Salvador Fernandes *
A Governadora Roseana Sarney Murad anunciou que fica no cargo até o final do
mandato. Há duas vertentes de explicação: uma, de dimensão estritamente
pessoal, onde sinaliza que cansou das lides ”politicas” e cogita uma vida longe
dos holofotes, cujas prioridades são as relações de cunho familiar; outra, de
aspecto institucional, que seria justificada pela necessidade de concluir sua
“exitosa” administração estadual, cantada em verso e prosa como o melhor
governo de sua vida, aquele que está catapultando os maranhenses ao idílico
mundo das nações desenvolvidas.
Sem delongas, esta foi uma decisão política indesejada, consequência do
progressivo exaurimento do longo domínio oligárquico no Maranhão, ocasionando,
inclusive, a fulminante desistência da capenga pré-candidatura de Luís Fernando
Silva ao Governo do Estado. Para isto, contribuiu o precipitado e forçado
enclausuramento político do ex-vice-governador na Corte de Contas maranhense,
situação que provocou a transferência prioritária do jogo sucessório para o
Legislativo estadual. Lá no parlamento, a “Branca” encontrou uma inesperada
resistência ao pré-concebido desfecho de sua intrincada equação continuísta.
O Clã precisava de Roseana Sarney com mandato no Congresso Nacional. Afinal, a
governadora, ao lado do Senador Sarney, são os principais expoentes da
oligarquia, e o êxito de seus negócios depende, sobretudo, da força que exala
dos mandatos conquistados. Porém, para eles, a condução das relações de
Poder é, antes de tudo, de natureza familiar. Dessa forma, jamais confiariam,
ou terceirizariam, o comando do governo estadual. Seja a uma “estrela” recém
incorporada à sua constelação oligárquica, ou, especialmente, a um Presidente
de Casa Legislativa sedento pela cadeira do Palácio dos Leões, cujo principal conselheiro
é ninguém menos que o Ex-Governador José Reinaldo Tavares – integrante do rol
de inimigos mortais do Velho Morubixaba.
O certo é que a Oligarquia não tinha garantias de eleger, pela via indireta,
Luís Fernando oficialmente governador do Maranhão. Logo, os outros conluios
tentados no Legislativo estadual direcionavam-se para uma possível
relativização da necessária fidelidade canina, exigida do sucessor da
governadora. Preterida no parlamento, a Oligarquia não podia abdicar da Arca
estadual, instrumento primordial e estratégico para buscar, mediante emprego do
patrimonialismo escancarado, reverter o quadro eleitoral que se apresenta
absolutamente desfavorável. Além disso, não desejam a repetição da malograda
experiência de 2006, quando a Oligarquia disputou, com a própria Roseana, o
governo estadual, sem estar no seu comando, e foi derrotada pelo saudoso
Jackson Lago. Assim, a permanência da Governadora Roseana Sarney hipoteca a
viabilização plena do tradicional “modus operandi” eleitoral da Oligarquia.
Todavia, outros estorvos políticos se avizinham. Destaca-se a conjuntura de
indefinição nas hostes dos petistas locais, reforçada pela renúncia de Luís
Fernando. Antes da desistência do pré-candidato governista, o PT maranhense,
nas palavras de seus dirigentes do campo majoritário, seria novamente aliado da
Oligarquia no próximo pleito estadual.
Agora, com a ambiência de crise no “arraiá” oligárquico, potencializada pela
perda dos cargos ocupados por petistas na administração estadual, argumentam que
a questão da sucessão estadual precisa ser “rediscutida”. No entanto, a
instância estadual “opina”, mas não decide. A deliberação final será da
Direção Nacional do Partido. A perspectiva é de modificação de seu
posicionamento sobre a conjuntura sucessória local. Isto por conta: do desgaste
nacional decorrente da estreita e prolongada relação política do PT com a
oligarquia Sarney; da recente queda nas pesquisas eleitorais da candidata Dilma
Roussef; e, na esfera estadual, da manutenção persistente da pré-candidatura de
Flávio Dino em patamares de intenções de votos superiores a 50%.
Os últimos acontecimentos políticos no seio oligárquico reforçam a tendência de
que a sigla trabalhadora descarte um alinhamento exclusivo com as candidaturas
majoritárias sarneisistas. Esse novo cenário enfraquece a tese que tenta
viabilizar um acordo com as demais forças políticas integrantes da base
governista no Estado, enquanto que reforça a idéia de lançamento uma
candidatura “pró-forma” ao Governo estadual.
Entretanto, caso se confirme a propensão de queda da presidente Dilma, e Lula
venha substituí-la, acentuam-se as possibilidades da tentativa de imposição de
um cenário de coalização partidária. Se não prosperar a ideia do chapão da base
aliada estadual, e Lula se torne candidato presidencial, haverá uma
revitalização dos laços políticos com a Oligarquia, ficando, mais uma vez, as
forças democráticas, hoje majoritariamente aglutinadas em torno do
pré-candidato Flavio Dino, num plano secundário.
No processo eleitoral de 2010, o PT foi fundamental ao avalizar uma sobrevida
política-eleitoral à oligarquia Sarney. Em 2014, o cenário político-eleitoral
aponta para o desfazimento relativo, pelo PT nacional, da eterna gratidão ao
“imortal” José Sarney, materializada em substantivos espaços na administração
federal e nos apoios ostensivos às candidaturas majoritárias oligárquicas no
Estado.
* Salvador Fernandes
Servidor Público Federal
Economista
Ex-Presidente Estadual do PT/MA (1996-1999)
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