Ed Wilson Araújo
De Porto Alegre *
Durante o processo de cassação do ex-governador Jackson Lago
(PDT), a resistência ao golpe caracterizou-se como um revival da Balaiada,
marcante rebelião popular na primeira metade do século XIX, no Maranhão.
Assim, pedetistas, petistas, socialistas e outras tribos
passaram a se chamar “balaios”.
Os golpistas, símbolo da oligarquia Sarney, ficaram com o
epíteto de “barricas”, alusivo ao Boi Barrica, companhia de teatro de
rua formada por artistas do bairro da Madre Deus, sob a liderança
do talentoso José Pereira Godão.
Detalhe importante! “Barrica” também serviu para denominar
uma operação da Polícia Federal que saiu no encalço do empresário Fernando
Sarney, homem dos negócios da família. A chamada “Operação Boi Barrica” da PF
foi tão impactante que Fernando reagiu a ponto de apagá-la dos registros
oficiais do Ministério da Justiça.
Derivada do Barrica, o Bicho Terra é outra bela manifestação cultural, também criada na
Madre Deus.
Carnavalescos
palacianos
Todos os buracos nas ruas e avenidas de São Luís (e são tantos!) sabem que o
Boi Barrica e o Bicho Terra têm padrinhos no Palácio dos Leões e tiveram
tratamento especial desde a gestão do ex-secretário estadual de Cultura Luis
Bulcão.
Há tempos os barricas frequentam as festas privadas na corte
de Roseana, cantam e dançam nas rodas de violão do soberano e beneficiam-se dos
privilégios da política cultural do Governo do Estado.
Sem tirar o mérito, o talento e a criatividade dos seus
criadores e brincantes (muitos deles pessoas comuns), as condições de produção
do Boi Barrica e do Bicho Terra dão a eles vantagens, favores, trânsito entre
os financiadores, facilidades dos agentes públicos e sobretudo a simpatia da
família da governadora.
Na área Itaqui-Bacanga, na Camboa, Liberdade, na zona rural
de São Luis e em dezenas de cidades do Maranhão existem usinas de artistas tão
criativos quanto os da Madre Deus, mas não recebem os mesmos mimos.
O tratamento diferenciado entre os iguais é a questão
central. O resto é máscara e perfumaria.
Política cultural
Nos sucessivos governos Roseana, as condições de produção do
Barrica e do Terra são infinitamente superiores em relação às migalhas
distribuídas ao resto das manifestações culturais do Maranhão inteiro.
Mas não é só isso. A inserção da oligarquia na vida cultural
de São Luis foi uma diretriz pensada na primeira era (ou maldição!) Roseana
Sarney (1995 – 2002), quando o governo tratou o Carnaval e o São João como
questões estratégicas do ponto de vista da hegemonia política.
Foi nesse período que Roseana convocou Luis Bulcão e deu status especial à pasta da Cultura, centralizou o
dinheiro e descentralizou os espaços, criando as praças nos bairros - os Viva(s)
- e demarcou a Madre Deus e adjacências como principais territórios carnavalesco
e junino da cidade.
Quem assistiu à reportagem cinematográfica “Maranhão 66”, de
Glauber Rocha, sobre a posse do então governador de José Sarney, entenderá
esses dois parágrafos aí acima como um desdobramento das cenas política e
cultural no nosso estado.
Francisco
Gonçalves e Bicho Terra
Pois bem, tudo isso foi dito para tecer algumas
considerações sobre a polêmica em torno do tratamento dispensado ao Bicho Terra
pela Fundação Municipal de Cultura (FUNC), presidida pelo professor e jornalista Francisco Gonçalves,
reconhecido pela correção nos seus atos.
Entre as principais ações na FUNC, o presidente instituiu os editais como
regra, visando quebrar os vícios do apadrinhamento e do clientelismo vigentes
no serviço público, especialmente no Maranhão, onde o compadrio vale mais que o
mérito.
Gonçalves foi patrulhado pelos balaios, porque o Bicho Terra
apresentou-se na condição de convidado para a abertura do Carnaval, sem
exigência de concorrer nos editais.
A crítica balaia argumenta que o folguedo preferido de
Roseana Sarney, já tão badalado no governo, não deveria ser convidado de honra
no terreiro do prefeito Edivaldo Holanda Junior (PTC), hoje na oposição à
oligarquia.
Evangélico, o prefeito não participa de festas juninas ou
carnavalescas.
Em nota (leia abaixo), o presidente da FUNC disse o seguinte: "a atual gestão não adota critérios ideológicos e/ou partidários para contratar artistas e grupos artísticos."
No Carnaval, festa profana, todo pecado é permitido.
Convidado é convidado e concorrente de edital veste a regra.
Aqui, parece não ter sido seguido o provérbio “pau que bate em Chico também dá em
Francisco.” Na crítica dos balaios, os
barricas do Bicho Terra também teriam de concorrer nos editais.
Outros carnavais
O blogue não vê como o fim do mundo o desfile do Bicho Terra
no terreiro da oposição à oligarquia.
Quando era governador, o líder da Balaiada, Jackson Lago
(PDT), pagava religiosamente para ser achincalhado no blogue de Décio Sá, seu
principal algoz no ciberespaço barrica do Sistema Mirante de José Sarney (PMDB).
Ao mesmo tempo em que despejava fortunas no Sistema Mirante,
Lago mandou a sua própria Polícia Militar fechar a rádio Timbira AM, controlada
pelo Governo do Estado, porque o radialista aliado, Gilberto Lima, reclamava da
falta de apoio à emissora balaia.
O prefeito de Barreirinhas, Léo Costa, pedetista histórico,
a dita cara da Balaiada, é agora o maior correligionário da governadora Roseana
Sarney (PMDB).
Conhecidas famílias tradicionais do Maranhão, agindo em
benefício próprio, para atender aos seus interesses financeiros, oscilam entre
balaias e barricas, momescamente.
Doido é quem se mata por elas!
Mascarados
Esse suposto maniqueísmo parece sempre acabar na quarta-feira
de cinzas eleitoral, quando balaios e barricas deixam cair as máscaras e
assumem outras personas.
Nas festas do Pergentino Holanda (PH) estão juntos e
misturados, dividindo o dinheiro, compartilhando os favores e negociando os
privilégios, na maioria das vezes contra o interesse público.
Não é o caso de Francisco Gonçalves, que vem fazendo um bom
trabalho à frente da FUNC
e se distingue na conduta da maioria. Afinal, uma falha no desfile não tira o
brilho do Carnaval.
Formado na tradição dialética e conhecedor de estratégia,
Gonçalves sabe que não se faz balaiada sem levantar barricadas.
VEJA A NOTA ASSINADA PELO PRESIDENTE DA FUNC
“Sobre a apresentação de grupos artísticos na abertura e
encerramento do Carnaval de Passarela, a Fundação Municipal de Cultura (FUNC)
vem a público informar:
1) da programação de abertura participaram o Bicho Terra e a
Máquina de Descascar Alho, o primeiro como convidado e o segundo como
classificado em edital;
2) os artistas e grupos artísticos participam da
programação, selecionados através de edital e ainda por convite, a critério da
administração e desde que os convidados tenham amplo reconhecimento público;
3) assim, o resultado dos editais está sendo rigorosamente
cumprido;
4) a atual gestão não adota critérios ideológicos e/ou
partidários para contratar artistas e grupos artísticos;
5) do encerramento do Carnaval de Passarela participarão,
como convidados, os batalhões dos bois de Maracanã, Maioba e Pindoba,
representantes do sotaque de Matraca da Ilha, para o espetáculo Trupiada,
quando os personagens do São João receberão a chave da cidade das mãos do Rei
Momo.”
São Luís, 28 de fevereiro de 2014
Francisco Gonçalves da Conceição
Presidente
* Ed Wilson Araújo escreve de Porto Alegre, onde está
morando pelos próximos nove meses, cursando doutorado em Comunicação na PUCRS.
Um comentário:
Barrica e Bicho Terra pertencem a Família Sarney, Godão é apenas marionete!! Isso tá na cara, só cego não quer ver.
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