Fernando César Moraes *
Com o objetivo de explicar os efeitos da comunicação de
massa sobre a sociedade contemporânea, o teórico da comunicação canadense Marshall McLuhan desenvolveu na década de 60 o conceito de aldeia global. De
acordo com sua teoria, a abolição das distâncias e do tempo, bem como a
velocidade cada vez maior, que ocorreria no processo de comunicação em escala
global, nos levaria a um processo de retribalização, onde barreiras culturais,
étnicas, geográficas, entre outras, seriam relativizadas.
Esta década vê surgir, como uma consequência da comunicação
via internet, e pertinente a esta aldeia, várias inovações que vão exigir uma
adequação entre o estabelecido e o que está chegando.
Assim, conflitos entre motoristas de taxi e prestadores de
serviço que, através do aplicativo Uber, oferecem um serviço
semelhante; ou o Netflix, onde o usuário tem acesso a uma gama de filmes, séries
e documentários, em concorrência direta com a TV a cabo, mostram a nova fase da
tecnologia a serviço do consumidor.
Um dos maiores acontecimentos, sem dúvida, trata-se da
popularização do WhatsApp. O aplicativo que foi transformado em um
representante, agora bidirecional, da aldeia global de McLuhan, ao possibilitar
a transmissão de textos, voz e vídeo, bem como a circulação de cerca de 30
bilhões de mensagens por dia, congrega no momento 800 milhões de usuários em
todo o mundo.
O Brasil, sempre disposto a estas inovações, participa com
mais de 45 milhões de usuários deste aplicativo e, segundo dados do IDC
(International Data Corporation), tem previsão de comercialização de 54
milhões de unidades de smartphones durante este ano apesar da crise econômica.
Este mesmo estudo aponta, também, que 15% dos aparelhos vendidos em 2014 têm
acesso à rede 4G. Para 2015, a IDC espera um crescimento em torno de 30% a 35%,
permitindo, deste modo, a ampliação do número de usuários do WhatsApp.
Como aparecem os grupos de interesses comuns, amigos,
familiares, e etc, surgem também os inúmeros debates patrocinados pelos atores
que participam desta relação global.
Evidente que as operadoras de telefonia móvel brasileiras
não estão satisfeitas com o crescimento do WhatsApp, tendo elas já se
posicionado contra o comunicador instantâneo mais utilizado no país e
popularmente apelidado de “zap-zap”.
O recurso de chamadas VoIP (Voz sobre IP), que permite o
serviço de voz, parece incomodar as operadoras móveis pelo simples fato de
estar associado diretamente a um número de telefone, e não a um login como, por
exemplo, acontece no Skype da Microsoft.
O presidente da Vivo vem associando o aplicativo a
pirataria. A Tim, Vivo, Claro e Oi estão preparando um documento com
embasamentos econômicos e jurídicos contra o funcionamento do aplicativo no
Brasil, pelo fato dele “não ser regulamentado para chamadas de voz”.
O Ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, afirmou que
os serviços desses aplicativos exigem forte investimento em infraestrutura e
não geram novos postos de trabalho no país, sinalizando que o Estado
brasileiro, em tempos de poucos recursos, poderá através do WhatsApp buscar
mais algum expediente para o seu caixa. Será que o ministro esqueceu que, por
ser um serviço de valor adicionado, já quitamos nossa parte ao
pagarmos a conta da internet?
A questão da utilização dos aplicativos presentes na rede se insere em um debate maior, tanto nacional como internacional, que vem
acontecendo entre as empresas de telefonia e os provedores de conteúdo. O
WhatsApp é mais uma face desta disputa.
Nós, consumidores submetidos às nossas chamadas telefônicas
caras e ineficientes, assistimos a esta disputa torcendo pelo melhor
atendimento.
Será o WhatsApp, com a sua formação de grupos e o
crescimento exponencial, o melhor representante da aldeia global de McLuhan? Nossos
relacionamentos serão expressos por ele?
Com a palavra, os teóricos da comunicação.
* Engenheiro Eletrônico e consultor em tecnologia.
WhatsApp: (98) 991173403.
E-mail: fcemoraes@gmail.com
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