por Samuel Marinho *
Já faz algum tempo que nos acostumamos à voz doce e às composições emocionadas de Adriana Calcanhotto. Bastaria canções como “Metade”, “Mentiras”, “Esquadros”, “Vambora” e “Depois de ter você”, só pra citar algumas, para torná-la inesquecível.
Nem precisaria ela ter emprestado algumas músicas marcantes para as vozes de Maria Bethânia ou Leila Pinheiro.
Ela nem precisaria se arriscar em musicar versos de Mário de Sá Carneiro e se doar a experimentalismos poéticos com Wally Salomão, Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Arnaldo Antunes.
Não precisaria também ter comido Caetano cru “pelado por bacantes num espetáculo”, deixando bem expressa sua visão lúdica da antropofagia, uma de suas marcas.
Mas a música de Adriana parece o tempo inteiro evoluir para algo surpreendentemente belo e indizível, no campo onde as palavras não chegam e talvez somente a música alcance, embora sempre triunfe a palavra, plena, na intenção artística da compositora gaúcha.
Isso é Adriana Partimpim: um heterônimo criado pela artista para dar a vida ao apelido de infância que ganhou do pai.
Uma proposta mais sincera impossível.
Com esse novo projeto a voz da cantora já parece ter sido feita para ninar adultos e crianças.
De uma licença poética, porém, até o projeto lançado em 2004, foram anos de lapidação.
Sucesso de público e crítica, recebendo diversos prêmios, os mais inusitados possíveis, Adriana Partimpim 1, ganhou disco de ouro e recebeu o selo de “altamente recomendável para crianças e adolescentes” pelo Ministério da Justiça.
Numa continuação quase obrigatória, Adriana consegue agora se superar neste segundo e surpreso projeto que inclui de Caetano a Bob Dylan por Zé Ramalho, a Olodum e João Gilberto pela própria Adriana. Não entenderam a mistura? É que no mundo fantástico de Partimpim “todo mundo pode / pode tudo” como revela a canção carnavalesca que abre o disco “Baile Partimcundum”.
O resultado é comovente assim como redescobrir a própria infância: não teria como revelá-lo aqui com qualquer adjetivo que eu tentasse usar.
É inevitável que alguns críticos indiquem uma “repetição de fórmula” em Adriana Partimpim 2 como se um projeto genial pudesse assim se esgotar tão rapidamente. Mas afinal quem liga para os críticos?
A versão para “Gatinha Manhosa” deve arrebatar mais uma vez o grande público: está aos moldes de “Fico Assim Sem Você”, versão para música de Claudinho e Bochecha que surpreendeu a todos no lançamento de 2004.
O segundo álbum do projeto Partimpim consegue a proeza de superar o primeiro e marcar de vez com dedos manchados de tinta um fato inusitado na música brasileira: uma cantora e compositora já consagrada pelo seu trabalho autoral revela um alterego capaz de uma comunicação incrível, maior até do que suas próprias “canções adultas”.
Futuramente Adriana Calcanhotto corre o risco de ser ofuscada por Adriana Partimpim, tamanha a simpatia do público de todas as idades pela personagem infantil.
Em um momento no qual se discute tão acirradamente a morte da infância, é um bálsamo ouvir a luz do canto de Adriana ressuscitar tempos que não voltam mais.
* Samuel Marinho é colaborador deste blogue, contador e servidor público federal.
Já faz algum tempo que nos acostumamos à voz doce e às composições emocionadas de Adriana Calcanhotto. Bastaria canções como “Metade”, “Mentiras”, “Esquadros”, “Vambora” e “Depois de ter você”, só pra citar algumas, para torná-la inesquecível.
Nem precisaria ela ter emprestado algumas músicas marcantes para as vozes de Maria Bethânia ou Leila Pinheiro.
Ela nem precisaria se arriscar em musicar versos de Mário de Sá Carneiro e se doar a experimentalismos poéticos com Wally Salomão, Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Arnaldo Antunes.
Não precisaria também ter comido Caetano cru “pelado por bacantes num espetáculo”, deixando bem expressa sua visão lúdica da antropofagia, uma de suas marcas.
Mas a música de Adriana parece o tempo inteiro evoluir para algo surpreendentemente belo e indizível, no campo onde as palavras não chegam e talvez somente a música alcance, embora sempre triunfe a palavra, plena, na intenção artística da compositora gaúcha.
Isso é Adriana Partimpim: um heterônimo criado pela artista para dar a vida ao apelido de infância que ganhou do pai.
Uma proposta mais sincera impossível.
Com esse novo projeto a voz da cantora já parece ter sido feita para ninar adultos e crianças.
De uma licença poética, porém, até o projeto lançado em 2004, foram anos de lapidação.
Sucesso de público e crítica, recebendo diversos prêmios, os mais inusitados possíveis, Adriana Partimpim 1, ganhou disco de ouro e recebeu o selo de “altamente recomendável para crianças e adolescentes” pelo Ministério da Justiça.
Numa continuação quase obrigatória, Adriana consegue agora se superar neste segundo e surpreso projeto que inclui de Caetano a Bob Dylan por Zé Ramalho, a Olodum e João Gilberto pela própria Adriana. Não entenderam a mistura? É que no mundo fantástico de Partimpim “todo mundo pode / pode tudo” como revela a canção carnavalesca que abre o disco “Baile Partimcundum”.
O resultado é comovente assim como redescobrir a própria infância: não teria como revelá-lo aqui com qualquer adjetivo que eu tentasse usar.
É inevitável que alguns críticos indiquem uma “repetição de fórmula” em Adriana Partimpim 2 como se um projeto genial pudesse assim se esgotar tão rapidamente. Mas afinal quem liga para os críticos?
A versão para “Gatinha Manhosa” deve arrebatar mais uma vez o grande público: está aos moldes de “Fico Assim Sem Você”, versão para música de Claudinho e Bochecha que surpreendeu a todos no lançamento de 2004.
O segundo álbum do projeto Partimpim consegue a proeza de superar o primeiro e marcar de vez com dedos manchados de tinta um fato inusitado na música brasileira: uma cantora e compositora já consagrada pelo seu trabalho autoral revela um alterego capaz de uma comunicação incrível, maior até do que suas próprias “canções adultas”.
Futuramente Adriana Calcanhotto corre o risco de ser ofuscada por Adriana Partimpim, tamanha a simpatia do público de todas as idades pela personagem infantil.
Em um momento no qual se discute tão acirradamente a morte da infância, é um bálsamo ouvir a luz do canto de Adriana ressuscitar tempos que não voltam mais.
* Samuel Marinho é colaborador deste blogue, contador e servidor público federal.
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