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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

YOANI SÁNCHEZ: LIBERDADE E A COBERTURA DESIGUAL DE CUBA

A blogueira cubana Yoani Sánchez (foto) passou feito um furacão pelo Brasil para denunciar a censura e o autoritarismo em Cuba.

Foi festejada pela grande mídia e hostilizada por simpatizantes brasileiros do regime cubano, em atitudes agressivas tão condenáveis quanto a censura na terra natal dela.

Ninguém pode impedir uma pessoa de expressar o pensamento, mesmo que seja contrário à ideia dos opositores, desde que sejam mantidos o bom nível dos debates e os cuidados quanto à injúria, calúnia e difamação.

Yoani Sánchez deve ter motivos pessoais e coletivos para contestar as restrições à liberdade de expressão no regime dos irmãos Fidel e Raul Castro.

São inadmissíveis, no mundo contemporâneo, ditaduras de qualquer linha ideológica.

Mas o que chama atenção é a cobertura da mídia internacional sobre Cuba. Na maioria das matérias na TV e nos jornais, Cuba é tratada como uma ilha exótica, onde reinam os irmãos Castro e não há liberdade.

Esse recorte jornalístico começa pela CNN Internacional e percorre os circuitos midiáticos da América Latina, atravessando o Brasil pela Rede Globo e nos jornalões, liderados pela Folha de São Paulo.

As notícias sobre Cuba focam na “ditadura dos irmãos Castro”, como se nada mais interessante houvesse para relatar sobre a ilha.

Não se vê nos jornais ou nas matérias de TV uma linha ou imagem sobre os indicadores educacionais e de saúde em Cuba. Também não há notícias sobre a prática desportiva, a agricultura, a produção científica e a renomada escola de cinema.

Cuba só é vista sob a lente da censura. Com base nesse recorte jornalístico, a mídia informa o público pela metade, sem dar a oportunidade ao contraditório.

O que há na ilha além da censura?

Cuba passou por um processo revolucionário que demoliu aquele cenário grotesco da ilha-bordel dos milionários do fumo e do açúcar que se locupletavam às custas da exploração do povo cubano nas lavouras.

Por quase 40 anos, os cubanos sobreviveram sob o bloqueio econômico liderado pelos Estados Unidos, que impediam a ilha de manter relações comerciais com a Europa, parte da América e da Ásia.

Na Guerra Fria, quando o mundo alinhava-se à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderada pelos Estados Unidos; ou ao Pacto de Varsóvia, sob o comando da União Soviética, Cuba resistiu com a solidariedade dos camaradas russos.

Isolada economicamente, Cuba enfrentava ainda as sucessivas tentativas de golpes orquestrados pelos Estados Unidos. Era uma questão de honra do imperialismo a derrota da todos os regimes de inspiração socialista, para que vigorasse no mundo o pensamento único do capital como única forma de felicidade sobre o planeta Terra.

É preciso entender esse contexto para ver criticamente a cobertura da mídia internacional e brasileira sobre Cuba.

Há uma padronização da cobertura jornalística sobre a ilha, os irmãos Castro e o venezuelano Hugo Chávez.

O telespectador médio, ao assistir uma reportagem sobre a Venezuela, só consegue enxergar em Chávez um ditador.

As matérias não deixam a audiência saber que na Venezuela existem eleições diretas e que Chávez foi reeleito no voto direto e vítima de um golpe da elite petroleira em 2000.

Cuba e Venezuela, países de inspiração socialista, são estigmatizados porque causam estranheza ao pensamento único do capitalismo neoliberal.

E assim caminha a humanidade, influenciada por um padrão jornalístico cheio de meias verdades e falsas mentiras.

Deixem a blogueira Yoani Sánchez falar, mas é preciso dizer tudo sobre Cuba. Recortar a censura e colocá-la como o fato principal, sempre, não é a melhor maneira de informar a audiência.

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