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terça-feira, 8 de setembro de 2009

UM PROTESTO DE 397 PALAVRAS E TRÊS GOTAS DE ESPERANÇA

Minha vida inteira está em São Luís. Sou grato aos familiares e amigos, colegas de trabalho e companheiros de militância pelas relações sociais construídas ao longo de 42 anos nessa cidade encantadora.

Mas os encantos estão cada vez mais raros. Fora as belezas naturais e a arquitetura colonial, a cidade não passa de um povoado mal arrumado. Ou uma feira gigante que ficou por limpar após o expediente.

Todos os dias quando saio de casa, no Cohatrac, as minhas primeiras imagens são buracos e esgotos escorrendo na maioria das ruas. Em vez de praças e ciclovias, o mato e o lixo tomam conta dos terrenos baldios.

Essa paisagem não é isolada. Do Renascença à periferia, quase todas as vias de São Luís têm esgotos e/ou buracos. E a cada dia uma nova cratera é aberta na cidade.

Onde não há buracos, o asfalto é remendado e ondulado. As pistas ora trepidam ora afundam. E há sempre a constatação da emenda mal feita ou do improviso para encher o buraco com alguma pasta parecida com piche.

Não há calçadas para os pedestres nem vias especiais destinadas aos ciclistas. O trânsito é caótico. São Luís está suja, mal cuidada, com aparência de abandono. Para piorar o visual, o prefeito João Castelo (PSDB) enfiou uns pés de carnaúba morta nos canteiros.

E então, virou o caos.

Havia quatro motivos atraentes aos turistas com destino a São Luís: as praias, o conjunto arquitetônico, o folclore e o acesso aos Lençóis Maranhenses. Agora, com as praias poluídas e o centro histórico abandonado, só resta aos visitantes pegar a estrada para Barreirinhas.

São Luís é só um entreposto. Uma grande rodoviária de beira de estrada. Basta visitar Teresina e Belém, as capitais mais próximas, e ver uma diferença gigante em relação às questões básicas de uma cidade.

Nenhuma capital decente apresenta a sua principal praça transformada em favela como está a Deodoro, o panteon maranhense, “enfeitado” por um mictório ao ar livre, como se fosse um anexo da biblioteca Benedito Leite.

Não restaram nem os bustos do panteon. A praça sumiu entre as bancas de camelô, as tendas de fritura e odor de urina. Os logradouros estão tomados por bancas de todos os tipos, ocupando os espaços dos pedestres.

As reservas ambientais transformaram-se em alvo da especulação imobiliária, derrubando os resquícios de vegetação para construir condomínios de luxo.

Um mau exemplo partiu dos próprios deputados, permitindo a instalação do novo prédio da Assembléia Legislativa dentro da reserva Rangedor, no Calhau.

Por outro lado, São Luís não tem um parque ecológico.

É sofrimento antecipado saber que vamos completar 400 anos ainda sob a administração do prefeito João Castelo (PSDB), eleito em 2008 com o apoio de Jackson Lago (PDT).

Há 20 anos o mesmo grupo político domina a capital, sempre sob a influência do esquema Lago, agora consorciado com os tucanos. Se há uma oligarquia nociva ao Maranhão, tem outra exclusiva para a capital.

São Luís é hoje fruto de sucessivas gestões feitas a foice, sem um planejamento mínimo de urbanidade. O grupo Lago montou na ilha o esquema de governar para beneficiar sua própria coletividade fechada.

De resto, a cidade é salva por si própria, sustentada no charme de ser ilha, na antiguidade, no exótico e nas pessoas acolhedoras e criativas.

Quem não se encanta com o bailado das coreiras, dos cabocos de fita, com as cores, sabores e tambores dessa ilha?

No entanto, um fato novo pode modificar muito esse ar bucólico. A 60 quilômetros da capital será construída a maior refinaria de petróleo do mundo. Grande parte do impacto virá para dentro da ilha: transporte, serviços, hospitais, escolas, lazer etc.

Seria necessário desde agora um governo com visão de futuro para preparar a cidade, organizá-la minimamente para receber a nova cidade que vai invadir a capital.

Do jeito que está, São Luís administrada por Castelo é a própria caricatura da decadência. Não há quase nada para comemorar nestes 397 anos.

Apesar de tudo isso, amanhã há de ser outro dia, como diz a música de Chico Buarque.

Anima a gente o aconchego da família, os bons amigos e a esperança de que tudo pode mudar para melhor.

2 comentários:

Cristiano Capovilla disse...

Caro Ed.
Parabéns pelo excelente texto!Talvez essa seja a mais realista homenagem a nossa sofrida cidade na passagem do seu aniversário.

A mais fiel descrição desse 'realismo fantástico' que vivemos é que a praça mais importante do centro da cidade seja um 'mictório'!!!

E com Castelo tende a piorar, pois ele não passa de um rábula.

Saudações.

Gustavo disse...

ATÉ QUE CONCORDO COM TUDO QUE VOCÊ EXPÕS NO TEXTO, PORÉM COMO ESTOU FALANDO A ALGUM TEMPO A PROPRIA POPULAÇÃO GOSTA DE QUE A NOSSA QUERIA ILHA FIQUE ASSIM. É REVOLTANTE IMAGINAR MORADORES DO CALHAU NÃO TER ASFALTO NA FRENTE DE SUAS CASAS E NEM AO MENOS REINVIDICAR DE ALGUMA FORMA QUE TENHA ALGUM PINGO DE ASFALTO POR LÁ.
MARANHENSE É COMODISTA SIM, ESTÁ ENRAIZADO NO SANGUE, INFELIZMENTE.
PARA 90 POR CENTOS DOS LUDOVISCENSES TÁ BOM DO JEITO QUE TÁ. E ISSO É INEGÁVEL NÃO CONSTATAR.
INFELIZMENTE MERECEMOS ESSE TIPO DE TRATAMENTO.