Batendo em retirada, históricos deixam o PDT (foto do Blog do Ronaldo Rocha) |
Vi, na blogosfera da política maranhense, uma fotografia de
um triste significado histórico para o centro-esquerda do nosso Estado. O
retrato mostra um pouco mais de uma dezena de retirantes da legenda pedetista,
simbolicamente posicionados ao redor da esposa e do filho do saudoso governador
Jackson Lago.
A maioria, fundadores daquela agremiação partidária.
Lutadores de longas datas, de diferentes profissões e origens sociais.
Identifiquei-os um por um. Afinal, convivi, com quase todos, ao longo de 30
anos, em várias frentes de lutas populares maranhenses. As lembranças de alguns
remontam ao longínquo final da década de 70, anos árduos de resistência à
ditadura militar.
Muitos deles dedicaram os melhores anos de suas vidas à
construção e consolidação do PDT no Maranhão. Agora, todos vêem os sonhos
trabalhistas sucumbirem após o perecimento físico de suas principais lideranças
estaduais e nacionais.
À margem do processo decisório interno, eles preferem o
rompimento político à legitimação de um comando partidário cujos cardeais são
acusados de desfigurarem a agremiação e de se locupletarem, a partir de
negociatas engendradas em pastas governamentais, onde foram oportuna e
convenientemente alocados. A desagregação no arraial dos pedetistas foi rápida
e profunda.
No PT do Maranhão, a situação assemelha-se à debandada dos
pedetistas. De sua geração fundadora, poucos permanecem por lá. Porém, a
abnegação desses militantes, a cada dia transforma-se em desesperança. Foram
isolados e alijados dos fóruns de decisão política.
A maioria desses remanescentes, pouco a pouco, vai se
afastando da vida partidária, outros já arrumaram os teréns e estão prestes a
deixar as hostes petistas. É digno de registro que, no PT, a depuração
reformista já se arrasta por mais de um quarto de século.
O ponto de inflexão foi o V Encontro Nacional ocorrido em
1987, quando teve início, no Partido, a flexibilização das alianças eleitorais.
De lá para cá, muitos grupos e militantes do núcleo originário de construção
partidária foram expulsos ou deixaram voluntariamente a sigla, por discordarem
da progressiva domesticação do PT.
Noutros tempos, durante as prolongadas discussões a respeito
da unidade do centro-esquerda maranhense, ouvi, repetidas vezes, o memorável
Jackson Lago afirmar que precisávamos “minimizar as diferenças partidárias”.
Para ele, diante da avassaladora máquina econômica e política da oligarquia
Sarney, éramos obrigados a marchar juntos nos grandes embates
político-eleitorais do Estado.
No entanto, a profecia da liderança pedetista confirmou-se
em sentido negativo: fomos condenados a cerrar fileiras na diáspora. Nesse
turbilhão político, alguns se desgarraram de suas agremiações estimulados pelo
simples oportunismo de ocasião.
Entretanto, a motivação majoritária foi contrapor-se à
banalização da ética, ao adesismo conjuntural a toda e qualquer força política
conservadora e ao enriquecimento pessoal como primazia da ação política
coletiva.
Aliás, como sabemos, no PT, os veteranos e noviços, postos
como vencedores desse embate ideológico e político, têm, em poucas palavras,
uma resposta cinicamente pronta para todos os males do definitivo pragmatismo
partidário: a “construção da governabilidade” e a “falta de uma reforma
política” condicionam a nossa ação conjuntural.
É um argumento desonesto, cansativo e pouco inteligente.
Enfim, de modo deliberado, são reféns e, ao mesmo tempo, fomentadores dessa
lógica conservadora de exercício do Governo. Só que, com esse instrumento de
persuasão política, eles garantem, invariavelmente, o controle da estrutura
partidária, as benesses daí advindas e a reprodução dos paradigmas da política
tradicional, antes tão combatida.
*Salvador Fernandes, economista, servidor público federal,
ex-presidente estadual do PT/MA
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