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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

MEUS TRÊS LEITORES

MARCOS FÁBIO BELO MATOS
JORNALISTA E PROFESSOR DOUTOR DO CURSO DE JORNALISMO DA UFMA/IMPERATRIZ
marcosfmatos@gmail.com
Comecei a escrever muito cedo, aos dez, onze anos. Minha irmã achou, um dia desses, uma peça de teatro que eu fiz aos doze anos – história de uma menina com um palhaço. De lá pra cá, muitos textos. Poucos leitores. A escassez de leitores é a primeira certeza que um escritor periférico pode ter. A segunda é que, em geral (e muito em geral), ele vai ter que fazer outra coisa para pagar os seus boletos mensais.
Antigamente, quando não havia a internet, a gente escrevia e guardava no fundo da gaveta. Ou deixava trancado nos cadernos – alguns até com cadeado. Depois, quando eu ganhei uma máquina de escrever (daquelas que têm uma capinha que fecha, não lembro mais o nome), comecei a encadernar os escritos, ou deixar em pastas, organizadas por assuntos – poesias, crônicas, contos, romance (sim, há um, nunca publicado – sem chance!). Mas ainda assim pouca gente lia.
Depois surgiu a possibilidade de ir colaborando, bissextamente, para alguns jornais de São Luís, lá pelos anos 90. Um textinho aqui, outro ali. Um arrazoado de palavras para comemorar uma data especial na cidade, umas 30 linhas para falar de um assunto que tomou conta do noticiário nacional ou local aquela semana ou a passada. Essas coisas. Poucos leitores ainda.
E aí veio a internet. Primeiro se arrastando, discada. Depois, melhor. E melhor. E os textos foram migrando para as novas plataformas. Primeiro, no blog. Depois, nos murais de escritores. Agora, nos e-books, no Facebook e nos jornais e revistas virtuais. A consequência natural dessa localização, agora planetária, foi a hiperpotencialização de leitores. Agora, dezenas – já uma hipérbole.
Um escritor periférico nunca reclama dos poucos leitores que tem. Ao contrário, pensa neles a cada texto que escreve. E por conhecê-los, quase intimamente, lapida o texto, como um ourives, para entregá-lo, o melhor que pode, a eles, para fazer com que eles se lembrem, na montanha de outros textos que lerão, daquele.
Hoje a internet permite a interatividade. E o escritor periférico recebe um montão de e-mails ou comentários nas redes sociais sobre os textos que ele escreveu e publicou. Uns dois ou três.
E ele exulta com toda essa enxurrada de e-mails e comentários. Ele os lê, exaustivamente, sem cansaço. E ele prepara respostas para todos eles. Algumas vezes, por conta da enormidade de respostas, não consegue mandá-las. Então ele as guarda, para um dia entregá-las, talvez pessoalmente.
Aquele chavão que diz que o importante não é quantidade, é qualidade, não serve para o escritor periférico. Para ele, quantidade e qualidade são ao mesmo tempo essenciais, são como gêmeos univitelinos. Isso porque a sua matemática é simples: um bom leitor já é multidão!

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