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domingo, 9 de novembro de 2014

SIOGE: PATRIMÔNIO DO MARANHÃO

Paulo Melo Sousa*

Em matéria publicada neste jornal no dia 17 de outubro passado, o escritor Herbert de Jesus Santos, jornalista aguerrido e preocupado com a cultura maranhense, levantou uma importante bandeira, conclamando o futuro governador do Maranhão, Flávio Dino, a ressuscitar o antigo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado – SIOGE, que foi largado às moscas pelos governos anteriores.

O prédio abrigava o maior parque gráfico do Maranhão, e prestou relevantes e incalculáveis serviços ao estado. Desativado desde 1997, o SIOGE funcionava em prédio localizado à rua Antônio Rayol, Centro Histórico de São Luís, e que se encontra, no momento, totalmente deteriorado, um crime patrimonial perpetrado contra o Maranhão. Situa-se ao lado do Mercado Central, outro logradouro público que se encontra literalmente, em petição de miséria.

Nesse contexto, é importante informar que o prédio no qual funcionou o SIOGE foi cedido pelo estado à Universidade Federal do Maranhão – UFMA, em acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Segundo duas fontes fidedignas, em caráter irrevogável. Dessa forma, fica difícil a retomada do prédio pelo estado. No entanto, a proposta de reativação do SIOGE permanece de pé, pois independe do prédio em si. Outro imóvel pode abrigar o órgão, de preferência no Centro Histórico.

Muita coisa apodreceu no rincão maranhense, resultado do descaso e da falta de visão de políticos míopes. Lembro-me que, em 1994, o meu primeiro livro de poemas foi publicado pelo extinto Plano Editorial SECMA/SIOGE, numa parceria que foi responsável pela revelação de muitos escritores maranhenses, e que hoje continuam em franca produção.

A Secretaria de Cultura do Estado organizava o concurso literário em busca de novos valores, contratava a Comissão Julgadora e, após o resultado, o SIOGE ficava responsável pela publicação dos livros premiados. Uma sintonia que funcionou durante logo tempo. "Eu lembro que ainda peguei os últimos anos do Suplemento Literário O Vagalume. Era uma referência que se tinha de uma época onde conjuntamente existia uma diversidade de espaços se não para escoamento, mas para a produção de livros: Concurso Literário do Sioge, da EDUFMA, da SECMA, Concurso Literário Cidade de São Luís, Festival de Poesia Falada da UFMA, Festival de Poesia do Poeme-se. Enfim, havia uma esperança maior de publicarmos as nossas pretensões poéticas", declara o ator e escritor Dyl Pires, que hoje integra a “Companhia de Teatro Os Satyros”, de São Paulo.

O suplemento literário “O Vagalume” ultrapassou as fronteiras do Maranhão. “Ele surgiu após as  experiências das edições especiais do Diário Oficial Especial, numa iniciativa de Francisco Camêlo, que implantou a Equipe de Pesquisa e Jornalismo do Sioge, em 1983, coordenada por mim e composta pelos professores Maria José Vale de Oliveira, Alberico Carneiro e pelo jornalista  e escritor Jorge Nascimento, que produziram  durante cinco anos trabalhos de caráter científico e cultural. O Vagalume surgiu no final de 1988, com a mesma equipe, só que tendo como editor Alberico Carneiro”, informa o escritor Wilson Martins.

A iniciativa elevou o nível cultural de várias gerações de maranhenses, não apenas aquela que publicou seus textos no suplemento, mas também as de pesquisadores ulteriores, que ainda hoje bebem nas águas desse mecanismo ímpar da Literatura Maranhense contemporânea.

O prédio no qual funcionou o SIOGE se encontra em área de tombamento, também de responsabilidade do IPHAN, que pode e deve dar sua contribuição para a revitalização física do imóvel, inclusive com renovação de sua fachada, que antes foi coberta por azulejos modernosos, que nem de longe imitam os nossos azulejos portugueses originais.

Por incrível que possa parecer, a Secretaria de Cultura do Estado tem, no Centro de Criatividade Odylo Costa, Filho, uma oficina de azulejaria que nunca foi posta de forma efetiva em funcionamento. Alguns profissionais que ali trabalham (dentre os quais o abnegado senhor Domingos) foram estudar em Portugal com dinheiro do estado, e sabem reproduzir com fidelidade os azulejos portugueses de outrora, os mesmos que ainda hoje adornam as fachadas de muitos de nossos prédios históricos, apesar do vandalismo e do roubo de muitos exemplares.

Esses profissionais estão à deriva, e a produção, ali, é pífia. Esse problema é muito simples de resolver: a questão da recuperação da fachada do antigo prédio já estaria a priori equacionada no que se refere a este pormenor, bastando acionar, através da UFMA, a contribuição desses técnicos e especialistas.

A revitalização do antigo órgão, o SIOGE é uma demanda antiga da classe artística maranhense, e a atual movimentação, capitaneada por Herbert Santos, tem o aval da maioria dos intelectuais contemporâneos do estado ou que moram fora do Maranhão.

O governador eleito, Flávio Dino, é, além de um político já habilidoso, um homem sensível, que possui formação intelectual, e que é dotado de informação cultural, dono de sensibilidade, que sabe ouvir com discernimento. Temos certeza de que está atento a esta demanda, com relação ao SIOGE, cuja revitalização só lhe dará o respaldo de que veio para mudar, de verdade, o Maranhão, em todas as suas estruturas, das quais a cultura representa um dos mais imponentes pilares.


* Poeta, jornalista, pesquisador de cultura popular, mestre em Ciências Sociais.

Um comentário:

Fernanda Carvalho disse...

Caro jornalista, é de teor preocupante a sua denúncia acerca de um patrimônio cultural de nosso Estado. O SIOGE foi uma das melhores repartições do Estado sendo, ao longo dos anos, administrado por personalidades de nossa literatura e política. Não falo só do patrimônio material mas, das memórias de antigos funcionários que deveriam ser homenageados pelos seus serviços à imprensa oficial do Estado.