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sábado, 16 de outubro de 2010

O DEBATE FORA DO LUGAR

Alberto Dines

Atenção aborteiros, abortistas, antiabortistas, dilmistas e serristas: retirem o assunto dos palanques. Vocês estão brincando com fogo – literalmente. Os editais dos Autos da Fé já estão afixados nos templos e nas quermesses, as fogueiras estão preparadas.

Guerras santas começam por ninharias (a questão do aborto jamais foi premente) e acabam em banhos de sangue.Este debate ensandecido e despropositado sobre a descriminalização da interrupção da gravidez está empurrando o país para um modelo de república clerocrata, antirrepublicana, semidemocrática.

E a mídia tem grande responsabilidade neste arranca-rabo infantilóide. Nossa imprensa é, por tradição, sacristã: os grandes jornais sempre correram atrás das batinas e disputaram arcebispos e cardeais para lustrar suas páginas. Jamais chamaram um pastor luterano ou um intelectual agnóstico.

Mãos limpas

Quando se tratou de lembrar os 200 anos de fundação da imprensa brasileira, a presença de Hipólito da Costa como patrono do jornalismo foi determinante para que as comemorações fossem suspensas: além de maçom, denunciou ao mundo as barbaridades da Inquisição portuguesa.

Quando em 2008 o presidente Lula foi ao Vaticano acompanhado por seus entes queridos para assinar uma Concordata com o papa Bento 16, a grande imprensa – toda ela, sem exceção – manteve o assunto sob rigoroso sigilo, na clandestinidade. A pedido do governo.

Uma imprensa altiva, libertária, não se importou em autocensurar-se ostensivamente. Em nome da fé, vale tudo. Começava naquele exato momento o ensaio geral para a atual caça às bruxas que fatalmente nos conduzirá ao total desrespeito e esquecimento pelos direitos humanos.

Convém lembrar que o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, apresentado pelo governo com toda a pompa e circunstância no final de 2009, foi abortado – a palavra é esta, não existe outra – para acalmar as lideranças católicas e evangélicas (ineditamente irmanadas) que orquestravam a oposição ruralista e da mídia.

Os chefes militares adoraram, lavaram as mãos. Os civis também sabem fazer suas guerrinhas sujas.

O retorno

A igreja católica rasgou naquele momento uma corajosa história escrita ao longo de três décadas contra a tortura e o desaparecimento dos presos políticos, só para evitar que a nação brasileira começasse a encarar a possibilidade de debater a questão dos símbolos religiosos em prédios públicos, do casamento gay e... do aborto.

O infalível retorno dos bumerangues traz de volta a questão do aborto – vociferada, enraivecida, envilecida, brutalmente simplificada. E condenada a ser erradicada da nossa agenda política pela radicalização eleitoral que a mídia açula e assopra.

Fonte: Observatório da Imprensa

3 comentários:

Francisco José Araujo disse...

Esse senhor é um notório anti-católico dissimulado. Típico de fascistas escondidos. Idéia vaga de república.
Quem mais patrocinou fuga e esconderijo para comunistas ateus durante a repressão? Quem defendeu mais direitos humanos no Brasil? Esse senhor devia pedir para a Dilma defender o aborto...já que isso não tem importância e não é relevante. A vida é algo fundamental em qualquer debate político. Desde os textos clássicos... a discussão política apresenta preocupações com a vida.
Sou católico e sou a favor da vida!

José María Souza Costa disse...

Muito bom o poste. E muito legal o teu blog. Mas, eu vou lhe convidar a visitar o meu, e se possivel seguirmos juntos por ele.ficarei grato
Abrass
e sigamos por aqui
http://josemariacostaescreveu.blogspot.com

Ju Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.