Sangue de Jesus tem poder. Leitor(a) assíduo deste blogue deve lembrar do texto As desventuras de Alice com a Força Nacional.
Depois da queda na rua Grande, Alice operou uma transformação radical na vida. Virou empreendedora em uma lanchonete/restaurante no centro de São Luis e converteu-se à Igreja Universal do Reino de Deus. Agora, é obreira do bispo Edir Macedo.
Foi um açoite nos meus olhos vê-la sem as tranças rastafari e os saltos altos com as fitas coloridas amarrando as pernas torneadas.
De cabelo curto e avental, está dedicadíssima à nova empreitada, desta feita não em busca do homem de formas perfeitas, mas da prosperidade pela força do trabalho e com os milagres da Universal.
Dizimista inveterada, deposita na conta do bispo Macedo o dinheiro outrora investido nas ações da AmBev, nos ingressos das festas de reggae, na choperia Cabão e no churrasquinho do fim-de-noite para matar a larica.
A lanchonete passou por uma ampla reforma, proporcionando um vai-e-vem de pedreiros e ajudantes a cortejar com os olhos as feições da moça. Ela está sempre de calça jeans, mas as formas permanecem perfeitas, inspirando os operários da obra.
Alice mudara, mas ficou nela, metafisicamente, aquela saborosa malandragem do olhar, a faceirice do sorriso e o bailado dos quadris. Não há como separá-la dessas imagens. Na essência, é a mesma; porém, com muitas reservas.
- Muitos homens aqui pedem meu telefone, mas eu não dou mesmo!, enfatizou com um abanar de cabeça, depois de instaurar um inquérito na minha vida.
Enquanto servia-me um café quentinho feito na hora, perguntou sobre meu estado civil, a profissão, o trabalho, os relacionamentos anteriores, as minhas aventuras amorosas, meu bairro e minhas preferências diversionais num falatório sem fim.
Até Leidiane, a tia de Alice, enfiou-se na conversa pedindo-me um conselho sobre o uso da pílula do dia seguinte. Recém-casada, Leidy (com ípsilon, para os íntimos) estava temerosa de uma gravidez não planejada por conta de um estouro do preservativo na noite anterior.
Fora esses parêntesis de Leidiane, a tagarelice de Alice á uma prosa surreal. Vai misturando os assuntos, entrando e saindo de mil papos, entrecortados com os comentários sobre as novelas e o noticiário da televisão, que ela detesta.
- Só tem tragédia na TV.
- Pois é, parece até um boletim de ocorrência. Rebati em cima da bucha.
- Olha, mudando de assunto, quem sabe um dia eu dou meu telefone para o senhor. Vamos ver se a gente faz dois mais dois virar cinco.
- Como assim? Indaguei, engasgando-me na xícara de café com a surpresa da proposta inusitada que me encheu de esperança.
Ela virou o rosto para um lado, deu uma rebanada, soltou uma gargalhada discreta e retomou o ar de sobriedade, fitando-me fixamente:
- Ah! A gente pode até dar uma volta, mas só até o Canto da Fabril. Se o senhor se converter para a Universal e pagar o dízimo, é assim que dois mais dois vira cinco.
Foi dessa forma que Alice me prendeu até hoje à lanchonete, onde sempre passo para tomar um café delicioso e fumar um cigarro, até criar coragem de ir à Universal.
Deus haverá de prover.
Depois da queda na rua Grande, Alice operou uma transformação radical na vida. Virou empreendedora em uma lanchonete/restaurante no centro de São Luis e converteu-se à Igreja Universal do Reino de Deus. Agora, é obreira do bispo Edir Macedo.
Foi um açoite nos meus olhos vê-la sem as tranças rastafari e os saltos altos com as fitas coloridas amarrando as pernas torneadas.
De cabelo curto e avental, está dedicadíssima à nova empreitada, desta feita não em busca do homem de formas perfeitas, mas da prosperidade pela força do trabalho e com os milagres da Universal.
Dizimista inveterada, deposita na conta do bispo Macedo o dinheiro outrora investido nas ações da AmBev, nos ingressos das festas de reggae, na choperia Cabão e no churrasquinho do fim-de-noite para matar a larica.
A lanchonete passou por uma ampla reforma, proporcionando um vai-e-vem de pedreiros e ajudantes a cortejar com os olhos as feições da moça. Ela está sempre de calça jeans, mas as formas permanecem perfeitas, inspirando os operários da obra.
Alice mudara, mas ficou nela, metafisicamente, aquela saborosa malandragem do olhar, a faceirice do sorriso e o bailado dos quadris. Não há como separá-la dessas imagens. Na essência, é a mesma; porém, com muitas reservas.
- Muitos homens aqui pedem meu telefone, mas eu não dou mesmo!, enfatizou com um abanar de cabeça, depois de instaurar um inquérito na minha vida.
Enquanto servia-me um café quentinho feito na hora, perguntou sobre meu estado civil, a profissão, o trabalho, os relacionamentos anteriores, as minhas aventuras amorosas, meu bairro e minhas preferências diversionais num falatório sem fim.
Até Leidiane, a tia de Alice, enfiou-se na conversa pedindo-me um conselho sobre o uso da pílula do dia seguinte. Recém-casada, Leidy (com ípsilon, para os íntimos) estava temerosa de uma gravidez não planejada por conta de um estouro do preservativo na noite anterior.
Fora esses parêntesis de Leidiane, a tagarelice de Alice á uma prosa surreal. Vai misturando os assuntos, entrando e saindo de mil papos, entrecortados com os comentários sobre as novelas e o noticiário da televisão, que ela detesta.
- Só tem tragédia na TV.
- Pois é, parece até um boletim de ocorrência. Rebati em cima da bucha.
- Olha, mudando de assunto, quem sabe um dia eu dou meu telefone para o senhor. Vamos ver se a gente faz dois mais dois virar cinco.
- Como assim? Indaguei, engasgando-me na xícara de café com a surpresa da proposta inusitada que me encheu de esperança.
Ela virou o rosto para um lado, deu uma rebanada, soltou uma gargalhada discreta e retomou o ar de sobriedade, fitando-me fixamente:
- Ah! A gente pode até dar uma volta, mas só até o Canto da Fabril. Se o senhor se converter para a Universal e pagar o dízimo, é assim que dois mais dois vira cinco.
Foi dessa forma que Alice me prendeu até hoje à lanchonete, onde sempre passo para tomar um café delicioso e fumar um cigarro, até criar coragem de ir à Universal.
Deus haverá de prover.
5 comentários:
Ótima crônica sobre a subjetividade ludovicense...
E a Universal Hein!? Não dá para simplificar esse fenômeno real apenas como um processo de "enganação coletiva" ou "estelionato da fé" ... Há algo mais, talvez oculta das aparências!Talvez as igrejas venham suprir carências reais da sociedade !!
Parabéns pelo texto.
Cristiano,
Qualquer dia desses vou com Alice à Universal para tirar a prova dos nove. Grato pelo comentário.
Ed Wilson
Maravilha.
Qualquer coisa, com a desgraça valdemiriana, quem sabe o dízimo na Mundial fica menor que na Universal?
Basta esperar.
Abraço, mestre.
Alice não me escreva aquela carta de amor...
"...Sempre tive medo das suas idéias.
Por que você precisa ser tão sincera?
Alice eu tô treinando pra te enfrentar."
Adorei, Ed!
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