval.

Formado na tradição dialética e conhecedor de estratégia, Gonçalves sabe que não se faz balaiada sem levantar barricadas.

VEJA A NOTA ASSINADA PELO PRESIDENTE DA FUNC

“Sobre a apresentação de grupos artísticos na abertura e encerramento do Carnaval de Passarela, a Fundação Municipal de Cultura (FUNC) vem a público informar:

1) da programação de abertura participaram o Bicho Terra e a Máquina de Descascar Alho, o primeiro como convidado e o segundo como classificado em edital;

2) os artistas e grupos artísticos participam da programação, selecionados através de edital e ainda por convite, a critério da administração e desde que os convidados tenham amplo reconhecimento público;

3) assim, o resultado dos editais está sendo rigorosamente cumprido;

4) a atual gestão não adota critérios ideológicos e/ou partidários para contratar artistas e grupos artísticos;

5) do encerramento do Carnaval de Passarela participarão, como convidados, os batalhões dos bois de Maracanã, Maioba e Pindoba, representantes do sotaque de Matraca da Ilha, para o espetáculo Trupiada, quando os personagens do São João receberão a chave da cidade das mãos do Rei Momo.”

São Luís, 28 de fevereiro de 2014

Francisco Gonçalves da Conceição
Presidente


* Ed Wilson Araújo escreve de Porto Alegre, onde está morando pelos próximos nove meses, cursando doutorado em Comunicação na PUCRS.

Um comentário:

Anônimo disse...

Barrica e Bicho Terra pertencem a Família Sarney, Godão é apenas marionete!! Isso tá na cara, só cego não quer ver.