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sábado, 8 de março de 2014

UNIVERSIDADE E POLÍTICA NO MARANHÃO: DIÁLOGOS IM(POSSÍVEIS)

Este blogue publicou AQUI o estudo de urbanismo sobre o aterro do Bacanga, de autoria da professora doutora Bárbara Prado, do curso de Arquitetura da UEMA.

Trata-se de uma proposta fundamental para mudar a paisagem de uma área estratégica da cidade.

Do naipe da professora Prado, vários pesquisadores da UEMA, UFMA, IFMA e de outras instituições de ensino desenvolvem projetos de interesse coletivo, voltados para o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade.

Dificilmente a chamada “classe” política dá importância à pesquisa.

Políticos pragmáticos detestam os chamados intelectuais. Para aqueles, estes vivem no mundo imaginário e não entendem a dinâmica do poder.

OUTROS INTERESSES

É mais fácil o Palácio dos Leões comprar uma bancada de deputados ou o prefeito cooptar uma penca de vereadores do que ouvirem algum pesquisador sobre um projeto importante para São Luis ou as outras cidades do Maranhão.

Os pesquisadores geralmente viram múmias de laboratórios sem que os governos estadual e municipais lhes dêem atenção.

Não há diálogo entre o mundo acadêmico e os operadores da política. Estes, preferem tratar direto com os empreiteiros que financiam as campanhas, dando-lhes retorno pelo investimento eleitoral.

Um empreiteiro vale mais que todos os professores de Arquitetura da UEMA, juntos! E os projetos dos arquitetos para mudar as cidades são desprezados.

PLANOS E CANDIDATOS PARA 2014

As nossas instituições de ensino superior estão cheias de bons recursos humanos e pesquisas em curso, mas é praticamente zero o esforço dos candidatos para dialogar com a Universidade e o Instituto Federal (ex-CEFET), visando subsidiar a elaboração de planos de governo.

Primeiro costuram-se os acordos, as coligações, o financiamento das campanhas e, por último, o plano de governo. Terminada a eleição, dividem-se os cargos entre os financiadores e apoiadores. E o Maranhão segue igual. Ou pior. Tem sido assim desde antes de Vitorino Freire, quando nem havia Universidade.

A eleição de governador é em outubro, daqui a sete meses. Até agora, pouco ou nada se ouviu falar sobre plano de governo.

De Roseana Sarney não se espera nada, a não ser mentira na televisão. Dos outros candidatos, especialmente de Flavio Dino (PCdoB), que promete mudar o Maranhão, já deveria ter havido alguma movimentação junto à UFMA, UEMA e Instituto Federal no sentido de mapear as ideias, projetos e pesquisas visando incorporá-los no plano de governo.

A suposta pré-candidata Eliziane Gama (PPS) chegou a tirar uma foto com o reitor da UFMA, Natalino Salgado Filho, dizendo que estava à procura de subsídios para uma plataforma eleitoral.

Os partidos radicais PSOL e PSTU, mais próximos da academia, já começaram a se posicionar. Veja AQUI a entrevista de Saulo Arcangeli.

PRODUTOS ELEITORAIS

A Universidade, até agora, só teve visibilidade na política porque pariu dois ex-reitores da UEMA para o parlamento: o deputado estadual Cesar Pires (PMDB) e o federal Waldir Maranhão (PP).

Não há notícia de que eles tenham se empenhado para melhorar a realidade maranhense. O primeiro é serviçal da oligarquia. O segundo, humilhado por Sarney, veio refugiar-se na oposição liderada por Flavio Dino (PCdoB).

O que estas duas criaturas construíram para o desenvolvimento do Maranhão?

Não há nada de errado no ex-reitor ser deputado ou governador. No Distrito Federal, o ex-reitor da UNB, Cristóvão Buarque (PDT), é uma figura política notável.

Infelizmente, não se pode dizer o mesmo dos ex-reitores da UEMA.

MUDANÇA PRA VALER

Nos outros estados brasileiros, das regiões Norte e Nordeste inclusive, a “classe” política conseguiu avançar nos indicadores sociais, abrindo o diálogo com as instituições de pesquisa.

O atraso no Maranhão é fruto de uma concepção grotesca da política, ainda pautada na figura do soberano e dos vassalos, que impede a ciência e a tecnologia de iluminar a existência das pessoas.

Basta observar que metade da nossa população sequer domina a tecnologia arcaica da escrita e da leitura.
Indignação maior é saber que não temos sequer água encanada e coleta de esgoto para a maioria dos maranhenses, em pleno século XXI.

Mas, essa realidade não é apenas fruto da má gestão.

As raízes mais profundas do nosso atraso estão na cultura política medieval entranhada na corrupção, no desvio do dinheiro público e nos esquemas de favorecimento aos esquemas viciados.

MAIS LIBERALISMO

Para mudar o Maranhão é necessário um choque de gestão, estendendo-se a uma radicalização nos processos produtivos, invertendo a lógica de administração dos nossos gestores municipais.

O prefeito que se olha no espelho e enxerga um oligarca paroquial deve ser convidado a se retirar do processo civilizatório.

A principal mudança no Maranhão será efetivada com a ruptura do modo medieval de governar, que alimenta os parasitas com os velhos esquemas da corrupção e condena a maioria da nossa população à paralisia econômica, colocando como única opção a um jovem de 18 anos a compra de uma motocicleta para ser motoboy.

O veneno do liberalismo precisa destruir a erva daninha parasita na maioria das prefeituras do Maranhão, onde predomina o clientelismo e a corrupção.

Para isso, é fundamental que o governo imponha uma nova dinâmica na gestão pública, incorporando a Universidade no processo de discussão e aplicação dos arranjos produtivos capazes de promover o desenvolvimento com sustentabilidade.

As agências de fomento, os pesquisadores, a iniciativa privada, os movimentos sociais e o governo precisam fazer um pacto para a elaboração de um plano diretor para o desenvolvimento do Maranhão.

Sem ciência e tecnologia, seremos a imagem do abandono, como o aterro do Bacanga, inóspito e só modificado nas folhas de papel da arquiteta Débora Prado.


Os candidatos e o futuro governo precisam dialogar com a Universidade e o Instituto Federal, tornando o conhecimento um aliado fundamental para tirar o Maranhão da barbárie.

3 comentários:

Unknown disse...

Meu caro Ed Wilson, primeiramente quero parabeniza-lo por esse artigo extraordinário. Tudo o que foi relatado é a mais pura realidade. Nunca soube de projetos políticos que andassem colacionados a projetos científicos produzidos arduamente por nós cientistas, de qualquer que seja a área. Enquanto perdurar esse sistema político do clientelismo; enquanto o Poder Legislativo (estadual ou municipal) for uma mera chancelaria do Executivo com a função exclusiva de receber propinas para votar em projeto A ou B ou para aprovar prestação de contas dos gestores; Enquanto não houver a priorização do diálogo com a Universidade em vez do toma la da cá com empresas financiadoras de campanha; Enquanto não surgir uma nova categoria de políticos que não queiram ser meros políticos profissionais. não teremos desenvolvimento. Abraço.

Carlos Lula disse...

Parabéns pelo texto, meu caro Ed Wilson. Me ressinto também de um projeto de urbanização para a cidade e para o estado. Mas discordo parcialmente do texto. Não é só a política maranhense que abomina a universidade, acho que a universidade abomina ainda mais o universo político. Nossos pesquisadores se fecham em seus mundos e pronto.
Enquanto não entenderem que as ideias feitas na universidade também devem duelar por espaço institucional, nosso quadro não mudará. Ficarão política e universidade, uma a esperar a outra.
É uma postura de arrogância da universidade, que sempre se achou o caminho, a verdade e a vida... Se nossos pensadores não ocuparem os espaços da política, meu amigo, os maus os ocuparão, ou melhor, continuarão a ocupar. Eles já estão lá. E será sempre mais simples reclamar que fazer algo de efetivo...

Anônimo disse...

O que você tem feito para mudar este cenário ? Você faz parte de algum grupo de estudo ou trabalho ?