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sábado, 10 de agosto de 2013

VILANIA E BELEZA NAS TELENOVELAS SÃO TEMA DE PESQUISA EM DOUTORADO

Doutoranda em Comunicação pela PUC-RS, a professora do Departamento de Comunicação da UFMA, Larissa Leda Fonseca Rocha, desenvolve o projeto de teseMá-ravilhosa: o crepúsculo da feia ou quando a vilã torna-se rica, loura e linda.

Larissa Leda tem especialização pela PUC-MG em Docência do Ensino Superior, mestrado em Comunicação (UFF) e coordena o projeto de pesquisa "Maldade em outra ótica: a feiura moral sob o véu da beleza na narrativa da telenovela."

A professora é também editora da revista Cambiassu, do Departamento de Comunicação Social da UFMA e autora do livro "Diluindo fronteiras: hibridizações entre o real e o ficcional na narrativa da telenovela", editado pela EdUFMA em 2011. Leia a entrevista:

Blogue – Como você desenvolveu a sua trajetória acadêmica até a chegada ao doutorado?

Larissa Leda - Já desde a graduação me dei conta que gostaria de ser professora. Mas a vontade de ser pesquisadora apareceu um pouco depois, já durante o mestrado. Assim que me formei, fiz um concurso para professora substituta, na UFMA, e passei. E me apaixonei pela carreira. Para ser professora efetiva de uma universidade pública federal era necessário ter, no mínimo, mestrado e fui correr atrás disso. Fui para o Rio e algum tempo depois da minha defesa surgiu um concurso na UFMA, primeiro para a cidade de Imperatriz em uma área que eu curtia, webjornalismo, mas não amava. Passei e poucos meses depois apareceu um novo concurso, para a UFMA de São Luis, para a área de TV, desde sempre minha área de pesquisa e paixão. Aí deu tudo certo! Fiz o concurso e comecei a dar aulas na área. O doutorado, nesse momento, era o caminho mais natural. E também um caminho desejado. É uma grande alegria, apesar do esforço intelectual duro, fazer o doutorado.

Blogue Qual o tema de estudo no doutorado?

Larissa Leda - Minha pesquisa é sobre televisão, sobre telenovela especificamente. Estou preocupada em entender o processo de embelezamento das vilãs da telenovela, mas um embelezamento que não parece acontecer para aliviar a maldade das vilãs, mas como parte constituinte da identidade da vilania. Na verdade, o trabalho buscará fazer uma "galeria de vilões" na dramaturgia para tentar entender como aconteceu o processo de embelezamento da vilania que vemos todos os dias nas novelas. Não precisamos fazer grande esforço para lembrar da beleza e do glamour das vilãs (meu trabalho faz um recorte em vilãs, deixando de fora os vilões), somente para citar as mais recentes: Carminha (Avenida Brasil), Tereza Cristina (Fina Estampa), Constância (Lado a Lado), Lívia (Salve Jorge). Mas não foi sempre assim e é fundamental não naturalizar esse processo pois ele fala de algo maior: de uma relação sofisticada e complexa - e que permeia nosso cotidiano - entre beleza, bondade, vilania e maldade e os padrões que são estabelecidos, negociados e consumidos ao redor disso.

Blogue - Qual a delimitação do seu objeto de pesquisa?

Larissa Leda - Este é um desafio que ainda está sendo trabalhado na tese. O que pode parecer estranho a quem não produz uma tese ou não tem intimidade com a pesquisa acadêmica, mas a verdade é que uma tese é construída ao longo de quatro anos e algumas certezas e decisões que estavam bem estabelecidas no começo, no projeto de tese, se bagunçam para se reorganizarem lá na frente. E creio que este é o caso do meu trabalho. Mas para construir uma "galeria de vilãs" na dramaturgia é necessária uma análise histórica que me dá imenso prazer em fazer, mas que demanda um tempo - e um fôlego - consideráveis. Veja, analisar o embelezamento das vilãs significa ir bem além das telenovelas, significa pensar na dramaturgia como um todo para dar conta de compreender o processo, de onde ele vem e pra onde ele vai. Mas é sempre necessário um recorte e creio que farei isso a partir da segunda metade do século XIX, quando se estabelecem os princípios de uma produção visual do entretenimento massivo e da condução dos olhares gulosos e curiosos do público por um sistema que mais tarde, a partir do século XX,  podemos chamar de midiático.

Blogue – Com quais autores e teorias você pretende abordar o tema escolhido?

Larissa Leda - Alguns autores ainda serão descobertos, certamente. E aqui apenas resumo a lista, mas inicialmente poderei contar com a ajuda de Martín-Barbero e sua preocupação com a produção audiovisual e da telenovela na América Latina, com Foucault e seus estudos sobre a monstruosidade humana, com Courtine e seu valoroso estudo histórico da instituição do espetáculo da monstruosidade no século XIX e XX, de Vigarello e seus estudos sobre a beleza feminina e de autores que se preocupam em pensar a telenovela, como Immacolata, por exemplo.

Blogue – Quais os objetivos da sua pesquisa?

Larissa Leda - Há um objetivo geral que é analisar a construção imagética dos vilões da telenovela brasileira que se estabelece com uma imagem cada vez mais de acordo com o padrão de beleza vigente em uma aparente contraposição à vilania. E há objetivos específicos, que são: a) compreender o movimento de mudança dos olhares e sensibilidades em direção ao monstro humano/monstruoso na cena do espetáculo de massa; b) definir como se deu a construção dos padrões de beleza hoje massivamente difundidos e utilizados pelo sistema midiático; c) analisar os padrões narrativos da telenovela brasileira – e suas modificações – para compreendermos como se estruturam os papéis de protagonistas e antagonistas nas narrativas e como se instituem os vilões e os mocinhos e, por último, d) analisar os motivos que levam à relação entre a imagem atual dos vilões, cada vez mais bela, e sua vilania, e a atração que esse vilão, assim construído, exerce sobre nós.

Blogue – Qual a relevância da sua pesquisa para a sociedade?

Larissa Leda - Creio que voltamos ao que falei no princípio. É fundamental não naturalizar certos processos sociais, certos processos de produção, distribuição e consumo midiáticos sob pena de não conseguirmos ver elementos importantes ali. Quando naturalizamos, deixamos de problematizar e sem problemática não há ciência. A telenovela é a maior narrativa ficcional da América Latina e para além de um divertimento despreocupado - e tolo, dirão os intelectuais de plantão - é uma peça fundamental no jogo da construção das identidades, um modo de nos imaginarmos como nação e de participarmos dessa nação imaginada. Um recurso de pesada importância na atualização, discussão e reorganização de nossa sociabilidade. E, ainda bem, a academia vem despertando para a necessidade de estudá-la. Este trabalho, espero eu, pode ter uma modesta contribuição para compreendermos a telenovela, essa narrativa que, presente no nosso cotidiano, fala de nós para nós, mas nós também a pegamos na mão para tentar entender a sofisticada e complexa trama de nossas identidades. Há um ir e vir entre a telenovela e a vida que, além de fascinante e absolutamente rotineiro, nos exige um olhar científico para podermos dar conta do que ela fala de nós e do que falamos dela e de nós, através dela.

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