Um homem de meia idade, baixo, com a farda vermelha da Limpel, tentava amontoar o lixo espalhado no meio de um terreno baldio, onde deveria ser uma praça. A cena passa nos arredores da Cidade Operária. Sob o sol de outubro, parei para pedir uma informação. Eu estava à procura do endereço da Rádio Realidade, no bairro Santa Clara.
- O senhor pode informar onde fica a Rádio Realidade, indaguei.
O gari parou seu trabalho, limpou o suor da testa, colocou a pá em pé (paralela ao seu corpo), cruzou as pernas, sustentou o braço sobre o cabo da ferramenta e disparou:
“O senhor atravessa esse terreno direto e pega a rua do outro lado. Vá em frente até alcançar a avenida larga. Quando chegar lá adiante, vai encontrar um esgoto. Passando dele, tem uma vala. Adiante da vala o senhor vira à direita. Aí vai dar de frente com um terreno abandonado onde tem um lixeiro e uma água escorrendo. Ande mais um pouquinho e vire à esquerda que vai dar certinho na rádio.”
E foi assim, seguindo as pistas do informante, que cheguei ao local procurado. Só tive o cuidado de não me confundir com as outras cenas muito parecidas. Quase todos os terrenos baldios, onde deveria haver praças ou quadras, estavam abandonados ou transformados em lixeiros improvisados.
Os esgotos, as valas, a poeira, o odor etc “povoavam” muitos lugares por onde passei durante a campanha eleitoral de 2008. As áreas periféricas de São Luís parecem ter sido bombardeadas. São pequenas cidades pós-guerra. Tristes, abandonadas, feias e sujas.
Vejo as imagens dos ataques na Palestina. As cidades arrasadas pela guerra choram seus mortos. Eu lamento por eles e também pelas nossas palestinas de São Luís, arrasadas pelas administrações das últimas duas décadas.
São Luís está morta, vítima das administrações bélicas.
As pessoas criativas, alegres e trabalhadoras da Cidade dos Azulejos não merecem essas cidades operárias bombardeadas, com suas vielas sujas, transformadas em moquifos suburbanos.
No sol escaldante de setembro/outubro, imensos terrenos baldios levantam poeira. Sacos e sacolas plásticas azuis e brancas rodopiam ao vento até engatarem nos arbustos secos. Os ônibus, carros e vans enfrentam verdadeiras crateras na via pública ou improvisam caminhos sobre os lugares onde deveria haver praças.
Quando o inverno chegar, a lama vai fazer parte do enredo.
Os bares, as feiras improvisadas e tendas de lanches estão por todos os lugares, amontoados, remendando o tecido periférico da cidade.
Mas essa realidade não é só da periferia. Em qualquer bairro de São Luís, do Renascença ao Cohatrac, os esgotos e o lixo são as referências. Ganham visibilidade no cenário da pólis.
São Luís está perto de completar 400 anos, em 2012. Durante os últimos 20 anos foi administrada pelo mesmo grupo político. O novo prefeito segue a mesma corrente.
Mas um dia vai melhorar. Sou otimista e persistente. Espero chegar a um lugar em nossa cidade, à procura de um endereço, e receber as seguintes indicações:
“O senhor contorna a quadra de esportes e pega à direita até chegar no parque. Vire à esquerda, atravesse a galeria, o colégio e o prédio da fábrica de roupas. A rádio fica perto do centro cultural, bem defronte da praça nova.”
- O senhor pode informar onde fica a Rádio Realidade, indaguei.
O gari parou seu trabalho, limpou o suor da testa, colocou a pá em pé (paralela ao seu corpo), cruzou as pernas, sustentou o braço sobre o cabo da ferramenta e disparou:
“O senhor atravessa esse terreno direto e pega a rua do outro lado. Vá em frente até alcançar a avenida larga. Quando chegar lá adiante, vai encontrar um esgoto. Passando dele, tem uma vala. Adiante da vala o senhor vira à direita. Aí vai dar de frente com um terreno abandonado onde tem um lixeiro e uma água escorrendo. Ande mais um pouquinho e vire à esquerda que vai dar certinho na rádio.”
E foi assim, seguindo as pistas do informante, que cheguei ao local procurado. Só tive o cuidado de não me confundir com as outras cenas muito parecidas. Quase todos os terrenos baldios, onde deveria haver praças ou quadras, estavam abandonados ou transformados em lixeiros improvisados.
Os esgotos, as valas, a poeira, o odor etc “povoavam” muitos lugares por onde passei durante a campanha eleitoral de 2008. As áreas periféricas de São Luís parecem ter sido bombardeadas. São pequenas cidades pós-guerra. Tristes, abandonadas, feias e sujas.
Vejo as imagens dos ataques na Palestina. As cidades arrasadas pela guerra choram seus mortos. Eu lamento por eles e também pelas nossas palestinas de São Luís, arrasadas pelas administrações das últimas duas décadas.
São Luís está morta, vítima das administrações bélicas.
As pessoas criativas, alegres e trabalhadoras da Cidade dos Azulejos não merecem essas cidades operárias bombardeadas, com suas vielas sujas, transformadas em moquifos suburbanos.
No sol escaldante de setembro/outubro, imensos terrenos baldios levantam poeira. Sacos e sacolas plásticas azuis e brancas rodopiam ao vento até engatarem nos arbustos secos. Os ônibus, carros e vans enfrentam verdadeiras crateras na via pública ou improvisam caminhos sobre os lugares onde deveria haver praças.
Quando o inverno chegar, a lama vai fazer parte do enredo.
Os bares, as feiras improvisadas e tendas de lanches estão por todos os lugares, amontoados, remendando o tecido periférico da cidade.
Mas essa realidade não é só da periferia. Em qualquer bairro de São Luís, do Renascença ao Cohatrac, os esgotos e o lixo são as referências. Ganham visibilidade no cenário da pólis.
São Luís está perto de completar 400 anos, em 2012. Durante os últimos 20 anos foi administrada pelo mesmo grupo político. O novo prefeito segue a mesma corrente.
Mas um dia vai melhorar. Sou otimista e persistente. Espero chegar a um lugar em nossa cidade, à procura de um endereço, e receber as seguintes indicações:
“O senhor contorna a quadra de esportes e pega à direita até chegar no parque. Vire à esquerda, atravesse a galeria, o colégio e o prédio da fábrica de roupas. A rádio fica perto do centro cultural, bem defronte da praça nova.”
Um comentário:
É de lascar, meu amigo. Que bom que és um otimista, pelo meu lado, acho que em breve isso será o inferno.
Cérbero
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