O artista plástico francês Marcel Duchamp (1887 – 1968) foi o protagonista dos chamados “ready-made”. Em tradução literal, significa “objeto-pronto” ou “objeto-feito”.
Duchamp tomava algo já disponível no ambiente, acrescentava detalhes ou atribuía títulos criativos e expunha nas galerias de arte.
Dos “ready-made” elaborados por Duchamp, “Fonte” ganhou notabilidade. O artista mandou um urinol de louça a uma exposição em Nova York, mas a proposta foi rechaçada.
Duchamp inverteu o sentido óbvio daquele objeto, utilitariamente destinado aos detritos (urina), colocando-o na condição de fonte.
Há muitas e múltiplas interpretações para cada um dos “ready-made” feitos pelo artista francês. Se o mictório pode ser fonte, significa que o homem alimenta-se dos seus próprios excrementos?
Destaca-se em Duchamp a sensibilidade, perspicácia e acuidade para intervir no mundo real, estetizando objetos que aparentemente não teriam qualquer valor artístico.
Seria exagero comparar as intervenções de Duchamp às atitudes dos moradores de São Luís quando "ornamentam" os buracos.
Mas como hoje é Sábado de Aleluia, permitimo-nos alguns devaneios.
Ao percorrer as ruas de São Luís, deparamos com várias situações inusitadas feitas pela população para sinalizar os buracos da cidade.
As crateras espalhadas por todos os bairros são tapadas de variadas formas pelos moradores, que utilizam restos de construção, móveis e utensílios velhos, lixo doméstico, pneus descartados etc.
Percebemos nestes atos intervenções espontâneas, sem valor estético, apenas utilitário, mas que acabam tendo algum sentido visual.
São protestos silenciosos, repúdios livres, mais ou menos desinteressados sobre o descaso com a cidade.
Há também uma intenção de alertar para o perigo, vislumbrando-se aí alguma nesga de solidariedade em meio a um trânsito hostil.
Podem ser também atitudes drásticas de desespero diante da inanição do poder público.
Afinal, são tantas emoções...
O blogue fez alguns registros amadores. Mas um bom fotógrafo poderia colher imagens melhores, reunindo tudo em uma exposição.
Ideal seria reunir uma coletânea de fotografias sobre as intervenções dos moradores de São Luís nos buracos.
O protesto silencioso poderia ganhar dimensão mais interessante, como uma exposição das fotos em frente aos palácios dos Leões e La Ravardière, na praça Pedro II.
Só lembrando que os buracos são de dupla responsabilidade. As crateras do prefeito João Castelo (PSDB) são inundadas pelo esgoto da Caema, a “fonte” de Ricardo Murad e Roseana Sarney (PMDB).
As fotos em um grande varal, na praça Pedro II, seriam uma idéia criativa para uma criatividade latente dos moradores da cidade.
Que Marcel Duchamp não se revire no túmulo com essa zombaria.
2 comentários:
Senso crítico com uma pitada de humor. E essa dupla ja vale um caldo sertaneejo. Haaaja palhaçada!
Senso crítico com uma pitada de humor. E essa dupla ja vale um caldo sertaneejo. Haaaja palhaçada!
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