O título da postagem anterior deste blogue – “Multidão aclama Jackson em Imperatriz...” – tem fundamento.
Havia pelo menos duas mil pessoas na rua durante a manifestação de sexta-feira 12, contra a cassação do mandato do governador Jackson Lago (PDT). O jornal “O Progresso” contou 5 mil e a Assessoria do Governo calculou 15 mil.
O blogue tentou várias vezes obter o número oficial da Polícia Militar. Em vão. No dia seguinte 13, ao encontrar um soldado nas imediações do campus da Ufma, questionei novamente sobre a quantidade de pessoas na passeata.
- Nem fizemos questão de conferir. A corporação está insatisfeita com o governador, respondeu o policial.
Números à parte, o fato é que a avenida Dorgival Pinheiro de Sousa estava apinhada de gente e o ato público final lotou a praça de Fátima.
Grande parte do público foi arregimentada pelos prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, MST e líderes comunitários da região.
O prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira (PSDB), caiu em campo para prestigiar o governador. Foi à rua chamar o povo e liberou os funcionários e as escolas. Caravanas de 13 cidades, citadas no palanque, engrossaram a soma.
OUTRA HISTÓRIA
Existem, porém, outras motivações no episódio. Em Imperatriz e arredores, caminham de mãos dadas dois sentimentos: o separatismo e o anti-sarneísmo.
Gari, pistoleiro, garimpeiro, fazendeiro, paneleira, motoboy, taxista, cobrador, estudante, advogado, comerciante, empreiteiro etc, todo imperatrizense nativo ou forasteiro adotado tem a mesma tese: “a família Sarney abandonou Imperatriz”.
A região tocantina era interpretada como um faroeste maranhense. Uma terra sem lei, em estágio pré-político, arbitrada pela força do crime organizado sob o comando do ex-deputado federal Davi Alves Silva.
Nesse ambiente, as instruções normativas do Estado não cabiam. Até que veio a “Operação Tigre”, sob o comando do sarneísta João Alberto, dizimando uma parte do crime organizado e até o desorganizado.
Mas o sentimento de “abandono” ficou latente. Só foi moderado nas duas gestões de Roseana Sarney (1994 a 2002), no governo itinerante, ainda assim timidamente.
Então, aos poucos, a oposição foi construindo dois discursos bem elaborados: era preciso separar a região tocantina e divorciar-se de Sarney – o pai que abandonou o filho distante.
A tese do Maranhão do Sul foi rapidamente incorporada pelo ainda deputado Sebastião Madeira (PSDB). A proposta eleitoreira foi aos poucos sendo incorporada à cultura dos sulistas maranhenses. E hoje é quase um messianismo.
LASTRO DE JACKSON
Jackson Lago soube aproveitar as circunstâncias específicas da geopolítica do Maranhão. Em 2006 escolheu um candidato a vice de Imperatriz, o pastor Luis Carlos Porto (PPS).
Nas disputas anteriores ao Governo do Estado, Lago também emplacou vices do sul: Jomar Fernandes e Deoclides Macedo.
E mais: depois de eleito, desembarca pelo menos duas vezes por mês na região tocantina. O governador é quase um filho adotivo de Imperatriz, de onde já recebeu o título de cidadão.
A escolha do vice Luis Porto, além do critério geográfico, atentou ao cenário da religiosidade local. Porto é pastor. E Imperatriz é cheia de contrastes. A violência continua, diante de uma avassaladora expansão do movimento evangélico na cidade.
Na outra coligação, liderada por Roseana Sarney, a escolha do vice João Alberto (PMDB) não atendia mais às necessidades de contenção da violência nos moldes da “Operação Tigre.” Em Imperatriz ainda se vive de bala, mas muito mais de bíblia.
Ao messianismo separatista junta-se um forte clamor por Deus. As próprias tragédias comuns na cidade (assassinatos de prefeito, padre, empresários, crimes passionais etc), quando exacerbadas, motivam manifestações de cunho religioso.
PACOTE COMPLETO
Mas, além do vice com essas características, faltava a Jackson Lago cumprir uma outra tarefa: demonstrar entusiasmo pelo Maranhão do Sul. E assim foi feito, na esteira da bandeira eleitoreira de Madeira e de tantos outros.
Pode considerar-se um amaldiçoado o cidadão que se posicionar contrário ao Maranhão do Sul ou questionar por razões técnicas a criação de uma nova unidade federativa.
Foi esse caldo cultural, somado aos “incentivos financeiros” do ex-governador José Reinaldo (PSB), que impulsionou a vitória de Jackson Lago em Imperatriz, chegando a quase 80% dos votos no segundo turno.
Jackson Lago foi mais habilidoso na estratégia. Até em eleição de sindicato criou-se a cultura de um vice do sul do Maranhão. A religiosidade e o separatismo ficam como sugestão para os estudos de antropólogos, sociólogos e teólogos.
Fato concreto é que o governador foi bem recebido em Imperatriz. Não por 5 ou 15 mil pessoas, mas por pelo menos 2 mil. É muito, considerando-se a indiferença da população de São Luís à sua cassação.
A manifestação poderia ter sido perfeita, não fosse o deslize do último orador. Já era noite na praça de Fátima, o tempo estava abafado, quando Jackson Lago concluía seu tão esperado discurso.
Num governo engendrado e consorciado ainda na gestão de José Reinaldo, marcado por obras inacabadas e outras inexistentes, desvio de recursos (Ópera-Prima), novos milionários surgindo do dia para a noite, arrocho salarial e aliança com a direita tucana, Jackson Lago terminou seu discurso conclamando o povo a resistir em defesa do seu mandato.
Sem tremer nem temer, disse assim: Vamos à luta, por “trabalho, honestidade, ética e aplicação correta do dinheiro público”.
Havia pelo menos duas mil pessoas na rua durante a manifestação de sexta-feira 12, contra a cassação do mandato do governador Jackson Lago (PDT). O jornal “O Progresso” contou 5 mil e a Assessoria do Governo calculou 15 mil.
O blogue tentou várias vezes obter o número oficial da Polícia Militar. Em vão. No dia seguinte 13, ao encontrar um soldado nas imediações do campus da Ufma, questionei novamente sobre a quantidade de pessoas na passeata.
- Nem fizemos questão de conferir. A corporação está insatisfeita com o governador, respondeu o policial.
Números à parte, o fato é que a avenida Dorgival Pinheiro de Sousa estava apinhada de gente e o ato público final lotou a praça de Fátima.
Grande parte do público foi arregimentada pelos prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, MST e líderes comunitários da região.
O prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira (PSDB), caiu em campo para prestigiar o governador. Foi à rua chamar o povo e liberou os funcionários e as escolas. Caravanas de 13 cidades, citadas no palanque, engrossaram a soma.
OUTRA HISTÓRIA
Existem, porém, outras motivações no episódio. Em Imperatriz e arredores, caminham de mãos dadas dois sentimentos: o separatismo e o anti-sarneísmo.
Gari, pistoleiro, garimpeiro, fazendeiro, paneleira, motoboy, taxista, cobrador, estudante, advogado, comerciante, empreiteiro etc, todo imperatrizense nativo ou forasteiro adotado tem a mesma tese: “a família Sarney abandonou Imperatriz”.
A região tocantina era interpretada como um faroeste maranhense. Uma terra sem lei, em estágio pré-político, arbitrada pela força do crime organizado sob o comando do ex-deputado federal Davi Alves Silva.
Nesse ambiente, as instruções normativas do Estado não cabiam. Até que veio a “Operação Tigre”, sob o comando do sarneísta João Alberto, dizimando uma parte do crime organizado e até o desorganizado.
Mas o sentimento de “abandono” ficou latente. Só foi moderado nas duas gestões de Roseana Sarney (1994 a 2002), no governo itinerante, ainda assim timidamente.
Então, aos poucos, a oposição foi construindo dois discursos bem elaborados: era preciso separar a região tocantina e divorciar-se de Sarney – o pai que abandonou o filho distante.
A tese do Maranhão do Sul foi rapidamente incorporada pelo ainda deputado Sebastião Madeira (PSDB). A proposta eleitoreira foi aos poucos sendo incorporada à cultura dos sulistas maranhenses. E hoje é quase um messianismo.
LASTRO DE JACKSON
Jackson Lago soube aproveitar as circunstâncias específicas da geopolítica do Maranhão. Em 2006 escolheu um candidato a vice de Imperatriz, o pastor Luis Carlos Porto (PPS).
Nas disputas anteriores ao Governo do Estado, Lago também emplacou vices do sul: Jomar Fernandes e Deoclides Macedo.
E mais: depois de eleito, desembarca pelo menos duas vezes por mês na região tocantina. O governador é quase um filho adotivo de Imperatriz, de onde já recebeu o título de cidadão.
A escolha do vice Luis Porto, além do critério geográfico, atentou ao cenário da religiosidade local. Porto é pastor. E Imperatriz é cheia de contrastes. A violência continua, diante de uma avassaladora expansão do movimento evangélico na cidade.
Na outra coligação, liderada por Roseana Sarney, a escolha do vice João Alberto (PMDB) não atendia mais às necessidades de contenção da violência nos moldes da “Operação Tigre.” Em Imperatriz ainda se vive de bala, mas muito mais de bíblia.
Ao messianismo separatista junta-se um forte clamor por Deus. As próprias tragédias comuns na cidade (assassinatos de prefeito, padre, empresários, crimes passionais etc), quando exacerbadas, motivam manifestações de cunho religioso.
PACOTE COMPLETO
Mas, além do vice com essas características, faltava a Jackson Lago cumprir uma outra tarefa: demonstrar entusiasmo pelo Maranhão do Sul. E assim foi feito, na esteira da bandeira eleitoreira de Madeira e de tantos outros.
Pode considerar-se um amaldiçoado o cidadão que se posicionar contrário ao Maranhão do Sul ou questionar por razões técnicas a criação de uma nova unidade federativa.
Foi esse caldo cultural, somado aos “incentivos financeiros” do ex-governador José Reinaldo (PSB), que impulsionou a vitória de Jackson Lago em Imperatriz, chegando a quase 80% dos votos no segundo turno.
Jackson Lago foi mais habilidoso na estratégia. Até em eleição de sindicato criou-se a cultura de um vice do sul do Maranhão. A religiosidade e o separatismo ficam como sugestão para os estudos de antropólogos, sociólogos e teólogos.
Fato concreto é que o governador foi bem recebido em Imperatriz. Não por 5 ou 15 mil pessoas, mas por pelo menos 2 mil. É muito, considerando-se a indiferença da população de São Luís à sua cassação.
A manifestação poderia ter sido perfeita, não fosse o deslize do último orador. Já era noite na praça de Fátima, o tempo estava abafado, quando Jackson Lago concluía seu tão esperado discurso.
Num governo engendrado e consorciado ainda na gestão de José Reinaldo, marcado por obras inacabadas e outras inexistentes, desvio de recursos (Ópera-Prima), novos milionários surgindo do dia para a noite, arrocho salarial e aliança com a direita tucana, Jackson Lago terminou seu discurso conclamando o povo a resistir em defesa do seu mandato.
Sem tremer nem temer, disse assim: Vamos à luta, por “trabalho, honestidade, ética e aplicação correta do dinheiro público”.
7 comentários:
Ed, ótimo texto. Bem informativo. E gostosamente opinativo.
Abraços!
Larissa Leda
Bela análise, Ed. Mais uma vez você conseguiu deixar as coisas mais claras.E olha que a complexidade política da região tocantina não ajuda.Fico pensando, em virtude do que li aqui, que o impacto da saída de Jackson vai ser bem maior no sul do ma que na capital.
Joe e Larissa,
Grato pela leitura e comentários. Estou tentanto entender a cidade. Dá um trabalho...
Ed
Ed, se vale a sinestesia, este é um texto saboroso...
Caro Ed Wilson.
Parabéns por suas análises. Sem dúvida é uma boa contribuição para o entendimento do espírito do povo da região tocantina.
Saudações.
Caro professor:
Belo texto, muito bem exposta a analise sociologica. Creio porem que pela propria limitaçao de espaço nao foi abordanda um dos eixos que de certa forma ajuda-nos a entender a atual conjuntura: O governador jack lago situa-se permanentemente num governo, onde a correlação de forças ( com a chamada "Frente de LIbertação do MA) consegue brilhantemente,numa articulaçao tucano x petista ,recrudescer as lutas populares em pespectiva de cooptação inclusive de setores amplamente combativos.
No entanto vacila muito com o funcionalismo publico.
Tanto setores das Policias , quanto dos Professores estão dando graças a deus pela decandencia do velhinho.
Não obstante, nomes ja estão sendo chamados as escuras para compor o proximo governo, nomes inclusive muito ligados a "FRENTE".
Ed
quero te parabenizar pelo artigo aobre o tribunal de justiça, publicado na página de opinião do Tribuna do Nordeste.
Quero lembrar-te também do julgamento do juiz Jorge Moreno, a quem o tribunal de justiça se julga com para aposentá-lo. É mais um ato contra a população num estado tão carente de juízes.
Francisca
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