Larissa Leda tem especialização pela PUC-MG em Docência do Ensino Superior, mestrado em Comunicação (UFF) e coordena o projeto de pesquisa "Maldade em outra ótica: a feiura moral sob o véu da beleza na narrativa da telenovela."
A professora é também editora da revista
Cambiassu, do Departamento de Comunicação Social da UFMA e autora
do livro "Diluindo fronteiras: hibridizações entre o real e o ficcional na
narrativa da telenovela", editado pela EdUFMA em 2011. Leia a entrevista:
Blogue –
Como você desenvolveu a sua trajetória acadêmica até a chegada ao doutorado?
Larissa Leda - Já
desde a graduação me dei conta que gostaria de ser professora. Mas a vontade de
ser pesquisadora apareceu um pouco depois, já durante o mestrado. Assim
que me formei, fiz um concurso para professora substituta, na UFMA, e passei. E me apaixonei
pela carreira. Para ser professora efetiva de uma universidade pública federal
era necessário ter, no mínimo, mestrado e fui correr atrás disso. Fui
para o Rio e algum tempo depois da minha defesa surgiu um concurso na UFMA,
primeiro para a cidade de Imperatriz em uma área que eu curtia, webjornalismo,
mas não amava. Passei
e poucos meses depois apareceu um novo concurso, para a UFMA de São Luis, para
a área de TV, desde sempre minha área de pesquisa e paixão. Aí deu tudo certo!
Fiz o concurso e comecei a dar aulas na área. O doutorado, nesse momento, era o
caminho mais natural. E também um caminho desejado. É uma grande alegria, apesar
do esforço intelectual duro, fazer o doutorado.
Blogue – Qual o tema de estudo no
doutorado?
Larissa Leda - Minha pesquisa é sobre
televisão, sobre telenovela especificamente. Estou preocupada em entender o
processo de embelezamento das vilãs da telenovela, mas um embelezamento que não
parece acontecer para aliviar a maldade das vilãs, mas como parte constituinte
da identidade da vilania. Na verdade, o trabalho buscará fazer uma "galeria
de vilões" na dramaturgia para tentar entender como aconteceu o processo
de embelezamento da vilania que vemos todos os dias nas novelas. Não precisamos
fazer grande esforço para lembrar da beleza e do glamour das vilãs (meu
trabalho faz um recorte em vilãs, deixando de fora os vilões), somente para
citar as mais recentes: Carminha (Avenida Brasil), Tereza Cristina (Fina
Estampa), Constância (Lado a Lado), Lívia (Salve Jorge). Mas não foi sempre
assim e é fundamental não naturalizar esse processo pois ele fala de algo
maior: de uma relação sofisticada e complexa - e que permeia nosso cotidiano -
entre beleza, bondade, vilania e maldade e os padrões que são estabelecidos,
negociados e consumidos ao redor disso.
Blogue - Qual a delimitação do seu
objeto de pesquisa?
Larissa Leda - Este
é um desafio que ainda está sendo trabalhado na tese. O que pode parecer estranho
a quem não produz uma tese ou não tem intimidade com a pesquisa acadêmica, mas
a verdade é que uma tese é construída ao longo de quatro anos e algumas
certezas e decisões que estavam bem estabelecidas no começo, no projeto de
tese, se bagunçam para se reorganizarem lá na frente. E creio que este é o caso do
meu trabalho. Mas para construir uma "galeria de vilãs" na
dramaturgia é necessária uma análise histórica que me dá imenso prazer em
fazer, mas que demanda um tempo - e um fôlego - consideráveis. Veja, analisar o
embelezamento das vilãs significa ir bem além das telenovelas, significa pensar
na dramaturgia como um todo para dar conta de compreender o processo, de onde
ele vem e pra onde ele vai. Mas é sempre necessário um recorte e creio que
farei isso a partir da segunda metade do século XIX, quando se estabelecem os
princípios de uma produção visual do entretenimento massivo e da condução dos
olhares gulosos e curiosos do público por um sistema que mais tarde, a partir
do século XX, podemos chamar de
midiático.
Blogue – Com quais autores e
teorias você pretende abordar o tema escolhido?
Larissa Leda - Alguns autores ainda serão
descobertos, certamente. E aqui apenas resumo a lista, mas inicialmente poderei
contar com a ajuda de Martín-Barbero e sua preocupação com a produção
audiovisual e da telenovela na América Latina, com Foucault e seus estudos
sobre a monstruosidade humana, com Courtine e seu valoroso estudo histórico da
instituição do espetáculo da monstruosidade no século XIX e XX, de Vigarello e
seus estudos sobre a beleza feminina e de autores que se preocupam em pensar a
telenovela, como Immacolata, por exemplo.
Blogue –
Quais os objetivos da sua pesquisa?
Larissa Leda - Há um objetivo geral que é analisar
a construção imagética dos vilões da telenovela brasileira que se estabelece
com uma imagem cada vez mais de acordo com o padrão de beleza vigente em uma
aparente contraposição à vilania. E há objetivos específicos, que
são: a) compreender o movimento de mudança dos olhares e sensibilidades em
direção ao monstro humano/monstruoso na cena do espetáculo de massa; b) definir
como se deu a construção dos padrões de beleza hoje massivamente difundidos e
utilizados pelo sistema midiático; c) analisar os padrões narrativos da
telenovela brasileira – e suas modificações – para compreendermos como se
estruturam os papéis de protagonistas e antagonistas nas narrativas e como se
instituem os vilões e os mocinhos e, por último, d) analisar os motivos que
levam à relação entre a imagem atual dos vilões, cada vez mais bela, e sua
vilania, e a atração que esse vilão, assim construído, exerce sobre nós.
Blogue – Qual a relevância da sua
pesquisa para a sociedade?
Larissa Leda - Creio que voltamos ao que
falei no princípio. É fundamental não naturalizar certos processos sociais,
certos processos de produção, distribuição e consumo midiáticos sob pena de não
conseguirmos ver elementos importantes ali. Quando naturalizamos, deixamos de
problematizar e sem problemática não há ciência. A telenovela é a maior
narrativa ficcional da América Latina e para além de um divertimento
despreocupado - e tolo, dirão os intelectuais de plantão - é uma peça
fundamental no jogo da construção das identidades, um modo de nos imaginarmos
como nação e de participarmos dessa nação imaginada. Um recurso de pesada
importância na atualização, discussão e reorganização de nossa sociabilidade.
E, ainda bem, a academia vem despertando para a necessidade de estudá-la. Este
trabalho, espero eu, pode ter uma modesta contribuição para compreendermos a
telenovela, essa narrativa que, presente no nosso cotidiano, fala de nós para
nós, mas nós também a pegamos na mão para tentar entender a sofisticada e
complexa trama de nossas identidades. Há um ir e vir entre a telenovela e
a vida que, além de fascinante e absolutamente rotineiro, nos exige um olhar científico
para podermos dar conta do que ela fala de nós e do que falamos dela e de nós,
através dela.
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