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sábado, 4 de abril de 2015

ZECA BALEIRO DE A a Z: O CANTOR DO FINAL DOS TEMPOS (OU DO COMEÇO DE OUTROS)

por Samuel Carvalho Marinho 
Contador e estudante de Psicologia

Já se foi o tempo (e não faz muito tempo) que a gente ficava esperando sentado o lançamento do disco do nosso artista preferido para, no espaço máximo de dois anos, ficar digerindo uma a uma aquelas canções, despreocupadamente.

Em se tratando de um grande cantor/compositor de “MPB” ou potencial que pudesse se encaixar na sigla, bem provável que uma dessas músicas embalasse algum romance fatal de novela das oito.
Quase sempre havia nesse interstício um disco ao vivo, de qualidade sonora duvidosa, com as mesmas canções de estúdio cantadas de forma despojada, misturadas a outras de tempos atrás. Era o prenúncio de que, dali a mais ou menos um ano, certamente já estaria a caminho um novo disco de inéditas.

Tínhamos assim exatos o domínio do tempo dos cantores, das bandas, dos discos, das canções e de como as digerir em certa hora até que elas se desgastassem nas ondas sonoras das AM´s e FM´s e nas paixões avassaladoras das telenovelas.

Era esse o timing da indústria fonográfica até a massificação da internet que causou um impacto substancial na forma de se fazer e de se consumir música.

Perdidos no meio dessa transição, no completo caos de tempo-espaço, muitos artistas não conseguiram se desvencilhar da fórmula anacrônica. Mas não é o caso de Zeca Baleiro que, desde o início de sua carreira, já anunciava não se amoldar a qualquer esquema que pudesse restringir sua criatividade.

E é com surpreendente destreza que ele tem abraçado simultaneamente vários projetos, sem medo de transver as velhas fórmulas, o que na verdade muito tem servido à sua qualidade multimídia e ao seu impulso produtivo incansável.

O Baleiro esteve na novela das oito, cantando o tema de um par romântico que ficou massificado em sua voz, uma das canções mais executadas de ultimamente. Mas muitos poderiam se perguntar: em que novo disco do compositor maranhense está a badalada canção? Zeca Baleiro cantando Geraldo Azevedo? Estaria em crise criativa? E sua veia autoral, que fim deu a Rede Globo?

Não, ele não acabou de compor! Eu li em uma rede social que ele tocou aqui em São Luís na semana passada. Estaria em uma nova turnê com Zélia Duncan. Parece que os dois andam fazendo composições para um disco novo que deve sair até o final do ano. Já tem até uma música nova no site do Baleiro.

Nada disso! Se não me falha a memória, acabou de sair do forno um disco só para crianças, parecido com aquele projeto da Adriana Calcanhotto. Até o vi no Jô Soares cantando algumas canções pra promover o novo trabalho.

Mas posso estar equivocado... Ouvi dizer também que ele largou de compor canções para se dedicar somente às crônicas, virou escritor. Já havia lançado em 2014 uma coletânea com textos publicados na Revista Istoé. Quando canta é só para homenagear poetas de quem gosta muito, como Hilda Hilst.

Não, não largou a música! Resolveu se especializar em trilhas sonoras para filmes. Li em um blogue que ele vai assinar a trilha sonora de um documentário baiano sobre o lendário Edy Star. Aqui e ali, tem ainda atuado como produtor de artistas novos e outros esquecidos no tempo. Fez discos resgatando as obras de Sérgio Sampaio e Odair José.

Tudo errado! Ele lançou há pouquíssimo tempo o Ao Vivo “Calma Aí Coração”, do seu último disco de inéditas. Já, já vem música nova do velho e bom Zeca, vocês vão ver... O único projeto paralelo de que tenho conhecimento é o Baile do Baleiro. Ano passado eu o vi na virada cultural em São Paulo, tenho certeza disso!

Afinal, Por onde andará de fato Zeca Baleiro? É o que deve estar se perguntando agora Stephen Fry... Só falta ele ter montado uma banda de rock e ter virado o novo Renato Russo, descrente que andava há muito tempo do rock nacional.

As respostas são diversas e, no caso do Zeca, são hoje a melhor representação de como o compositor de música popular, assessorado por uma equipe muito bem antenada, pode ter vida longa e original, distribuindo-se de forma inteligente nessa multiplicidade caótica de espaço-tempo.

Zeca Baleiro está na TV aberta como tema da novela das oito, ao mesmo tempo em que está na TV fechada em um projeto ousado homenageando Zé Ramalho, assim como está no circuito alternativo de cinema, compondo trilhas sonoras. Vai virar CD, DVD?  Ainda lançará disco de inéditas? Em que tempo? Não se sabe. É Zeca Baleiro solo, piano e voz, e em registro ao vivo com direito a coreografia parodiando megahits do funk nacional. É compositor, intérprete, cronista, produtor. Um itinerário de confundir mesmo os seguidores mais assíduos. Zeca Baleiro é Adriana Partimpim e canta com Zélia Duncan. É artista de A a Z. Deve ser mesmo o sinal dos tempos ou quiçá, o começo de outros. O futuro não é mais como era antigamente.

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