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sexta-feira, 6 de maio de 2011

ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA

Ai, palavras, ai, palavras,



Que estranha potência, a vossa!



Ai, palavras, ai, palavras,



Sois de vento, ides no vento.



No vento que não retorna.



E, em tão rápida existência,



Tudo se forma e transforma!





Sois de vento, ides no vento,



E quedais, com sorte nova!





Ai, palavras, ai, palavras,



Que estranha potência a vossa!



Todo o sentido da vida



Principia à vossa porta;



O mel do amor cristaliza



Seu perfume em vossa rosa;



Sois o sonho e sois a audácia,



Calúnia, fúria e derrota...





A liberdade das almas.



Ai! Com letras se elabora...



E dos venenos humanos



Sois a mais fina retorta:



Frágil, frágil como o vidro



E mais que o aço poderosa!



Reis, impérios, povos, tempos,



Pelo vosso pulso rodam....





(Cecília Meireles)

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