Compartilhe

quinta-feira, 6 de março de 2014

ATERRO DO BACANGA: A URBANIZAÇÃO E OS POTENCIAIS DE SÃO LUIS

Ilustrações desenvolvidas no estudo mapeiam áreas de utilização do aterro
Imagine uma noite de lua cheia, apreciada em passeio de barco, regado a champanhe e violão, margeando São Luis. Mentalize pessoas fazendo exercícios físicos em um amplo parque esportivo. Visualize uma grande arena para shows. Viaje na ideia de uma universidade municipal voltada para estudos insulares. Pense em um terminal integrado de transporte terrestre e aquático.

Tudo isso é possível realizar bem no centro de São Luís, no Aterro do Bacanga, uma área abandonada com grandes potencialidades para a economia, mobilidade urbana, cultura, ciência e tecnologia.

As possibilidades de aproveitamento do aterro foram sistematizadas no estudo de urbanismo da margem esquerda do rio Bacanga, de autoria da doutora em Urbanismo pela UFRJ e professora do curso de Arquitetura da UEMA, Barbara Prado.
Mudanças na paisagem da cidade podem dar novo visual à área abandonada
Interessada nos estudos insulares, Barbara Prado projetou no aterro um conjunto de equipamentos capazes de transformar a paisagem de abandono da área em utilidade e beleza.

Graduada em Arquitetura, Prado é doutora em Urbanismo (UFRJ, 2011), mestre em Desenvolvimento Urbano e tem especialização em Arquitetura Paisagística, no qual desenvolveu o estudo sobre a margem do rio Bacanga e o aterro.

O estudo de urbanismo prevê pelo menos quatro dimensões, a seguir:

Contenção de sedimentos:
Professora doutora Bárbara Prado destaca os potenciais da margem esquerda do Bacanga
Para começar a transformar a paisagem da margem esquerda do rio Bacanga, a primeira medida seria a construção de uma orla contornando toda a borda do aterro, evitando o depósito de sedimentos no canal.
A orla já serviria, também, como pista de caminhada, ciclovia e via exclusiva para cadeirantes.

Além disso, a contenção de sedimentos do aterro do Bacanga é fundamental para evitar o assoreamento de uma área estratégica para a economia do Maranhão – o Porto do Itaqui.

Com a pista na borda do aterro, evita-se o depósito de sedimentos que podem atrapalhar a navegabilidade. A pista facilitaria ainda o atracamento das embarcações de pescadores e passageiros.
Diagrama detalha o plano diretor do aterro do Bacanga
Transporte modal

Criação de um sistema de transporte modal, integrando os barcos, ônibus, bicicletas em ciclovias, vans, táxi e VLT.

A integração dos transportes facilitaria o fluxo de pessoas por dentro do aterro, otimizando a mobilidade urbana.

Turismo e Lazer

A orla na margem do aterro estimularia a prática da navegação turística, com passeios de contemplação, gastronomia e música pelo rio, apreciando o centro histórico de São Luís.

Além dos passeios de barco, o projeto da professora Barbara Prado cria uma arena para shows, aproveitando a estrutura do Papódromo, que atualmente só serve para usuários de drogas.

A professora critica a utilização da Lagoa da Jansen para a realização de shows, visto que é uma área de preservação ambiental e o constante uso de música alta, poluição e excesso de gente afasta as aves que habitavam a lagoa.

O aterro urbanizado seria o lugar ideal para shows, porque está distante das moradias, pode congregar os transportes público e disponibilizar grandes áreas para estacionamento.

Na parte de lazer podem ser implantados vários parques e academias, atendendo pessoas com deficiência e idosos.

Ciência e Tecnologia

O estudo da professora Barbara Prado prevê ainda a implantação de uma universidade focada em cursos de ciências insulares, como Bilogia, Hidrologia etc

Na visão da professora, uma universidade com cursos nestas áreas serviria também para o estímulo ao turismo de interesse científico, visto que a cidade já agrega o valor de patrimônio histórico.

Economia

Melhoria significativa nas instalações do Mercado de Peixe, tornando-o mais higiênico e dotado de uma feira permanente, inclusive à noite, potencializada pelo sistema de transporte integrado que facilitaria o fluxo de pessoas.

O aterro é viável para múltiplas atividades, modificando a infra-estrutura, os serviços, o tratamento de esgoto, banheiros públicos e a melhoria dos espaços para as feiras livres, já tradicionais em vários bairros da cidade.

Estética

A professora Barbara Prado vê, ainda, a dimensão estética na organização da margem esquerda do rio Bacanga. Ela concebe a paisagem como algo que vai além da obviedade da visão. “Meu entendimento de paisagem é sensual, eu sinto, cheiro, toco, eu sou parte dela. Não é só o que a vista alcança. Paisagem é uma coisa muito complexa na qual estamos inseridos e temos de olhar com distanciamento. Olhar no sentido não da visão, mas da percepção com distanciamento. Então é um conjunto”, explica.

O estudo de Prado prevê ganho estético com o paisagismo do aterro e modificação da cidade em uma área estratégica para a geração de empregos, dinamização da economia, ganhos com mobilidade, higienização dos ambientes onde se comercializam alimentos e controle social sobre a organização e utilização dos vários espaços integrados na margem esquerda do rio Bacanga.

“Minha proposição é um plano diretor que guiaria uma transformação para o aterro”, detalha. Apesar da importância do estudo, o projeto nunca foi apresentado ao poder público. Ela até que tentou, mas não conseguiu.

Se a governadora Roseana Sarney (PMDB) e o prefeito Edivaldo Holanda Junior (PTC) quisessem dar as mãos para fazer uma grande obra por São Luís, o projeto está pronto. Só falta vontade política. 

Veja abaixo a síntese do trabalho científico da professora Barbara Prado:

PLANO PAISAGÍSTICO NO RIO BACANGA: resgate das relações espaciais entre a cidade e o rio.

Autora: Barbara Irene Wasinski Prado

Trabalho de conclusão do Programa de Capacitação de Professores de Arquitetura Paisagística apresentado à Fundação para Pesquisa Ambiental (Fupam) como parte dos requisitos para obtenção do título de especialista em Arquitetura Paisagística (USP)

Resumo

Apresenta-se neste estudo um plano paisagístico para o, assim chamado “aterro do Bacanga”. Trata-se de uma proposta com diretrizes gerais para a constituição de um “lugar” urbano sobre um solo criado a partir de aterros sucessivos produzidos na margem esquerda do Rio Bacanga, próximo a sua foz, na Ilha de São Luis do Maranhão. Para a formulação desse plano, objetivo geral deste estudo realizou-se um inventário da ambiência urbana, reconstituindo histórica e morfologicamente a formação desse suporte biofísico, localizado ao longo do Centro Histórico de São Luis - CHSL. Por estar situado junto a uma área tombada (tombamentos Federal, Estadual e Municipal) e titulado como Cidade Patrimônio da Humanidade, enquadra-se em todas as caracterizações relacionadas no Plano de Preservação de Sítio Histórico Urbano. Está em área protegida, é área de entorno e é área de influência do CHSL. Buscou-se identificar as transformações morfológicas, as potencialidades e as adversidades. O diagnóstico Paisagístico/ Ambiental teve por base a análise morfológica da paisagem, o que permitiu a verificação das possibilidades de integração física e social do Aterro com o Centro Histórico. Atualmente estas duas áreas são recortadas pela Avenida Vitorino Freire, via esta, que é um elemento estruturante da malha viária da cidade e também um elemento de ruptura da continuidade sócio-espacial, um dos principais fatores de impedimento da integração atual entre o CHSL e o Rio. A proposta do plano paisagístico da margem esquerda do Rio Bacanga visou não apenas a formulação de um lugar, mas do resgate da ligação rio/cidade, uma integração entre a paisagem contemporânea e a paisagem “colonial”. A abrangência do estudo compreendeu uma pequena parte da bacia deste rio e teve como base cartográfica, mapas e fotos aéreas, além de dados bibliográficos e resultados de levantamentos e pesquisas de campo, relacionadas aos estudos das transformações morfológicas da paisagem da Ilha de São Luis.

6 comentários:

Pablo Habibe disse...

Espero que o projeto vá adiante e se espalhe pelo resto da cidade.

Um local que deveria ser repensado neste mesmo sentido é a praça Maria Aragão. Trata-se, muito provavelmente, do sitio urbano mais inóspito de São Luís.

manoeldacruzevangelista@hotmail.com disse...

Quando foi feito o aterro, tudo isto constava do projeto, mas o dinheiro não deu.
Agora existe grandes possibilidades
e basta boa vontade e inteligência de povo e estado.

Alexandre Oliveira disse...

Como obter uma cópia deste projeto? Na primeira leitura encontrei algumas omissões e gostaria de me inteirar mais para poder opinar com base.

FRANCISCO ARAUJO disse...

Caro Ed,
pertinente postagem. É bastante relevante e atraente o projeto da professora. Mas, há uma total e incontornável falta de vontade política, de sensibilidade e capacidade de gestão da coisa pública por parte desses senhores no poder.
Quero também deixar uma pequena sugestão... busque ver o projeto original, o da época do Cafeteira, pois é importante publicizar o que não foi feito.O aterro foi das diversas promessas-mentiras de grandes obras.

Anônimo disse...

caramba, que projeto legal! iria revitalizar toda aquela área, deixar são luís mais bonita...ótimo projeto.

LUZIA VERA disse...

Companheiro Ed só você para nos presentear com tão esperada e bela entrevista!! Obrigada meu amigo! Estou muito feliz com esse começo.