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domingo, 21 de outubro de 2012

GUARDANAPOS

De vez em quando a gente se liga. A conversa é grande, plena de especulações sobre a conjuntura, cenários, atores e projeções sobre a política no Maranhão. Ao final do telefonema, um dos dois sempre encerra o bate-papo com a frase emblemática: “precisamos rabiscar uns guardanapos”.

Os lenços de papel foram marcantes em um período especial das nossas vidas, embaladas por utopias e revoluções de todos os tipos. Como bons militantes, a última reunião do dia acabava em cerveja.

O local predileto era um bar no São Francisco, ao som de jazz e blues, às margens da avenida Colares Moreira, onde as especulações políticas ampliavam-se na medida das dosagens etílicas.

Entre um e outro brinde, os mapas de conjuntura eram desenhados nos guardanapos dispostos na mesa, riscados com caneta faber castel. Ficavam ali, naqueles desenhos, todas as táticas da estratégia que um dia levaria a esquerda ao poder.

Vendo o PT hoje, que coisa!...Mas é sempre bom lembrar daqueles papéis e dos sons que animavam nossos sonhos.

Os guardanapos, em outras épocas, foram muito úteis para mandar recados de paqueras entre as mesas de bar. Hoje, com a tecnologia avançada, enviam-se torpedos por celular. São outras as formas de conquista.

Porém, os papéis escritos não perderam o charme. Certa vez um amigo contou-me de suas aventuras amorosas com um fim apoteótico.

Ele encantou-se por uma moça, especialmente pelos lábios dela, mas sofria de uma terrível timidez. Para superar o obstáculo, escreveu um bilhete à pretendida solicitando que ela lhe desse um autógrafo.

Mas ele não queria um autógrafo tradicional. A assinatura da moça – pedida no bilhete – deveria vir no guardanapo com o decalque dos lábios dela, contornados de batom.

A pretendida não só atendeu à solicitação como encantou-se por aquela cantada inusitada, rendendo ao rapaz, além do decalque dos lábios, muitos beijos ao fim da noite.

Os guardanapos lembram também outras viagens proporcionadas pelos manufaturados nas aulas comunitárias. Hoje, nas salas da UFMA, os delicados papéis brancos servem para limpar a sujeira das mesas e cadeiras sempre empoeiradas.

Há também motivos muito nobres para os guardanapos, como enrolar salgadinhos carinhosamente e servir a alguém especial, durante um coquetel.

Quando vejo, nas tardes de setembro, a meninada empinar papagaios no céu de São Luís, imagino guardanapos voando, soltos, libertos, guinando os sonhos em bailados mágicos pelo ar, escrevendo no invisível os sonhos ainda vivos daquela mesa de bar ao som de jazz e blues.

Boas lembranças que rabisco aqui na tela branca do computador, meu guardanapo eletrônico, onde compartilho nesta crônica alguns dos melhores momentos da vida.

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