Afagos políticos entre Aécio Neves e Marina Silva implodiram a Rede Sustentabilidade |
A "nova política" pregada por Marina Silva fez
água antes mesmo da oficialização da Rede Sustentabilidade.
O pretenso partido rachou durante a campanha eleitoral de
2014, quando Marina declarou apoio ao tucano Aécio Neves no segundo turno.
As feridas da campanha ficaram abertas e provocam novos
sangramentos. Rachada em vários grupos, a plataforma política da Rede
Sustentabilidade já teve defecções oficiais.
Sob a liderança da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP),
foi lançado nesta sexta-feira 27 um novo coletivo político, o Raiz Movimento
Cidadanista, formado por dissidentes da Rede Sustentabilidade.
CIDADANISMO
O nome é complexo e tem pouco apelo publicitário, mas o Raiz Movimento Cidadanista pretende ser um partido-movimento horizontal, inspirado
no espanhol "Podemos" e no grego "Syriza".
A ideia básica do cidadanismo é universalizar o conceito de
cidadania, na sua "efetividade plena".
Na Carta Cidadanista, o movimento condena a concentração de
renda e o modelo representativo no Brasil. "Nossa democracia é sequestrada
pela força do dinheiro e corrompida pelo poder", diz o documento, ao final
da página 4.
A crítica estende-se à polaridade entre PT e PSDB,
exacerbada na disputa entre Dilma Roussef e Aécio Neves. No entendimento dos
cidadanistas, "as eleições de 2014 foram um jogo de ilusões. Ideias
vazias, promessas vãs, mentiras, negociatas entre as castas econômicas e
políticas."
FUNDAMENTOS
Com 35 páginas, a Carta Cidadanista explica as origens do
partido-movimento, baseadas no tripé “Ubuntu”, “Teko Porã” e “Ecossocialismo”.
A filosofia Ubuntu é inspirada na cultura milenar da paz e
no movimento software livre. Dessa síntese, ressignificada na política, Ubuntu
significa a prática da solidariedade, do compartilhamento, fraternidade e
respeito ao meio ambiente. Os prêmios Nobel da Paz Nelson Mandela (1993) e Desmond
Tutu (1984) são ícones do cidadanismo à brasileira.
PARA ENTENDER...
Abaixo, o blogue selecionou outros trechos da CartaCidadanista que explicam a fundamentação teórica do futuro partido:
"Elegemos a filosofia UBUNTU como uma de nossas raízes,
por decisão política e compromisso com a construção de um pensamento que rompe
com a lógica ocidental, de sujeito autocentrado e individualismo exacerbado".
“UBUNTU também é referência para a comunidade do software
livre, baseada no trabalho cooperativo. E nos ajuda a sonhar com uma democracia
direta, participativa e colaborativa, em que as tecnologias da informação e da
comunicação são colocadas a serviço da emancipação humana, de forma livre e
aberta.”
“A ética UBUNTU representa o rompimento com o
individualismo. UBUNTU é pertencimento à unidade, interdependência e
colaboração. Diálogo, consenso, inclusão, compreensão, compaixão, cuidado,
partilha, solidariedade. “Eu sou porque você é” - “nós somos porque você é e eu
sou”. Importa a dignidade de todos."
"Assumir UBUNTU é colocar emancipação e
cidadania em novos patamares. E sua filosofia vem lá da África. “A minha
humanidade está presa e está indissoluvelmente ligada à sua. Eu sou humano
porque eu pertenço. Ele fala sobre a totalidade, sobre a compaixão. Uma pessoa
com UBUNTU é acolhedora, hospitaleira, generosa, disposta a compartilhar.”
“BEM VIVER, conceito político, econômico e social que tem
por referência a visão dos povos originários da América: Sumak Kawsai em
quéchua; Suma Qamaña em aymara; Tekó Porã, em guarani. É uma filosofia que
também está na nossa alma original e significa viver em aprendizado e
convivência com a natureza.”
“Esta sabedoria, reconhecida nos povos do Xingu e presente
13 em todas as culturas ameríndias, nos leva a compreender que a relação entre
todos os seres do planeta tem que ser encarada como uma relação social, entre
sujeitos, em que cultura e natureza se fundem em humanidade."
"O TEKO PORÃ se
afirma no equilíbrio com o Planeta e no conhecimento ancestral dos povos
originários. Conhecimento nascido da profunda conexão e interdependência com a
natureza. A vida em pequena escala, sustentável e equilibrada, é necessária
para garantir uma vida digna para todos e a sobrevivência do planeta. Também
guarda correspondência ao histórico desejo de emancipação e unidade dos povos
latino americanos, expressas na utopia da Pátria Grande (Abya-Yala).”
“Somente podemos entender TEKO PORÃ em oposição ao “viver
melhor” ocidental, que explora o máximo dos recursos disponíveis até exaurir as
fontes básicas da vida.”
“Queremos medir o bem estar de nosso povo muito mais pela
FELICIDADE INTERNA BRUTA que pelo Produto Interno Bruto, afinal, conforme o
Manifesto Antropofágico do Modernismo brasileiro: “a alegria é a prova dos
nove!”.
“ECOSSOCIALISMO, uma reflexão crítica que resulta da
convergência entre reflexão ecológica, reflexão socialista e reflexão marxista.
O capitalismo é insustentável, sua lógica de reprodução e lucro não prevê
limites, extraindo tudo e todos à sua frente, incluindo sonhos. A seguir o
atual modelo de consumo, o Planeta estará definitivamente exaurido em poucas
gerações. Não temos o direito de seguir roubando o futuro dos que estão por
vir. Para reverter este processo, o único caminho é a Revolução Ecológica...”
“A proposta de uma Revolução Ecológica baseada no
ECOSSOCIALISMO representa, ao mesmo tempo, o resgate dos ideários
emancipatórios construídos pelos movimentos sociais contestatórios e a rejeição
às ilusões dos que pretendem apenas reformar o sistema vigente. Ela incorpora
os valores de convivência solidária do TEKO PORÃ e UBUNTU, com valores éticos
profundos do COMUM, visando a construção de uma cidadania ativa e solidária.”
“Um partido de novo tipo, um PARTIDO-MOVIMENTO. Um partido
que construa pontes para o diálogo entre os cidadãos e não atalhos para as
castas dirigentes. Um partido que dialogue com os movimentos sociais, mas sem
cooptá-los. Um movimento social e um partido político, ao mesmo tempo. E,
também, um PARTIDO em MOVIMENTO. Um partido que se construa nas ruas e também
nas redes que integram os “debaixo”, os legítimos donos do poder...”
“Nossa esperança: Reencantar o mundo desencantado. Tornar
novamente a política algo apaixonante. Por isso buscamos força em nossas raízes
mais profundas, resgatando nossa ancestralidade africana, ameríndia e europeia
para constituir um novo ethos político, mestiço como somos, que nasce do
amálgama entre UBUNTU, TEKO PORÃ e ECOSSOCIALISMO, reconstruindo o sentido do
BEM COMUM e apontando para a conquista da CIDADANIA PLENA.”
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