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domingo, 31 de maio de 2015

O BLÁ, BLÁ, BLÁ SUICIDA DE LOBÃO

por Samuel Carvalho Marinho, contador e estudante de Psicologia

Dez anos já se passaram sem que o cantor e compositor Lobão tenha efetuado um registro musical digno de sua trajetória marcante na música brasileira.

Pelo contrário, sua carreira já se configura como um caso ímpar de desconstrução na história da nossa música popular, daquilo que antes era um incontestável caminho de subversão, pautado na mais clássica atitude rock´n´roll.

Se em outros tempos a posição política foi o trampolim da carreira de muitos artistas brasileiros, no caso de Lobão hoje parece ser o peso do guindaste que o faz descer ladeira abaixo.  

E à decadência do lobo falta uma certa dose de elegância.  Ninguém parece mais levar a sério seus os uivos e grunhidos, cheios de devaneios e contradições.

Sofrendo de uma espécie de síndrome tardia do “rock errou”, ele parece muito tranqüilo e consciente do suicídio que comete ao vestir a ridícula carapuça de pastiche do rock e se aliar a uma corrente ultraconservadora, daquelas de ir pra rua defender a volta do regime militar.

Pra quem compôs “Vida Bandida”, um brado vibrante e muito consciente sobre o cerceamento da própria liberdade, elogiar a ditadura e soltar ataques pessoais a Chico Buarque é jogar na lata de lixo o pouco de brilhantismo que conseguiu propagar.

Do mágico e pertubador universo paralelo criado em 1999 com a “Vida é Doce”, marco na produção independente da música brasileira, Lobão segue muito longe do rastro daquela originalidade musical e da poética conturbada que exalava a um só brado anarquia e independência, com todos os adjetivos pueris que isso pode nos inspirar.

É dele também a incursão mais surpreendente pelo mundo do samba, com uma visão ultra-particular regada a overdoses de filosofia contemporânea, registrado no pouco conhecido, mas não menos genial, “Nostalgia da Modernidade”.

Tivesse o fim trágico dos seus ilustres pares dos anos 80, o compositor de “Vida Louca Vida” talvez ocupasse hoje confortavelmente o trono da realeza do BRock, na prateleira daqueles rebeldes aparentemente sem causa que morreram cedo demais.

Mas quem sabe esse ideal iconoclasta realmente nem seja interesse de quem carrega nas veias uma subversão acima de qualquer suspeita, e eu possa estar completamente enganado. Afinal o homem é lobo do próprio homem, e Lobão, há muito se sabe, é também um artista de adjetivos múltiplos e fortes para a vida: breve, louca, bandida, doce.

Que venha então o seu réquiem uivado e o retire de vez desse inferno astral, sob a forma de canção, como há de ser...  Que de blá, blá, blá radiofônico em tempos de twitter a gente já tá cheio.

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