Protestos na ditadura militar eram reprimidos com pancadaria, tortura e assassinatos |
De todas as novidades provocadas pelas manifestações de rua
em 2013, uma se destaca: a Fifa e os gastos com os estádios estão entre os
principais motivos dos protestos.
Na década de 1970, quando também havia protestos (porém sob censura da ditadura), o futebol cumpria outro papel: o de narcotizar o povo diante das atrocidades cometidas pelos militares.
A produção audiovisual brasileira está recheada de filmes
sobre a ditadura militar, nos quais uma parte do roteiro se repete: cenas da
euforia da copa do mundo de 1970 ofuscando o terror das torturas e dos assassinatos.
Os filmes sobre guerrilhas urbanas de resistência à ditadura
sempre exploraram o futebol como algo que alienava o povo da luta
revolucionária.
Enquanto as torturas e os assassinatos campeavam, o povo,
indiferente aos revolucionários, lotava os estádios de futebol.
Os militares souberam cultivar bem a onda ufanista do
milagre brasileiro na música que embalou os estádios na conquista do tri-campeaonato
mundial (México, 1970) pela seleção canarinho: “noventa milhões em ação, pra
frente Brasil, salve a seleção.”
Uma das produções mais expressivas é o filme “O que é isso,
companheiro?”, dirigido por Bruno Barreto, baseado no livro homônimo de
Fernando Gabeira, que narrou o sequestro do embaixador norte-americano Charles
Elbrick, em 1969, por organizações armadas de esquerda.
Os seqüestradores queriam trocar o diplomata por 15 presos
políticos brasileiros e reivindicavam também a publicação de um manifesto revolucionário
nos principais jornais nacionais.
No filme, findo o seqüestro, Charles Elbrick foi solto na
porta do Maracanã, ao final de um jogo, para facilitar a dispersão dos autores
de uma das mais ousadas ações da esquerda brasileira no período ditatorial.
O momento é bom para pensar as relações entre a política e o
futebol. Nos anos 1970, com os protestos sob censura, o futebol era o ópio do
povo. Nos anos 2013, as manifestações ganham alta visibilidade na mídia, mas os
gastos com os estádios são a ira do povo.
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