Marcos Fábio Belo Matos
Professor doutor do Curso de Jornalismo da Ufma Imperatriz
marcosfmatos@gmail.com
Você já ouviu falar de Papete? É provável que, se você fizer
essa pergunta a um jovem de uns 20-25 anos, ele dirá que não. Então, quero
começar este texto apresentando a você, que desconhece, quem é ele (as
informações estão na Wikipedia). Papete é o nome artístico de José Ribamar
Viana, maranhense de Bacabal, nascido em 8 de novembro de 1947. Músico,
compositor, arranjador, produtor, e pesquisador musical. Exímio percussionista,
foi eleito, na década de oitenta, um dos três melhores percussionistas do mundo.
Já tocou com os grandes cantores da MPB, como Chico Buarque, Paulinho da Viola,
Almir Sater, Rita Lee, Vinícius de Morais, Toquinho e muitos outros. Na sua
discografia, estão relacionados nada menos que dezoito discos – a imensa
maioria dedicada aos ritmos do Maranhão. Papete talvez seja, junto com Alcione
e Zeca Baleiro, o artista maranhense mais (re)conhecido (inter)nacionalmente.
Mas, diferente dos dois primeiros, é o que mais canta as coisas daqui.
Experimente colocar “Papete” no Youtube. Pronto: você vai
ter uma bela amostra do talento, da obra e da musicalidade deste grande
artista.
Pois agora Papete nos presenteia com mais uma linda
inciativa. É dele o projeto, recém-lançado, “Os Senhores Cantadores, Amos
e Poetas do Bumba Meu Boi do MA”, um resgate desses grandes personagens, que
entoam as toadas e dirigem as brincadeiras, nos vários sotaques. João Chiador,
Humberto de Maracanã, Chagas, Lobato, Concita, Leonardo, Donato, o
imortal Coxinho e tantos outros ícones do Bumba-meu-Boi tiveram suas histórias
e memórias contadas neste documento – um misto de textos, fotos e vídeos, um
capricho para a divulgação e manutenção dessa que é a principal brincadeira da
cultura popular maranhense.
O projeto teve o apoio da Caixa Econômica Federal e Cemar
(via Lei Estadual de Incentivo) e do Ministério da Cultura. E está sendo
distribuído em escolas, universidades e para os representantes da cultura
popular do Estado e consulados. O lançamento do álbum foi feito no dia 26 de
maio, no Teatro Arthur Azevedo, com entrada trocada por 1 kg de alimento não
perecível.
O trabalho de Papete, na minha humilde opinião, tem uma
dupla importância. Primeiro: presenteia o público, principalmente o maranhense,
com a produção de um artista que aplica primor, talento e arte em tudo o que
faz – só por isso, então, já merecia ser lido/visto/ouvido. Segundo: ele é um
resgate, até agora único, original e necessário, dos cantadores e amos de boi.
Essas figuras, nascidas, criadas e vividas no seio das comunidades, que, via de
regra, lutam sem apoio para tocar as brincadeiras, homens e mulheres fortes,
lideranças natas. E que morrem, em geral, pobres e esquecidas, apenas
reverenciadas pelos mais próximos. Que o diga Coxinho. (Quem????)
Por isso e por muito mais, resta dizer: parabéns e obrigado,
Papete. E que a sua iniciativa abra um rastro para outras novas. Em memória,
respeito e reverência de quem, realmente, faz a cultura do Maranhão ser o que
ela é.
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