A (NEO) NEUROSE DO MEDO NÃO É MERA FICÇÃO
Robison Pereira
Penso que o que há é uma eterna repetição desse fenômeno político que decorre por dois aspectos: primeiro, o que há na política maranhense e, em especial, nas elites políticas é ausência de ideologia político-partidária, motivo pelo qual, como diz João Lisboa no Jornal de Timon, as elites, naquela época provincianas, cuja análise pode ser aplicada a tempos contemporâneos, em que as ditas elites oligárquicas, tomadas pelo “egoísmo” e pelo “personalismo”, os partidos e seus respectivos governos são desprovidos de “fé política”, de “motivos importantes de luta que o possa elevar e enobrecer”.
Tanto os meios como os fins utilizados são “mesquinhos e nulos”. Ou seja, a prevalência é o mexerico e a vingança; é nessa rede nada republicana que a política se define.
Nascimento Morais, jornalista, romancista e político de oposição, em “Neurose do medo”, de 1922, analisa a política maranhense na década de 1920, mormente as administrações de Urbano Santos e Raul Machado, compreendendo e refletindo sobre aspectos minúsculos da ação política desses gestores, em uma psicanálise política que é um verdadeiro dedo na ferida de governos carcomidos pela violência e pelo medo.
O presidente Raul Machado foi deposto, e o Exército brasileiro o reconduziu ao comando do governo do Estado. Depois de reposto, o primeiro ato de Machado foi vingar-se prendendo os militares e políticos envolvidos no golpe que o levou à deposição. Repreendido pelo comandante do 24º. Batalhão de Caçadores sobre tal atitude ser um erro, Raul Machado, em uma clara neurose peculiar aos potentados maranhenses, entrincheirou-se no Palácio dos Leões e montou um exército particular de facínoras, bajuladores e alguns militares, todos também medrosos, precavendo-se do que sua mente patológica inventara. Havia um novo golpe em curso, desferido por quem o recolocou no poder.
O aparato ilegal foi de tamanha violência que oposicionistas e até oficiais do Exército, incluindo o comandante do Batalhão de Caçadores, eram vigiados cotidianamente. Instaurou-se a neurose do medo, possivelmente inaugurada por seu antecessor, Urbano Santos, que andava madrugadas a fio na sala da sua residência esperando um ataque inimigo que nunca existira. A anormalidade foi seguida também por outros mandatários, ao longo da vida política maranhense, inclusive, no(s) governo(s) José Sarney e no governo Jackson Lago.
Por isso, para eles (mandatários e seguidores) se justificam o ódio, a perseguição e o ataque, não político, mas eivado de questiúnculas, e, sobretudo, o medo, medo de perder as vantagens protagonizadas pelo poder, medo este desvelado por Moraes (1982) ao interpretar a política maranhense no início do século passado, quando se analisa que continua atual o medo que é decorrente do apego patológico ao poder, à posição política das famílias ou seus pequenos grupos e a vaidade personificada em seus chefes.
Ou seja, a cultura política reinante parece ser uma eterna crisálida que, por mais nova que se mostre, é a velha repetição do passado, que teima em não passar. Aqui, a metamorfose do casulo gera raposas, camaleões, carcarás, águias, gambás, lobões, etc., nunca uma borboleta. O Estado continuou cheio de maranhas em águas que correm brigando para os donos do mar ou inúmeros lagos; onde palafitas, desempregos, fome, violência dividem com os homens e mulheres sua sinceridade em uma eterna pororoca.
* Robison Pereira é professor, sociólogo, especialista em História do Maranhão e mestre
Um comentário:
Muito bem citado o João Francisco Lisboa... autor também muito citado por Oliveira Viana....em sua análise sobre a cultura política brasileira... Só não consigo concordar é com essa concepção de "repetindo"... nesse particular sou weberiano e até marxista (não se repete).A repetição é só da tragédia e não da história... Rsssssssss. Brincadeira... Você considera o restante do Brasil..muito diferente do Maranhão?
Inté.
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