Marco Antônio Gehlen
Doutorando em Comunicação (PUC-RS), mestre em Agronegócios
(UFMS), pós-graduado em Comunicação Empresarial e graduado em Jornalismo. Desde
2009, é professor e pesquisador da UFMA, em Imperatriz.
Um dos propósitos de divisão territorial do Maranhão, hoje
muito defendida no centro-sul do Estado, provavelmente seja a busca pelo
reconhecimento das identidades regionais, ou seja, a distinção entre o perfil
cultural e produtivo das porções norte e sul. Contudo, sem adentrar em outros
argumentos divisionistas ou em discussões sobre benefícios e malefícios de tal
separação, tenho defendido, entre amigos, que seria equivocada a adoção de “Maranhão
do Sul” como nome do novo estado brasileiro fruto de eventual divisão
territorial do Maranhão.
A título de contextualização é preciso lembrar das duas
últimas divisões de unidades federativas ocorridas no Brasil e suas
consequências: Tocantins desmembrado de Goiás (1988) e Mato Grosso do Sul
desmembrado do Mato Grosso (1977). Além de citar, também, o caso do Rio Grande
do Sul e do Rio Grande do Norte, que possuem nomenclaturas semelhantes e
trataremos mais adiante.
Morei durante 25 anos em Mato Grosso do Sul antes de chegar,
em 2009, ao Maranhão. Vivenciei, portanto, quase toda a trajetória do novo
estado recém-dividido do então Mato Grosso e que, depois de avançar
autonomamente em seu próprio rumo de desenvolvimento, pôs-se a discutir a falta
de identidade que o nome Mato Grosso do Sul (MS) detinha nacionalmente, sendo
incontáveis vezes e permanentemente confundido com o vizinho Mato Grosso (MT).
Hoje, em Mato Grosso do Sul (mesmo depois de 37 anos da separação
do Mato Grosso) é motivo de irritação aos sul-mato-grossenses quando confundem
os estados ou referem-se a um tratando do outro. E eu partilho tal irritação
não por menosprezar MT em detrimento do MS ou o contrário, mas por me deparar
com tamanha ignorância geográfica.
Há alguns anos, em Mato Grosso do Sul, foram criadas,
inclusive, campanhas publicitárias na tentativa de sensibilizar o governo
sul-mato-grossense a promover uma mudança do nome do Estado em função dos
prejuízos que a confusão com o vizinho provoca. Prejuízos estes de ordem
identitária, de imagem e de sensação de pertencimento da população local, além de
perdas econômico-turísticas, uma vez que o Pantanal, por exemplo, está
localizado nos dois Estados, mas há tremenda confusão sobre onde desembarcar
quando um turista adquire, em outros estados brasileiros, um pacote de viagens
para um destino pantaneiro. Um movimento específico em Mato Grosso do Sul
chegou sugerir que o Estado alterasse seu nome para Estado do Pantanal, como
forma de se diferenciar do vizinho ao norte e, ainda, atrair turistas ao seu
grande mote turístico, o Pantanal.
No entanto, para efeito dessa discussão pontual pouco
importa o ônus e o bônus de tais desmembramentos, todavia, continuam o nome Mato
Grosso do Sul e a confusão com o Mato Grosso. Até mesmo a consagrada mídia
nacional, costumeiramente, atrapalha-se ao informar se a capital de MS é Cuiabá
ou Campo Grande.
No caso do Maranhão, o sucesso de eventual movimento
divisionista tem em si a grande oportunidade de não incorrer em equívoco
semelhante. Permanecer com o nome “Maranhão” e apenas acrescentar “do Sul”
significará uma divisão geopolítica concreta, mas continuaremos a ser, aos
olhos do restante do Brasil, o Maranhão. Não haverá diferença, nem campanha
publicitária, capaz de reeducar a população brasileira a conceber que, a partir
de determinado momento, tratar-se-á de dois estados.
Um outro bom exemplo é o caso do vizinho Tocantins,
localizado ao sul do Maranhão, que foi desmembrado há apenas 26 anos e já não
sofre com confusões em relação ao estado de Goiás, pois se separou adotando nova
identidade, um nome novo, capaz de promover a distinção nacional entre o que é
hoje e o que foi no passado.
Há quem lembre, ainda, do Rio Grande do Norte e do Rio
Grande do Sul que possuem nomes semelhantes e pouco são confundidos. No
entanto, neste caso, a distância cultural e geográfica, bem como o fato de
nunca terem pertencido um ao outro, construíram no imaginário coletivo nacional
a noção de que se trata de duas coisas completamente diferentes. E ambos se
favorecem com a “não confusão”.
Por fim, no caso do Maranhão, temos nós, personagens dessa
história em movimento, o dever e a oportunidade de refletir, previamente, sobre
os problemas que podemos evitar no futuro, caso consigamos, antes de dividir o
Estado, pensar em um nome digno de representar adequadamente esta nossa terra.
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