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domingo, 13 de março de 2016

CONVENTO DAS MERCÊS: NAURO MACHADO RECEBE HOMENAGEM NO DIA NACIONAL DA POESIA

Nessa segunda-feira, 14 de março, Dia Nacional da Poesia, acontecerá no Convento das Mercês, Centro Histórico de São Luís, a partir das 16 horas, uma leitura de poesia com poemas de Nauro Machado, o maior poeta maranhense contemporâneo, falecido nesta cidade no dia 28 de novembro de 2015. Na ocasião, uma das salas do antigo Convento das Mercês receberá o nome de “Sala Nauro Machado”, numa justa homenagem ao poeta que adotou São Luís como sua pátria.

Nascido em São Luís do Maranhão a 02 de agosto de 1935, Nauro Diniz Machado construiu uma obra literária das mais respeitáveis dentro do atual contexto da Literatura Brasileira contemporânea. Sempre morando na capital maranhense, com pequena passagem pelo Rio de Janeiro na década de 50 do século passado, ele se ombreia aos seus companheiros de geração mais imediatos, como Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Filho de Torquato Rodrigues Machado e de Maria de Lourdes Diniz Machado, casado com a escritora Arlete Nogueira da Cruz, teve um filho, Frederico Machado, cineasta e entusiasta da obra do pai. Sua biografia se confunde com sua criação poética, e o escritor tem exercido, com frequência, influência marcante sobre os novos poetas maranhenses.

Habitando a cidade e por ela sendo umbilicalmente absorvido ao longo de suas peregrinações etílicas e notívagas, assim como no percurso de suas caminhadas silenciosas pela orla das praias ou pelas ruas estreitas de São Luís nas quais gestava e ruminava seus poemas, o poeta se desvela a si mesmo: “Meu espaço geográfico, restrito à cidade de São Luís, fornece aos poemas que desenvolvo como catarse existencial de temas quase sempre vividos, a atmosfera temporal de uma cidade a internalizar-se na ficção (como diria Fernando Pessoa) biográfica dos meus variados temas. São Luís, queiram ou não queiram alguns críticos desavisados da minha poesia, está transfigurada totalmente nas metáforas que eu diria datadas, dos meus versos”, elucida Nauro Machado.

Desde o momento em que foi publicado o primeiro livro do poeta (“Campo sem Base”, de 1958), a poesia maranhense viu apenas pouquíssimos nomes brilharem com tanta intensidade quanto o dele. Com dezenas de livros elaborados ao longo da sua vida, sua obra sofreu, naturalmente, uma viva transformação, apesar da fidelidade do poeta ao seu estilo e às temáticas abordadas. A poesia nauromachadiana é reflexo de uma voz ímpar, porém ainda pouco visitada pela crítica especializada. Sempre se torna mais fácil estabelecer uma visão impressionista da obra poética, pois um estudo mais acurado é tarefa complexa, sobretudo numa construção literária com a envergadura imposta por Nauro Machado à sua obra.

A Literatura sempre foi seu referencial de vida, como se nota neste depoimento textual: “A poesia, para mim, é uma necessidade interior, um caso de vida ou morte e não um simples pretexto para malabarismos vazios ou teoremas que digam respeito apenas a um modismo falho e de autenticidade duvidosa”, escreveu o poeta. Um poeta se revela, embora não totalmente, através de sua obra. Trata-se de um jogo permanente entre o criador e a criatura. Um jogo que se transforma, ou melhor, se transmuta ao longo do tempo naqueles onde o sopro dos deuses pode ser captado. No centro de tal raciocínio deve ser entendida a sua poesia. E a poesia é “feita de essências e medulas”, como escreveu Ezra Pound.

O evento será aberto ao público. Serão disponibilizadas folhas com poemas impressos do poeta homenageado, para que qualquer participante possa ler os versos por ele tão solidamente elaborados. "Esta é a primeira homenagem que fazemos ao poeta, após sua partida, e que será sucedida por tantas outras que faremos ao longo dos próximos meses e anos; é necessário que se tome consciência, cada vez mais, acerca do alcance profundo que Nauro Machado impôs à sua obra, e da contribuição ímpar que deixou como legado permanente à Literatura brasileira”, declara Paulo Melo Sousa, Diretor do Convento das Mercês, articulador da homenagem.

Poemas de Nauro Machado

Radiação
Eu vi a glória nos lábios da eternidade.
Eu vi o universo inteiro na angústia do fogo
Pelo canto noturno, em galés da alvorada,
Eu vi os farrapos trêmulos da última estrela.
819
Abre-me as portas, mãe, enquanto as estrelas
buscam em mim agora a treva infinda,
sem luz alguma no meu olhar a vê-las
nessa cegueira a ser da altura vinda.
Assim, mãe, invado tua noite, a sabê-las
eternamente em pó na luz que é finda
só para mim, que vou comigo pelas
manhãs nascendo todas cegas ainda.
Como fazê-las ser de novo vivas?
Como, se nunca delas fui um conviva
às vidas feitas festas para as vistas?
Para arrancá-las da morte onde as pus,
quero essa noite, ó mãe, roubada à luz

do céu que, embora cega, tu conquistas.

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