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terça-feira, 12 de maio de 2015

FUNDAMENTALISMO E MANIQUEÍSMO NA CENA POLÍTICA

Pugilato verbal entre petistas e tucanos tem a tônica do ódio
A maneira menos adequada de fazer a cobertura política é dividir o Brasil entre o bem e o mal. Esse maniqueísmo não ajuda a entender a realidade e informar corretamente o público.

Tudo começa no Jornal Nacional, quando trata apenas o PT e seus aliados como criminosos, escondendo as falcatruas tucanas e DEMistas.

A cobertura da Rede Globo vai de encontro à configuração dos partidos. Se as legendas tradicionais estão cada dia mais parecidas, porque apenas umas são corruptas e outras não?

Por que os petistas são demônios e os tucanos, anjos?

Mas, o fundamentalismo não ocorre apenas nos meios de comunicação. É característica também dos partidos.

Militantes do PT e do PSDB passam o dia nas redes sociais se agredindo, enquanto o governo Dilma Roussef (PT) copia quase tudo dos tucanos: a prática corrupta, a política econômica e até a escolha do ministro da Fazenda preferido de Aécio Neves.

Enquanto a militância se mata, às vezes até ingenuamente, o petismo segue cada vez mais atucanado.

O fundamentalismo geralmente cega a capacidade de análise e dificulta ver no adversário alguma virtude.

O ódio e os afetos estão acima de qualquer coisa, até mesmo da razoabilidade. Qualquer tucano é inimigo mortal de um petista. E vice-versa.

Esse passionalismo é incapaz de reconhecer equilíbrio nas posturas de Fernando Henrique e José Serra, tucanos de proa, que se manifestaram contra o impeachment de Dilma.

Por puro ódio, de olhos vendados à realidade, tem militante acreditando que Lula é Deus, Zé Dirceu é Santo, Fernando Henrique é Papa e Aécio Neves o Messias.

Os ativistas partidários nas redes sociais agem por várias motivações.
A presidente Dilma Roussef copiou quase tudo de Aécio Neves
Uns têm negócios com o governo e se manifestam para não perder seus esquemas. Outros destilam opiniões por enxergarem diferenças abissais entre “PT esquerda” e “PSDB direita”.

E tem aqueles que agem por ingenuidade ou como amestrados, repetindo os mantras dos chefes.

Estes são ventríloquos e beiram ao ridículo. Passam o dia na Internet espalhando que o partido adversário também é corrupto, desviou montanhas de dinheiro público e é mais bandido. Traduzindo: “o meu partido é degenerado, mas o adversário é mais!”

MARANHÃO

O mesmo ocorre no Maranhão, onde o maniqueísmo se traduz em Sarney e anti-Sarney.

Na forma fundamentalista de ver a política, tudo de ruim está no primeiro e a bondade no outro grupo.

É mais um equívoco que só se alimenta no ódio das redes sociais e nos blogs alinhados aos dois campos políticos, mas sem raiz na política real.
O governador Flávio Dino amplia a base nos tucanos: Luis Fernando com a ficha do PSDB
Eleito, o governador Flávio Dino (PCdoB) escolheu o sarneísta Rogério Cafeteira (PMDB) para liderar a bancada governista na Assembleia Legislativa.

O PMDB, outrora um mastodonte político de Sarney, está dividido em três facções: os mudos, os desertores e os oposicionistas. Os primeiros sequer tem coragem de assumir o papel de oposição; os segundos, mudaram de partido.

A oposição a Dino ficou reduzida a quatro deputados das famílias Sarney & Murad.

Enquanto o PMDB murcha, os tucanos se agigantam no Maranhão.

Tendo o PSDB na vice-governadoria e uma ampla base nas bancadas federal e estadual, Flávio Dino constrói a governabilidade costurando aliados em um amplo espectro partidário.

O maior exemplo é a filiação de Luís Fernando Silva no PSDB, ex-candidato a governador da oligarquia Sarney em 2014 e braço direito da ex-governadora Roseana Sarney.

Outrora demonizado nos blogs e redes sociais mantidas pelos comunistas, Luís Fernando é alçado ao posto de celebridade tucana da base de Flávio Dino.

Luis Fernando passou a ser o tucano mais comunista do Maranhão.

Não há nada de absurdo nisso. É apenas a política real, o ajuste das forças partidárias de acordo com a imbatível atração gravitacional do Palácio dos Leões.

Ao final das contas, nada impede que Flávio Dino faça um bom governo, inclusive com o apoio dos velhos e novos tucanos que foram aliados de José Sarney.

Uma gestão eficiente é sobretudo resultado de uma boa capacidade gerencial, baseada em um programa de governo consistente, articulação política e dinheiro para tocar obras.

Quem pensa e escreve sobre política com a lente do fundamentalismo, acaba correndo o risco de passar por diversos constrangimentos.

O ex-homem forte de Roseana Sarney foi recebido com glórias no PSDB. Quem o atacava com ódio, vai defendê-lo com carinho, porque agora Luís Fernando faz parte da base do governo Flávio Dino.

O maniqueísmo e o fundamentalismo só servem para alimentar igrejismos ideológicos que não correspondem à política real.

São formas de despolitização da política.

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