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domingo, 24 de outubro de 2010

AS TREVAS, NÃO!

Robison Pereira *

No primeiro turno, votei em Plínio e Saulo, ambos do PSOL/MA, para presidente e governador, respectivamente. Como milhares de brasileiros, iria, desacreditadamente, apenas votar no segundo turno, em razão do governo petista, dentre outras questões, corroborar com a reestruturação das oligarquias regionais – a exemplo dos Sarney no Maranhão.

No entanto, ao final do turno primeiro, os debates de TV e o jogo sórdido no subterrâneo da política (uso do anonimato da internet como estratégia para, de forma desonesta, postar calúnias visando desacreditar a candidata adversária), demonstraram uma despolitização da política, que só interessa aos que primam pela mentira e desfaçatez, caso da campanha suja que presenciamos por parte de certo candidato à Presidência.

A exemplo de milhares de professores universitários, intelectuais de várias matizes e artistas de renome, dentre outros, não vamos concordar com a transformação do Brasil em uma versão imensa e retrógrada de um Portugal do século XVIII. Ali, Dona Maria I, “a louca”, soberana de um reino carola e, por este motivo, envolto no obscurantismo do seguimento às doutrinas nada iluministas da Igreja Católica, mantinha submisso o povo, seus nobres e reis.

Por escrúpulos religiosos, a ciência, a medicina e a intelectualidade encontravam-se atrasadas ou praticamente inexistentes se levarmos em consideração que se vivia no século das luzes e da revolução científica.

Dom José, herdeiro do trono e irmão mais velho de quem viria a ser o príncipe regente do futuro Império do Brasil e Algarves, D. João, havia morrido de varíola porque sua mãe, D. Maria I, tinha proibido os médicos de lhe aplicar vacina. O motivo? Religioso: a rainha achava que a decisão entre a vida e a morte estava nas mãos de Deus e que não cabia à ciência interferir nesse processo.

Agora nós, no Brasil da descoberta do petróleo no pré-sal, da Petrobrás e do etanol, em pleno século XXI, permitiremos que ainda morram a quantas mulheres em clínicas clandestinas de abortos porque setores conservadores da Igreja Católica, e pastores das igrejas protestantes, alguns deles mercadores da fé, aliados do príncipe da “calhordice”, manipulam eleitoralmente a fé dos mais desavisados, num processo inconstitucional e amoral?

Desvirtuam o princípio básico de que somos um Estado laico para tentar vencer uma eleição a qualquer custo, inclusive fazendo renascer instituições da época da ditadura militar como a TFP. Os temas centrais da política brasileira ficaram à margem. O aniquilamento do Estado protagonizado pelo PSDB-DEM em oito anos, e a apropriação indevida do que sobrou pelos petistas e aliados, ganharam plano secundário.

Investimento em educação, ciência e tecnologia, política internacional, reforma política, reforma agrária – essa última sequer é citada – não são debatidos com a devida seriedade. A rigor, o candidato do DEM sequer tem um programa de governo. Tem apenas discurso performático – mera simulação.

O que esteve no centro do debate – a legalização do aborto. É tema de política pública, e não valor moral e religioso, o que interpela o Estado. Hoje, mulheres da classe econômica de dona Mônica Serra, em caso de transtorno ou mesmo opção, podem recorrer às clínicas muito bem aparelhadas e caras para resolver o seu “problema”, ou o de suas filhas.

Mas, e as mulheres das classes subalternas, sem estrutura psicológica, financeira e, às vezes, familiar, irão recorrer a quem? Um Estado laico tem responsabilidade com a saúde do seu povo, sobretudo dos menos favorecidos, e não pode sucumbir à hipocrisia reinante.

Mesmo entendendo que não há, ou haverá, uma ruptura profunda na estrutura societal brasileira (conservadora e autoritária), no dia 31 próximo, eu fico com o sorriso de jovens pobres da periferia que agora podem pensar em cursar uma universidade pública; com os jovens e adultos que hoje podem concorrer em concursos e novos empregos, coisa rara há cinco anos; fico com as políticas sociais que, para uns, são tímidas, para outros, significativas, mas, indubitavelmente, são mudanças sociais.

Voltar à época na qual professores universitários faziam greve e tinham os seus salários sustados, na qual as privatizações rapinavam o patrimônio nacional, na qual o aposentado era caluniado como “vagabundo” e na qual havia guerra no campo, nunca mais. Serra é sinônimo de profundo atraso.

Por isso, estou junto à turma do Mano Brown, Chico Buarque, Chico César, Osmar Prado, Margareth Meneses, Marieta Severo e tantos, milhares, milhões de anônimos que têm autonomia e coragem para criticar o atual governo, mas que, com a mesma autonomia e coragem, dizem “não” às trevas, dizem não porque não querem retroceder, porque sabem bem o querem.

Dilma Presidenta!

* Robison Pereira é sociólogo e mestre em Ciências Sociais, professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI).

2 comentários:

Anônimo disse...

è lamentável que os companheiros do PSOL do Maranhão não consigam ter uma visão mais ampla , como se vê o companheiro aí do artigo.O Paulo Rios eu já conhecia como alguém desequilibrado e raivoso, mas fiquei surpreso com o Saulo, também desprovido de coerência.

Itallo Bruno disse...

Apesar do apoio do pt para a campanha de roseana mas nao nos deixaremos tomar por sentimento de magoa e rancor pela conservação das oligarquiais E tomar neese momento de decisão politica uma posisão a fovor do nosso nordeste e acima de todo do nosso maranhao ... Pois como diz Tiririca .."Pior do que Ta nao fica ' mas pode ficar sim ...e como pode .
Itallo Bruno -Estudante Universitario .