Carlos Agostinho Couto
A expressão Síndrome de Estocolmo surgiu em 1973 após um
assalto a banco na capital da Suécia. Estranhamente, os reféns que passaram
dias com os assaltantes passaram a defendê-los após a rendição dos criminosos.
Genericamente, o termo indica um estado psicológico pelo qual passam pessoas
submetidas a um tempo prolongado de intimidação. As vítimas desenvolvem sentimentos
de afeição em relação ao seu agressor.
Neste período eleitoral em especial, quando deveríamos
experimentar os frutos do amadurecimento da democracia, mesmo percebendo-se a
sobrevivência política de pessoas e ações ainda resultantes dos períodos de
exceção, como a ditadura militar oficialmente encerrada com a promulgação da
Constituição de 1988, ainda não parece claro para boa parte da população que
certas mazelas que concorrem com a democracia deveriam estar-se superando.
Não se trata de responsabilizar a população diretamente
pelos políticos que tem, pois esse tipo de afirmação sugere uma formação
cultural e educacional (formal ou não) que o povo brasileiro não possui;
servindo essa assertiva como uma espécie de lavar de mãos de todos nós com os
avanços ainda necessários para a efetiva participação social e política – não
alienada – da população.
Percebe-se que ainda sobrevive, mesmo nas classes mais
favorecidas da sociedade, uma excessiva condescendência com hábitos há muito
arraigados, mas que deveriam estar em vias de serem expurgados do jogo político
e dos governos. Patrimonialismo, compadrio, vistas grossas para a corrupção,
apego aos cargos públicos simplesmente pela possibilidade de manipular
recursos, negação da própria palavra e de seus compromissos com vistas à
manutenção do poder a qualquer custo, alianças esdrúxulas sem a menor cerimônia
desde que valha um naco do governo, descumprimento da legislação em relação a recursos
públicos e privados (como no caso do uso da máquina pública no período
eleitoral e de propina paga por empresas para o bolso e campanha de políticos)
são exemplos desses hábitos ainda admitidos, infelizmente.
O que pode ter a ver a Síndrome de Estocolmo com essa
situação?
No intuito de tentar compreender a situação, e sem a menor
condição de fazer diagnóstico psicológico ou psiquiátrico, podemos aproximar as
coisas.
Se tratarmos diferentes como diferentes, ou seja: se
estabelecermos uma diferença entre aqueles que não têm acesso à educação e
informação de qualidade, que vive de favores e sob o jugo do Estado e de
políticos profissionais, daquelas pessoas que tiveram oportunidades, têm
trabalho e renda compatíveis com uma vida adequada, que têm acesso a informação
e que conseguiram progredir bem nos estudos, perceberemos que, em muitos casos,
as reações perante os poderosos os iguala na prática.
Muitas pessoas das quais se esperava uma postura crítica e
uma ação social efetiva nos momentos cruciais para a democracia, como o período
eleitoral, comportam-se como se fossem mal educados, no sentido estrito, ou
como se a informação para os mesmos fosse irrelevante.
Metaforicamente podemos relacionar essa postura com a
Síndrome de Estocolmo. Tem-se a impressão de que os discursos de que “é assim
mesmo”, “rouba, mas faz”, “as alianças com os corruptos são imprescindíveis”,
“os fins justificam os meios” podem representar um certo apego, ou relação de
afeição em relação àqueles que tanto se beneficiaram do poder em detrimento da
maioria da população e, consequentemente, intimidaram as pessoas com e pelo
poder.
Não dá para excluirmos do debate aqueles que tiveram as
oportunidades acima citadas e que apenas se aproveitaram da chegada ao poder
para se locupletar, para agir da mesma forma daqueles que eram criticados;
praticando nepotismo, prevaricação, peculato, corrupção. Esses não têm mesmo
senso crítico, e nem querem ter. Mas a classe média brasileira precisa repensar
seus modos de atuação sociopolítica, pois fechar os olhos para os males da má
política, com o perdão da redundância, não deveria ser a regra. As maldades e
crimes parecem esquecidos, amenizados, perdoados ou defendidos, como na
Síndrome de Estocolmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário