Fernando Henrique e Lula panfletando na porta da fábrica, nos anos 80 |
A fronteira entre o PT e o PSDB é curta e tênue.
Logo após a campanha de 2014, quando amigos e familiares
ainda costuravam as feridas provocadas pelo tom agressivo da guerra eleitoral,
a presidente eleita Dilma Roussef negou suas promessas e transformou-se em uma
espécie de Aécio Neves de saia.
Dilma adotou o programa econômico do PSDB e efetivou no
Ministério da Fazenda um dos principais representantes do neoliberalismo –
Joaquim Levy.
Ato contínuo, o governo petista adotou uma série de medidas restritivas
aos direitos dos trabalhadores, atingindo salários e aposentadoria.
Tudo aquilo que se esperava de um governo tucano foi
antecipado pelo segundo mandato de Dilma.
Lula e Fernando Henrique, companheiros de velhas lutas |
Portanto, é preciso superar o maniqueísmo entre o PT e o
PSDB. Esse fundamentalismo partidário entre vermelhos e amarelos não leva a
lugar nenhum.
Para além das paixões eleitorais e afetos partidários,
agravou-se uma crise da democracia brasileira que vai perdurar e seguir
contaminando este e o próximo governo a ser eleito em 2018.
A crise é grave, ampla e não será resolvida apenas com a
vitória eleitoral do PT ou do PSDB. Todo o Estado brasileiro está controlado
pela corrupção eleitoral e administrativa.
Diante desse cenário, não será surpresa se Lula e FHC
abrirem um diálogo na perspectiva de construir uma agenda mínima para o Brasil.
Afinal, entre eles não há grandes divergências. Os tucanos
deram a Lula o mapa para navegar nas águas mansas da estabilidade do Plano
Real. Até os economistas do PT reconhecem isso!
Lula aperfeiçoou os programas sociais criados pelo PSDB,
transformando o Bolsa Família em uma das maiores plataformas de distribuição de
renda do mundo.
INIMIGO MAIOR
Parasitismo do PMDB está agora sob o comando de Eduardo Cunha e Renan Calheiros |
Na atual conjuntura e no pós-2018, seja qual for o
presidente eleito, o governo será parasitado pelo PMDB e a sua constelação – o
PMDBismo.
O PMDBismo é a moeda da governabilidade, o cimento político do
conservadorismo democrático e da corrupção. Nos últimos 20 anos, já teve várias
denominações: Anões do Orçamento, Centrão, Mensalão e Petrolão.
No retrato atual da conjuntura, a principal figura pública
do PMDBismo é o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, síntese da
política degenerada em todos os sentidos.
O PMDBismo é a negação da
República, porque parasita todos os governos. É disso que o Brasil precisa se
livrar, atacando a cultura política
que domina o sistema partidário brasileiro.
Esse tipo de
coronelismo contemporâneo sustenta o ciclo vicioso do financiamento de campanha
e amplia essa prática para a compra de apoio dentro do Congresso Nacional,
através de cargos, favores e, na versão degenerada, o pagamento em dinheiro aos
parlamentares.
PACTO PELO BRASIL
Lula herdou de FHC a estabilidade do Plano Real, criado pelos tucanos |
Lula já manifestou interesse em dialogar com FHC. Se a ideia
prosperar, petistas e tucanos podem consolidar um bloco partidário para
enfrentar o parasitismo do PMDB e construir uma agenda urgente para o Brasil.
A Reforma Política, cortando o financiamento privado de
campanha, deve ser o centro do debate, viabilizando uma Constituinte Exclusiva
para rever as regras do jogo.
É fundamental estancar o mecanismo de alimentação financeira
dos partidos por meios escusos. Essa é a raiz principal dos esquemas de
corrupção que controlaram o Congresso Nacional.
Torna-se impositivo cortar pela raiz o mal da corrupção
eleitoral.
Além da reforma política, a agenda entre PT e PSDB deve
incluir a pactuação da governabilidade sem submissão ao PMDB, daí a necessidade
da aliança entre petistas e tucanos dentro do Congresso Nacional.
Outra questão fundamental é atualizar o programa da
social-democracia, comum ao PT e ao PSDB, construindo um conjunto de ações para
a retomada do desenvolvimento econômico.
A crise é ruim para todos os partidos que pretendem
construir a governabilidade no quadro atual.
Diante das condições políticas e administrativas do Brasil
contemporâneo, inviável sob a égide do PMDBismo, a saída é juntar as afinidades
e o pragmatismo do PT e do PSDB para salvar o Brasil.
Acima de tudo, é
preciso deixar bem claro que o pacto não tem o objetivo de resolver as graves
desigualdades do Brasil. Essa é uma questão mais profunda do capitalismo e da
luta de classes.
O pacto é uma agenda
emergencial, visando impedir o caos político e administrativo, que vai
penalizar principalmente os mais pobres.
EVITANDO O PIOR
Lula já enviou sinais de que está aberto ao diálogo com os tucanos liderados por FHC |
Assim, o pacto entre
o PT e o PSDB visa destruir o inimigo maior – o PMDBismo – para evitar o pior
cenário: a ascensão do fascismo e a negação da democracia.
Enquanto petistas e tucanos apaixonados se agridem na
internet, enxergando grandes diferenças entre Lula e FHC, a extrema direita
cresce, ganhando a simpatia de fanáticos despolitizados.
Nesse oceano de incertezas e vazios na condução do país, há
um ambiente fértil para a adesão da massa desempregada e sem esperança aos
ideais totalitários. O Congresso Nacional está cheio de Bolsonaros dispostos a
conduzir as insatisfações da população ao pior dos mundos.
A democracia foi o melhor regime até agora construído pela
humanidade, com todos os seus defeitos. Não podemos abrir mão dela.
O pacto PT+PSDB visa evitar o pior – a emergência de setores
fascistas e a abertura de espaço para os golpismos da extrema direita.
Entre a social-democracia de Lula/FHC e o fascismo da
extrema direita, é melhor ficarmos com a parceria tucano-petista.
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