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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS, POLÍTICA, POLITICALHA E GREVE DE FOME NA UFMA

Marizélia Ribeiro (*)

A Academia Maranhense de Letras (AML), representada pelo seu atual presidente, o jornalista e advogado Benedito Buzar, em solene posição corporativista e de desprezo à consideração dos vários lados envolvidos na questão em foco, emitiu uma Moção de Desagravo a um de seus pares, o reitor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Essa moção, a bem da verdade, não disse claramente a que veio. Tão somente declara que a AML, “entidade cultural ciosa das altas tradições de Civilização e Cultura que são glorioso apanágio de nosso povo, e cônscia dos laços históricos que a aproximam da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, para cuja criação contribuiu diretamente, manifesta sua incondicional solidariedade ao Professor Doutor NATALINO SALGADO FILHO, Reitor da mencionada IES, e que foi vítima de tratamento incompatível com a dignidade universitária, mormente em se tratando de gestor que vem realizando na UFMA administração benemérita e por todos os títulos exemplar.”

Moção tão cega nos elogios ao "confrade" quanto na inobservância sobre o que se passou na UFMA durante os dez dias em que estudantes tiveram a coragem de colocar a própria vida em defesa do direito à moradia, condição para uma vida digna.

Se isto não lhes sensibiliza, senhores imortais, informo-lhes que essa luta também decorreu do não cumprimento, pela atual administração da Universidade, de compromissos formais firmados entre o ex-reitor da UFMA e os estudantes, desde 2007, com chancela, inclusive, do Ministério Público Federal (MPF), para finalização do prédio que deveria ser a residência estudantil no Campus do Bacanga. Na gestão desse mesmo ex-reitor, o Plano Estratégico de Desenvolvimento Institucional (PEDI) foi aprovado na reunião de 14/03/2005 do Conselho Universitário (CONSUN), através da Resolução Nº 77. A UFMA se comprometia a elaborar projetos para construir Residências Estudantis. O atual reitor, enquanto conselheiro pelo Hospital Universitário, deve ter participado dessa reunião.

Em que se baseou a AML para se colocar em “incondicional solidariedade” ao Magnífico Reitor da UFMA?

O presidente imortal Benedito Buzar, cassado pela Ditadura Militar Brasileira (1964/1985) e recentemente homenageado pela Assembleia Legislativa com “devolução” do seu mandato, não enviou qualquer representante para ouvir os estudantes. Estranho para quem escreveu sobre politicalha – exploração através do Estado para atender interesses de grupos em detrimento da coletividade!

Nenhum representante dessa entidade observou que a população de São Luís se colocou solidária aos estudantes, nas manifestações em avenidas e na entrada do campus do Bacanga, nas redes sociais e em dezenas de cartas de apoio. Por ocasião das duas paralisações na barragem do Bacanga, em que pese terem suas vidas alteradas pelo movimento, a maioria dos que por lá transitavam se mostrava a favor da causa estudantil.

Certamente, o estudante Josemiro será mais lembrado e reconhecido do que muitos imortais da AML, entidade que não divulga as qualificações que precisam ter os candidatos à imortalidade acadêmica.

Quanto às manifestações de professores e alunos ocorridas à porta do imóvel particular do Magnífico, no final da manhã do dia 30/11/2013, serem consideradas uma “prática de cafajestadas” pelo imortal Jomar Moraes, é uma indicação de que ele parece ter esquecido que o público e o privado sempre se misturaram na UFMA. Quando procurador dessa instituição, Jomar Moraes deve ter ouvido falar sobre funcionários públicos federais serem deslocados de suas funções para prestarem serviços em residências de gestores da Universidade.

O que o acadêmico chama de “cafajestada” foi uma decisão de assembleia, na busca de soluções urgentes para um movimento cuja forma extremada preocupava a todos; foi uma manifestação pacífica para solicitar ao Magnífico – cujo local de trabalho na UFMA foi mantido trancado desde o início das manifestações – que tomasse atitudes para dar fim à greve de fome de Josemiro.

Naquela manhã, por telefone, o reitor recusou o pedido da deputada Eliziane Gama de incluir professores e alunos na Comissão que tentou resolver o impasse, a qual teve como integrantes o defensor Público Yuri Costa e o Deputado Bira do Pindaré, entre outros. Os dois deputados representavam a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa no nosso estado.

O ex-procurador, a meu ver, tentou desqualificar essa inesquecível luta social quando tentou reduzi-la a “expedientes de politicalha” pela aproximação de pleitos eleitorais no Maranhão e na UFMA. Quanto às eleições no âmbito da Universidade, ele não deve ter sido informado sobre a ausência de uma “chapa branca” nas eleições do dia 18/12/2013 para a diretoria da Associação de Professores da UFMA (APRUMA). Os organizadores dessa “chapa” não devem ter encontrado professores dispostos a amargar uma terceira derrota consecutiva!

Para os que não me conhecem, me apresento como pediatra e professora da UFMA que trabalha no Núcleo de Extensão da Vila Embratel, um bairro do entorno da universidade. O meu certificado mais importante é uma Menção Honrosa dada por entidades comunitárias por eu ter participado da luta pelas aquisições do Centro de Saúde da Vila Embratel e do Adolescentro.

Finalizando, faço minhas as palavras do poeta Luis Augusto Cassas. Ele critica a AML por se manter distante aos problemas sociais. O poema Diabetes, que é bem representativo do meu pensamento, está em seu primeiro livro, República dos Becos, de 1981.

DIABETES (Luis Augusto Cassas)

Os imortais da Academia
estão tomando chá:
gestos polidos unhas aparadas
bigodes tosados pernas cruzadas
no melhor estilo gótico
excedem-se no dietético
para adocicar a conversa
Não sabem que lá fora
a vida é amarga e má;
que a arte está é nas ruas
mercados feiras e prisões
— eles os imortais —
imobilizados em seus fardões
imortalizados imorredouros
mortos

(*) Marizélia Ribeiro – Doutora em Políticas Públicas (UFMA), professora de pediatria (UFMA) e diretora da APRUMA.

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