Criado no conjunto de ações do programa Fome Zero, o Bolsa
Família é a maior ferramenta de proteção social do Brasil.
Analisar esse fenômeno, face ao recente episódio dos saques
estratosféricos e da “calça de 300 reais”, requer uma postura desapaixonada do
debate rasteiro travado entre petistas roxos e tucanos emplumados.
Para o bem, o
Bolsa Família injetou dinheiro na vida da população mais pobre e aqueceu a
microeconomia nos grotões, onde a energia chegou através do Luz para Todos e,
junto com ela, a geladeira, o presunto, o queijo e o frango congelado.
Não há como negar que a atividade econômica nacional aqueceu
a indústria nas regiões mais desenvolvidas para abastecer o mercado no Brasil
profundo, onde o dinheiro passou a circular.
O Bolsa Família também inovou na forma de concessão do
benefício, colocando o dinheiro direto na conta do destinatário, sem a
intermediação de vereador ou prefeito.
As prefeituras controlam a parte burocrática, entre elas a
formação dos cadastros dos beneficiários (sujeitos a manipulações e fraudes),
mas sem o poder de gerenciar o acesso ao dinheiro. Acabou a figura do político
atravessador!
A lógica do Bolsa Família é diferente da indústria dos poços
artesianos, por exemplo, cujo desvio dos recursos começa em Brasília e termina
geralmente nos presidentes de associações rurais, controlados pelos prefeitos.
Com o cartão de saque na mão, o beneficiário do Bolsa
Família ficou livre do vereador, do líder comunitário e do prefeito. Assim, o
dinheiro direto na conta empoderou a pobreza, que passou a comer carne e tomar
leite. Só não deu ainda para comprar a calça de 300 reais.
Alimentado e vestido, o outrora excluído passou a circular
melhor nos ambientes escolares e de trabalho. O efeito preguiça e a acomodação,
argumentados pelos críticos do programa, têm outras causas. No Maranhão, por
exemplo, como não sentir preguiça diante de tanta desgraça política?
Para o mal, o
Bolsa Família gerou uma cadeia de dependência ao governo do PT, que aperfeiçoou
o programa de proteção social criado pelo PSDB.
O PT ampliou e sofisticou a “tecnologia” de fidelizar o
beneficiário ao governo, mistificando Lula como o novo pai dos pobres, uma
versão contemporânea de Getúlio Vargas.
Assim, o governo ampliou poderes. E muito! Não há como
dissociar o cartão do Bolsa Família do título de eleitor. Eles estão como
aqueles gêmeos que nascem com a barriga grudada uma na outra. A cirurgia de
separação é delicada e perigosa.
Qualquer debate eleitoral passa pela guerra de versões sobre
quem vai manter e quem supostamente vai acabar com o benefício. Será assim em
2014 e não sabemos até quando.
Convém ainda observar que no episódio dos saques
estratosféricos a gestão da Caixa sobre o programa gerou insegurança. Com tanta
trapalhada do banco, o que esperar da gestão futura do Bolsa Família?
E mais! Quem garante a correção dos cadastros e que não há
benefícios sendo transferidos a quem não precisa?
Nas conversas informais com amigos e vizinhos, vez por outra
surgem relatos de casos em que o cartão está na mão de gente que tem casa
própria, carro e emprego.
Há indícios de que no Bolsa Família também tem corrupção.
Falando nisso, é interessante observar que a derrama de dinheiro do governo
federal na pobreza não diminuiu a compra de votos e outros delitos eleitorais.
Pelo contrário, o preço do voto aumentou!
Para além do bem e do
mal, o Bolsa Família instituiu um ciclo vicioso que só será quebrado quando
o Brasil fizer reformas estruturantes (prometidas desde a década de 1960) e
mudar o rumo estratégico.
Mas esse parece não ser o caminho tomado pelo governo do PT.
Cada vez mais refém da aliança com o PMDB e de figuras como José Sarney & Renan
Calheiros, o governo Lula/Dilma é a cara da pobreza política.
Sem atacar as causas mais profundas da miséria, o Bolsa
Família empodera no imediato as pessoas sem renda e torna o governo imbatível
nas disputas eleitorais. Por quanto tempo mais?
Depois de Renan Calheiros, quem vai presidir o Congresso? Um
outro coronel que massacra os miseráveis?
Não há Bolsa Família que dê jeito nessa política de plástico!
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