Samuel Marinho *
Não faz muito tempo que eu estava perdendo a capacidade de me emocionar com canções populares da nova safra.
Estava pegando a mania dos velhos, mais afeitos à saudade e com uma aversão muito natural às mutações da conturbada poética contemporânea.
A quantidade de lançamentos simultâneos, a dispersão que a internet traz na divulgação e nas formas de catalogação, tudo isso contribuía para essa minha sensação de vazio.
Assim eu não conseguia acompanhar os lançamentos dos artistas que eu gostava, tampouco da infinitude de coisas boas (e desconhecidas) que minha assimilação tardia do novo modus operandi de difusão da música me impedia de consumir.
Eu estava perdido, mas com a certeza da verdade dos versos proféticos de Lenine: “Caio na rede, não tem quem não caia.”
Foi assim que os discos se tornaram, para mim, de uma hora para outra, objetos transcendentes, sentimentos que ficaram na minha memória e que possivelmente poderiam ser resgatados a qualquer momento pela dinâmica de repetição da vida.
Quando Lenine lançou seu festejado álbum “Labiata” em 2008 me chamou a atenção a forma de divulgação que o compositor pernambucano tinha em mente para sua empreitada.
Em entrevista ao Jô Soares, ele explicava que o novo trabalho seria divulgado em três formatos: o pen drive, o CD e o disco de vinil.
Para acabar com o meu sono naquela noite bastou ele associar a essas mídias três conceitos respectivos que definiriam seu intento bastante original para difundir sua música: presente, passado e futuro.
Ele remetia a uma tendência nostálgica da modernidade de degustar clássicos de todos os tempos com a mágica divisão em lados e com todo o trabalho que se tem de dispender para ouvir um disco de vinil.
O que parecia ser apenas um delírio poético de Lenine se apresenta agora como comercialmente viável, uma realidade.
Recentemente, a EMI-Odeon resolveu escolher os quatro primeiros discos da Legião Urbana para testar a pujança mercadológica da nova (velha) tendência aqui no Brasil.
“Legião Urbana”, “Dois”, “Que País é Este” e “As Quatro Estações” ganharão em 2010 as prateleiras das lojas no velho formato vinil em versões recheadas de novos gráficos.
Se obtiver boa recepção do público, a EMI promete fazer o mesmo com os demais trabalhos da banda brasiliense e com outros artistas nacionais.
A definição de Lenine me fez pensar que essa suposta involução tecnológica é pra mim a perfeita síntese do eterno retorno de Nietzsche.
As músicas estão aí para serem repetidas como os sentimentos, como a própria vida.
Velhas ou novas canções não têm finalidade em si mesmas. Vão, voltam, escapam das nossas memórias, às vezes querem sumir de vez e resta a sensação de não querermos mais nada com elas. Reproduzem sentimentos antagônicos, mas complementares: ódio e amor, alegria e tristeza, paz e guerra.
Sempre será assim, em modernos ipods ou vitrolas recauchutadas para parecerem bem antigas.
* Samuel Marinho é colaborador deste bolgue, contador e servidor público federal.
Não faz muito tempo que eu estava perdendo a capacidade de me emocionar com canções populares da nova safra.
Estava pegando a mania dos velhos, mais afeitos à saudade e com uma aversão muito natural às mutações da conturbada poética contemporânea.
A quantidade de lançamentos simultâneos, a dispersão que a internet traz na divulgação e nas formas de catalogação, tudo isso contribuía para essa minha sensação de vazio.
Assim eu não conseguia acompanhar os lançamentos dos artistas que eu gostava, tampouco da infinitude de coisas boas (e desconhecidas) que minha assimilação tardia do novo modus operandi de difusão da música me impedia de consumir.
Eu estava perdido, mas com a certeza da verdade dos versos proféticos de Lenine: “Caio na rede, não tem quem não caia.”
Foi assim que os discos se tornaram, para mim, de uma hora para outra, objetos transcendentes, sentimentos que ficaram na minha memória e que possivelmente poderiam ser resgatados a qualquer momento pela dinâmica de repetição da vida.
Quando Lenine lançou seu festejado álbum “Labiata” em 2008 me chamou a atenção a forma de divulgação que o compositor pernambucano tinha em mente para sua empreitada.
Em entrevista ao Jô Soares, ele explicava que o novo trabalho seria divulgado em três formatos: o pen drive, o CD e o disco de vinil.
Para acabar com o meu sono naquela noite bastou ele associar a essas mídias três conceitos respectivos que definiriam seu intento bastante original para difundir sua música: presente, passado e futuro.
Ele remetia a uma tendência nostálgica da modernidade de degustar clássicos de todos os tempos com a mágica divisão em lados e com todo o trabalho que se tem de dispender para ouvir um disco de vinil.
O que parecia ser apenas um delírio poético de Lenine se apresenta agora como comercialmente viável, uma realidade.
Recentemente, a EMI-Odeon resolveu escolher os quatro primeiros discos da Legião Urbana para testar a pujança mercadológica da nova (velha) tendência aqui no Brasil.
“Legião Urbana”, “Dois”, “Que País é Este” e “As Quatro Estações” ganharão em 2010 as prateleiras das lojas no velho formato vinil em versões recheadas de novos gráficos.
Se obtiver boa recepção do público, a EMI promete fazer o mesmo com os demais trabalhos da banda brasiliense e com outros artistas nacionais.
A definição de Lenine me fez pensar que essa suposta involução tecnológica é pra mim a perfeita síntese do eterno retorno de Nietzsche.
As músicas estão aí para serem repetidas como os sentimentos, como a própria vida.
Velhas ou novas canções não têm finalidade em si mesmas. Vão, voltam, escapam das nossas memórias, às vezes querem sumir de vez e resta a sensação de não querermos mais nada com elas. Reproduzem sentimentos antagônicos, mas complementares: ódio e amor, alegria e tristeza, paz e guerra.
Sempre será assim, em modernos ipods ou vitrolas recauchutadas para parecerem bem antigas.
* Samuel Marinho é colaborador deste bolgue, contador e servidor público federal.
9 comentários:
KKKKKKKKK .... Pobre Nietzche, deve estar se revirando no túmulo!
O Observador.
Complementando a ironia do observador: E Lenine deve estar se revirando no palco...
Sam valeu pela homenagem ao mestre, "o Homem dos Olhos de Raio-X". Pensei que fosse ao ar ao domingo o post não imaginava que ele viesse no meio da semana... Para além da referência a filósofos suicidas, Lenine pra mim é um artista cheio de poesia e tem um ritmo inconfundível... Não conhecia ainda essa referência ao trabalho dele, essa história das três mídias obrigado pela nova informação... Vou comprar minha vitrola recauchutada (rsrsr) logo logo para ouvir o Labiata em vinil com uma sonoridade que eu nunca tive a oportunidade de ouvir... Valeu.. Até que enfim hein???? Voce estava me devendo... Mas uma provocação: Lenine ou Zeca Baleiro quem é melhor pra vc?????? ashuashaushau Agora aguenta... Bjooss
Oi andrea pensei que vc não fosse aparecer dessa vez... Mas olha esse post é dedicado a vc... Obrigado pelas observaçõs... Quanto à sua provocação, Bem já que você quer mesmo saber... lá vai.. rs Lenine pra mim no aspecto sonoro é sem dúvida mais sofisticado e original que Zeca Baleiro... Lenine tem soluções mais perenes para suas canções... Já o Zeca tem o pulo do gato na questão do auto-deboche, da poética provocadora e direta, mas com soluções que rapidamente pacedem no tempo até mesmo na questão poética. Ainda assim penso que o Zeca é mais eficaz quando tenta a mistura dos ritmos todos, ele consegue ser mais verdadeiramente plural.
Olha Andrea vc já percebeu que eu estou aqui no mundo para ajudar a confundir... rsrs
Um grande abço
E volte sempre...
Nao acredito no que eu estou lendo
Logo você que sabe tudo sobre Zeca Baleiro... Quando lembro de você me lemebro automaticamente do Zeca Beleiro, parece que a vida de vcs estão entranhada kkkkk É uma estranha relação essa de vcs... E agora você admite uma "superioridade sonora" de Lenine. Por favor me ajude a compreender a vida e este mundo URGENTE....kkkkk....
Um bjo no teu coração...
Em tempo: o que vc quis dizer afinal sobre as soluções poeticas do Zeca Baleiro????
Você não acha por exemplo que é apenas uma questão de saber assimilar o estilo de cada um???
Lenine teria apenas meritos sonoros???
Veleu sam
Andrea
Realmente tenho uma estranha relação com o Zeca. Acho que absolutamente todas as pessoas que me conhecem, sem exceção, lembram logo "daquele cara" que sabe tudo sobre o Zeca.rsrs... No passado meu Zeca era a Legião, o Guns´Roses, os Beatles, Chico César, Marisa Monte. É assim escolho um artista e passo um tempo me dedicando a ele, vou dormir com ele todos um dias. Um dia prometo lançar um post do tipo "Na cama com Zeca Baleiro" relatando essa minha estranha relação com alguns artistas. Reza a lenda que Zeca Baleiro teria feito "Lenha" em minha homenagem, depois que me conheceu em São Luís... rsrsrs... Mas o assunto aqui é Lenine ...
Sobre o merito sonoro de Lenine, o violão dele é indiscutivelmente o mais original dessa geração. É algo como ouvir Djavan: vc já assimila a assinatura pessoal de cara...
As soluções poetica do Zeca Baleiro é que as vezes me incomodam.. São umas sacadas muito boas mas que ficam muito datadas... Tipo o CD "Vô Imbolá", ou a ultima faixa do "Por Onde ANdará Stephen Fry?", aquela historia do Kid Vinil... O Lenine consegue falar exatamente a mesma coisa de outra forma, como por exemplo em "A Rede", parecendo menos datado. Para mim isso pode ser um parâmetro de assimilação e perpetuação da música através do tempo... Mas tb o Zeca tem coisas excelentes e um talento inquestionável.. Estou só tentando me aprofundar na discussão... Por ora é isso... Eu jogo a bola pra vcs (Vamo lá Ed...) Lenine ou Zeca Baleiro....?
Um grande abço andrea
Volte sempre
Entaum para encurtar a conversa acho que jah entendi a sacada: Lenine, por ser mais perene, tem tudo haver com o tal ETERNO RETORNO... LENINE É ETERNO É ISSO???rsrsrsrs um grande bjo sam
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