Marcos Fábio Belo Matos, professor doutor do Curso de
Jornalismo da UFMA Imperatriz
marcosfmatos@gmail.com
Estou navegando pela net e dou de cara com uma notícia de
que a “modelo e apresentadora”, vice-miss bumbum de 2011, Andressa Urach,
gaúcha, 27 anos, está internada na UTI, em estado grave, no Grupo Hospitalar
Conceição, de Porto Alegre. Segundo a nota da assessoria de comunicação do
hospital, publicada no site de notícias G1, “Andressa chegou à emergência do
Hospital Conceição no sábado, dia 29 de novembro, às 22h30min, trazida pela
mãe. A paciente apresenta um processo de infecção em decorrência da
aplicação de hidrogel nos membros inferiores, realizada há cinco anos em uma
clínica especializada”.
Pela notícia, fiquei sabendo que ela aplicou o produto há
algum tempo e só agora ele fez mal. Cliquei num link do G1 e pude ler que “O
hidrogel é usado para aumento de volume em regiões como o bumbum e as coxas.
Também é usado para o preenchimento de linhas e rugas no rosto e no pescoço.”
Fui ver as fotos de Andressa e pude constatar que, realmente, ela tinha um
bumbum bastante avantajado, além de coxas bem grossas.
Mas Andressa Urach já era uma moça linda. Nasceu gaúcha, o
que já lhe dava 87% de chances de ser uma mulher linda e glamourosa. É da mesma
estirpe geográfica de Giselle Bündchen, outra sulista famosíssima. Andressa,
porém, queria mais. Talvez precisasse de mais beleza.
Para quê? Para vencer na vida, para fazer revistas
masculinas (como, de fato, fez), para competir com outras beldades igualmente
bundudas e pernudas do mundo das celebridades e subcelebridades que povoam a
tela da TV, os programas de reality, o carnaval, as capas das revistas, a
internet, as casas de eventos, as boates de streape tease, os carrões dos
executivos, as festas de políticos regadas a muito uísque, canapés importados,
lugares paradisíacos e mulheres lindas, muitas Andressas – que estão lá por
interesse, por oportunismo, por dinheiro ou talvez até por amor.
Talvez ainda para dar uma vida melhor à família, ao filho de
9 anos, para arranjar um marido rico e famoso (ou, se não famoso, rico, só
rico...), para massagear o seu ego de “vice-miss bumbum 2011”, para poder
comprar suas roupas importadas, seu perfume francês, seu apartamento num bairro
chique do Rio de Janeiro, seu carrão, ou para pagar outras aplicações de
hidrogel, quando as primeiras já não fizessem mais efeito...
Talvez, igualmente, para ter a segurança de que, realmente,
era uma mulher linda e que seu corpo, moldado a hidrogel e sabe-se lá ao que
mais, fizesse o sucesso que ela merecia, afinal, nasceu em Ijuí, no Rio Grande
do Sul, e o imaginário das gaúchas as obriga a serem lindas ou mais que lindas.
Fiquei triste com o que aconteceu a Andressa. Mas também fiquei pensativo. Afinal, é preciso existir outros valores a nortear a vida. Na “sociedade do espetáculo”, em que vicejamos todos, essencialmente visual, a beleza não precisa prevalecer sobre todas as coisas. Ou a todo custo. Há outros valores. Tem que haver outros valores.
Andressa pode vir a falecer. Não importa. Daqui a pouco,
outras Andressas estarão aplicando hidrogel – ou algum outro produto, mais caro
ou mais barato, para se equilibrar sobre o obelisco de Narciso que as sustenta.
Cleópatra era feia, dizem os historiadores. Fosse hoje, não
serviria nem para limpar o chão da clínica onde Andressa Urach, agora, convalesce.
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