JORNALISTA E PROFESSOR DOUTOR
DO CURSO DE JORNALISMO DA UFMA/IMPERATRIZ
marcosfmatos@gmail.com
Comecei a escrever
muito cedo, aos dez, onze anos. Minha irmã achou, um dia desses, uma peça de
teatro que eu fiz aos doze anos – história de uma menina com um palhaço. De lá
pra cá, muitos textos. Poucos leitores. A escassez de leitores é a primeira
certeza que um escritor periférico pode ter. A segunda é que, em geral (e muito
em geral), ele vai ter que fazer outra coisa para pagar os seus boletos
mensais.
Antigamente, quando
não havia a internet, a gente escrevia e guardava no fundo da gaveta. Ou
deixava trancado nos cadernos – alguns até com cadeado. Depois, quando eu
ganhei uma máquina de escrever (daquelas que têm uma capinha que fecha, não
lembro mais o nome), comecei a encadernar os escritos, ou deixar em pastas,
organizadas por assuntos – poesias, crônicas, contos, romance (sim, há um,
nunca publicado – sem chance!). Mas ainda assim pouca gente lia.
Depois surgiu a
possibilidade de ir colaborando, bissextamente, para alguns jornais de São
Luís, lá pelos anos 90. Um textinho aqui, outro ali. Um arrazoado de palavras
para comemorar uma data especial na cidade, umas 30 linhas para falar de um
assunto que tomou conta do noticiário nacional ou local aquela semana ou a
passada. Essas coisas. Poucos leitores ainda.
E aí veio a
internet. Primeiro se arrastando, discada. Depois, melhor. E melhor. E os
textos foram migrando para as novas plataformas. Primeiro, no blog. Depois, nos
murais de escritores. Agora, nos e-books, no Facebook e nos jornais e revistas
virtuais. A consequência natural dessa localização, agora planetária, foi a
hiperpotencialização de leitores. Agora, dezenas – já uma hipérbole.
Um escritor
periférico nunca reclama dos poucos leitores que tem. Ao contrário, pensa neles
a cada texto que escreve. E por conhecê-los, quase intimamente, lapida o texto,
como um ourives, para entregá-lo, o melhor que pode, a eles, para fazer com que
eles se lembrem, na montanha de outros textos que lerão, daquele.
Hoje a internet
permite a interatividade. E o escritor periférico recebe um montão de e-mails
ou comentários nas redes sociais sobre os textos que ele escreveu e publicou.
Uns dois ou três.
E ele exulta com
toda essa enxurrada de e-mails e comentários. Ele os lê, exaustivamente, sem
cansaço. E ele prepara respostas para todos eles. Algumas vezes, por conta da
enormidade de respostas, não consegue mandá-las. Então ele as guarda, para um
dia entregá-las, talvez pessoalmente.
Aquele chavão que
diz que o importante não é quantidade, é qualidade, não serve para o escritor
periférico. Para ele, quantidade e qualidade são ao mesmo tempo essenciais, são
como gêmeos univitelinos. Isso porque a sua matemática é simples: um bom leitor
já é multidão!
Nenhum comentário:
Postar um comentário