Pugilato verbal entre petistas e tucanos tem a tônica do ódio |
A maneira menos adequada de fazer a cobertura política é
dividir o Brasil entre o bem e o mal. Esse maniqueísmo não ajuda a entender a
realidade e informar corretamente o público.
Tudo começa no Jornal Nacional, quando trata apenas o PT e
seus aliados como criminosos, escondendo as falcatruas tucanas e DEMistas.
A cobertura da Rede Globo vai de encontro à configuração dos
partidos. Se as legendas tradicionais estão cada dia mais parecidas, porque
apenas umas são corruptas e outras não?
Por que os petistas são demônios e os tucanos, anjos?
Mas, o fundamentalismo não ocorre apenas nos meios de
comunicação. É característica também dos partidos.
Militantes do PT e do PSDB passam o
dia nas redes sociais se agredindo, enquanto o governo Dilma Roussef (PT) copia
quase tudo dos tucanos: a prática corrupta, a política econômica e até a
escolha do ministro da Fazenda preferido de Aécio Neves.
Enquanto a militância se mata, às vezes até ingenuamente, o
petismo segue cada vez mais atucanado.
O fundamentalismo geralmente cega a capacidade de análise e
dificulta ver no adversário alguma virtude.
O ódio e os afetos estão acima de qualquer coisa, até mesmo
da razoabilidade. Qualquer tucano é inimigo mortal de um petista. E vice-versa.
Esse passionalismo é incapaz de reconhecer equilíbrio nas
posturas de Fernando Henrique e José Serra, tucanos de proa, que se
manifestaram contra o impeachment de Dilma.
Por puro ódio, de olhos vendados à realidade, tem militante
acreditando que Lula é Deus, Zé Dirceu é Santo, Fernando Henrique é Papa e
Aécio Neves o Messias.
Os ativistas partidários nas redes sociais agem por várias
motivações.
A presidente Dilma Roussef copiou quase tudo de Aécio Neves |
Uns têm negócios com o governo e se manifestam para não
perder seus esquemas. Outros destilam opiniões por enxergarem diferenças
abissais entre “PT esquerda” e “PSDB direita”.
E tem aqueles que agem por ingenuidade ou como amestrados,
repetindo os mantras dos chefes.
Estes são ventríloquos e beiram ao ridículo. Passam o dia na
Internet espalhando que o partido adversário também é corrupto, desviou
montanhas de dinheiro público e é mais bandido. Traduzindo: “o meu partido é
degenerado, mas o adversário é mais!”
MARANHÃO
O mesmo ocorre no Maranhão, onde o maniqueísmo se traduz em
Sarney e anti-Sarney.
Na forma fundamentalista de ver a política, tudo de ruim
está no primeiro e a bondade no outro grupo.
É mais um equívoco que só se alimenta no ódio das redes
sociais e nos blogs alinhados aos dois campos políticos, mas sem raiz na política
real.
O governador Flávio Dino amplia a base nos tucanos: Luis Fernando com a ficha do PSDB |
Eleito, o governador Flávio Dino (PCdoB) escolheu o
sarneísta Rogério Cafeteira (PMDB) para liderar a bancada governista na
Assembleia Legislativa.
O PMDB, outrora um mastodonte político de Sarney, está
dividido em três facções: os mudos, os desertores e os oposicionistas. Os
primeiros sequer tem coragem de assumir o papel de oposição; os segundos,
mudaram de partido.
A oposição a Dino ficou reduzida a quatro deputados das
famílias Sarney & Murad.
Enquanto o PMDB murcha, os tucanos se agigantam no Maranhão.
Tendo o PSDB na vice-governadoria e uma ampla base nas
bancadas federal e estadual, Flávio Dino constrói a governabilidade costurando
aliados em um amplo espectro partidário.
O maior exemplo é a filiação de Luís Fernando Silva no PSDB,
ex-candidato a governador da oligarquia Sarney em 2014 e braço direito da
ex-governadora Roseana Sarney.
Outrora demonizado nos blogs e redes sociais mantidas pelos
comunistas, Luís Fernando é alçado ao posto de celebridade tucana da base de
Flávio Dino.
Luis Fernando passou a ser o tucano mais comunista do
Maranhão.
Não há nada de absurdo nisso. É apenas a política real, o
ajuste das forças partidárias de acordo com a imbatível atração gravitacional
do Palácio dos Leões.
Ao final das contas, nada impede que Flávio Dino faça um bom
governo, inclusive com o apoio dos velhos e novos tucanos que foram aliados de
José Sarney.
Uma gestão eficiente é sobretudo resultado de uma boa
capacidade gerencial, baseada em um programa de governo consistente,
articulação política e dinheiro para tocar obras.
Quem pensa e escreve sobre política com a lente do
fundamentalismo, acaba correndo o risco de passar por diversos
constrangimentos.
O ex-homem forte de Roseana Sarney foi recebido com glórias
no PSDB. Quem o atacava com ódio, vai defendê-lo com carinho, porque agora Luís
Fernando faz parte da base do governo Flávio Dino.
O maniqueísmo e o fundamentalismo só servem para alimentar
igrejismos ideológicos que não correspondem à política real.
São formas de despolitização da política.
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