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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

OS TRÊS TRABALHOS DE HÉRCULES: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA ELEVAR O IDH DO MARANHÃO (o 3º trabalho – IDH/Longevidade)

Blogue publica hoje o terceiro artigo da série sobre o IDH no Maranhão.

Josemar Sousa Lima é economista, com especialização de Projetos de Desenvolvimento Rural Sustentável e Consultor do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA.

O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, lançado em 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, originou-se de estudos realizados pelo economista paquistanês Mahbub Ul Hag e teve como objetivo explícito “Desviar o foco do desenvolvimento da economia e da contabilidade nacional para políticas centradas em pessoas”.

Para produzir o primeiro Relatório do Desenvolvimento Humano – RDH Mahbub reuniu um grupo seleto de economistas bem conhecidos, incluindo Paul Streeten, Frances Stewart, Gustav Ranis, Keith Griffin, Sudhir Anand e Meghnad Desai, mas foi o trabalho de Amartya Sem, sobre capacidades e funcionamentos que forneceu o quadro conceitual do trabalho. Hag tinha certeza de que uma medida única, composta pelo desenvolvimento humano, seria necessária para convencer a opinião pública, os acadêmicos e as autoridades políticas de que podem e devem avaliar o desenvolvimento não só pelos avanços econômicos, mas também pelas melhorias no bem estar humano.

A partir de 2010, o IDH passou a combinar as três mais significativas dimensões do desenvolvimento humano: Uma vida Longa e Saudável, O Acesso ao Conhecimento e Um Padrão de Vida Decente. Foram, então, desenvolvidos os três seguintes índices: IDH/Educação, IDH/Longevidade e IDH/Renda.

Faço esse enfoque inicial para mostrar os três grandes desafios que o governo, a sociedade civil e os empreendedores passam a ter a partir de 1 de janeiro de 2015, quando o nova administração do estado do Maranhão inicia uma cruzada para elevar os indicadores sociais que envergonham todos os maranhenses.

PENÚLTIMO NA FILA

O Maranhão hoje é o 26 º (vigésimo sexto) no ranque nacional do IDH, só ganhando do desditado estado de Alagoas, também vítima da mesma doença cancerígena que atacou o Maranhão e o deixou em estado terminal na UTI, ou mais apropriadamente na sarjeta porque lá não existiam mais vagas para indigentes.

O IDH/Total do estado do Maranhão situa-se na casa de 0,639, numa escala que vai de zero 0 (zero) a 1 (um), com status de médio desenvolvimento humano (0,600 a 0,699). Trato aqui da terceira dimensão básica do desenvolvimento humano – Uma Vida Longa e Saudável. A expectativa de vida ao nascer é a variável eleita para o IDH/Longevidade ou Qualidade de vida.

O estado do Maranhão é o 26º (vigésimo sexto) colocado dentre os estados brasileiros neste componente, mesmo apresentando numericamente o maior dos valores dos IDH’s setoriais: 0,757, sendo longevidade o que mais contribuiu para o IDH da UF. Essa contribuição, entretanto, é mais pela força da natureza, que ainda nos brinda com regiões onde a alimentação é farta e saudável, que decorrente de intervenções dos agentes públicos. E observe que o estado do Maranhão teve um Ministro do Meio Ambiente, cujo maior legado foi cooptar ONG’s e repassar vultosos recursos para prefeituras aliadas politicamente, objetivando a execução, mais apropriadamente, a inexecução de projetos ambientais duvidosos.

QUANTIDADE E QUALIDADE DE VIDA

A expectativa de vida ao nascer mostra o número médio de anos que as pessoas nascidas no estado do Maranhão viveriam a partir do nascimento, mantidos os padrões de mortalidade em cada período. Reflete as condições da saúde e salubridade, já que o cálculo da expectativa de vida é fortemente influenciado pelo número de mortes precoces.

A expectativa de vida ao nascer no estado do Maranhão é de 70,4 anos, sendo no Rio Grande do Norte um pouco mais elevada, 72,5 anos, ambas mais elevadas do que a média do Brasil, 70,4 anos.

Ter uma vida longa e saudável é fundamental para uma vida plena. A promoção do desenvolvimento humano requer que sejam ampliadas as oportunidades que as pessoas têm de evitar a morte prematura. E que seja garantido a elas um ambiente saudável, com acesso à saúde de qualidade e a salubridade, para que possam atingir o padrão mais elevado de saúde física e mental.

Considerando os pressupostos políticos e éticos do conceito de desenvolvimento sustentável, o IDH/Longevidade, mesmo tendo apenas uma variável que é a esperança de vida ao nascer, é um dos mais abrangentes, envolvendo ações de saúde, saneamento básico (abastecimento de água, esgotos sanitários, resíduos sólidos, controle de vetores, recursos hídricos, drenagem urbana), mobilidade urbana, habitação, urbanismo, alimentação e nutrição, todos vinculados ao conceito de salubridade ambiental. 

Sintetiza, além disso, as condições sociais e todas as causas de morte são contempladas para se chegar ao indicador, tanto doenças quanto causas externas, tais como violência e acidentes. Fica assim, espero, mais fácil entender porque somos premiados como o segundo pior IDH entre todos os estados brasileiros.

Segundo o IBGE, com dados do Censo 2010, a Taxa de Mortalidade Infantil no país é de 16,7 mortes de crianças menores de um ano de idade a cada mil nascidos vivos, sendo a 93ª maior do mundo. A unidade federativa com maior índice é, como sempre, Alagoas, cujo valor da mortalidade infantil é de 30,2, seguido pelo estado do Maranhão com 28,0 mortes ocorridas antes de um ano de vida em cada 1000 (mil) crianças nascidas vivas.

Com o resultado alcançado em 2010, o Brasil cumpriu uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas, segundo a qual a mortalidade infantil no país deve estar abaixo de 17,9 óbitos por mil até 2015. O governo do estado do Maranhão, acredito, nem tinha conhecimento das Metas do Milênio, não é muito a sua praia e permanece muito longe da meta estabelecida. O Estado do Rio Grande do Norte quase chega lá, bateu na trave com 19,7.

As mortes dessas crianças estão vinculadas às doenças infectocontagiosas, problemas durante a gravidez e da deficiência do rendimento familiar, afetando a quantidade e qualidade da alimentação e nutrição, as condições médico-sanitárias e as péssimas condições de moradia das populações pobres.

Os indicadores de habitação no estado do Maranhão são precários, restringindo-se em muitos casos só às áreas urbanas, deixando na penumbra a triste realidade dos povoados, aglomerações urbanas que formam os municípios, onde a grande maioria não tem acesso a quaisquer serviços de saneamento básico (abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo).

SUPERAÇÃO DOS INDICADORES

O Plano de Governo 2015/2018 – Governo Flávio Dino traz um poderoso arsenal para enfrentar os gargalos que levam o estado do Maranhão à beira do abismo no componente IDH/Qualidade de Vida ou Longevidade. Vimos que a questão da longevidade envolve muitas e importantes dimensões do desenvolvimento.

Lembro-me de uma pesquisa sobre capital social que fazia para o IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura), no Arquipélago do Marajó (PA), e numa reunião plenária o prefeito local convocou um cidadão, um dos mais letrados da cidade, para contestar os baixíssimos indicadores sociais do município, com o argumento de que a região tinha uma das mais expressivas quantidades de pessoas com mais de 100 anos. E é verdade! Mesmo com o péssimo desempenho das políticas públicas de Marajó.

A fartura de alimentos saudáveis na região, principalmente peixes e mariscos, associada a um ambiente ainda limpo, à medicina caseira, à rusticidade do marajoara que se adaptou àquelas condições levam a que alguns deles vivam mais, mas essa realidade, quando comparada à taxa de mortalidade infantil, fica completamente nula e mesmo assim o ser humano tem necessidades que vão muito além da alimentação.

O Programa Água para Todos, com a universalização de água tratada e banheiro é uma das propostas que pode se converter em um programa âncora na área social. Alerto, entretanto, que ele deve estar vinculado a um outro programa de recuperação e revitalização dos rios e lagos, senão a emenda pode sair pior que o soneto.

A questão do fornecimento de água para São Luís é uma bomba relógio que explodirá a qualquer momento. A água é captada diretamente do leito do rio, sem qualquer sistema de reservatórios de acumulação e regulação da água no alto Itapecuru. E o rio está morrendo! A perfuração de poços artesianos não é uma solução aplicável para várias regiões do estado, tanto por questões geológicas como de saúde, relativamente à qualidade da água.

PROPOSTAS

Há, entretanto, um arsenal de propostas que, transformados em programas consistentes, poderão contribuir muito para elevação do IDH/Qualidade de Vida ou Longevidade. Dstaco, aqui, os seguintes programas com potencial para um salto qualitativo nesse componente do IDH: Minha Casa, Meu Maranhão, Segurança Para Todos, reestruturação do órgão gestor da Assistência Social, contribuição financeira para os CRA’s e CREA’s, utilização social dos recursos do Fumacoop (Fundo de Combate à Pobreza), universalização da LOA’s,  reestruturação da Funac, Mais Médicos Estadual, fortalecimento do Programa Saúde da Família e valorização e ampliação dos agentes de saúde, fortalecimento da gestão e recuperação das áreas protegidas do Maranhão, criação da Empresa Estadual de Transporte Urbano e o Programa Mais Bolsa Família, para suporte à aquisição de material escolar.

No primeiro artigo desta série (“Do PIB ao IDH: A evolução de um conceito”), procurei mostrar as diferentes visões do que é desenvolvimento, deixando patente que uma filosofia reinava nos governos Roseana Sarney – o Produto Interno Bruto era a medida do Desenvolvimento do Maranhão.

Mostrei, ainda, que o Governo Flávio Dino, ao optar pelo IDH para medição do desenvolvimento a partir de 2015, assume compromissos inéditos no estado do Maranhão com novos pressupostos políticos éticos de um novo padrão de desenvolvimento, deixando para trás uma visão de exploração intensiva e inadequada da natureza, provocando degradação e redução das potencialidades e riquezas renováveis e não renováveis do estado do Maranhão, além do atendimento desigual das necessidades, com manutenção dos segmentos sociais mais fragilizados excluídos e sem atendimento das carências da população pobre.

Nos segundo, terceiro e neste quarto artigo, tive a intenção de detalhar os indicadores e variáveis dos três componentes do IDH do Estado do Maranhão – o IDH/Educação, o IDH/Renda e o IDH/Longevidade ou, para mim mais apropriadamente, Qualidade de Vida, tentando identificar os mais complexos desafios do alcance das metas projetadas.

Agradeço ao jornalista e professor da UFMA, Ed Wilson Araujo, pela oportunidade de publicação dos referidos artigos no seu prestigioso blog e espero ter contribuído para abrir uma discussão sobre a questão. 

Há projetada sobre todos os maranhenses uma imagem de futuro que acena com um novo e longo ciclo de desenvolvimento, marcado pela integração competitiva de uma economia diversificada e de maior valor agregado, sustentada pela urgente e necessária formação de capital humano, capital social e capital empresarial empreendedor, com geração de inovação tecnológica e uma base institucional de alta qualidade. 

Essa Imagem de Futuro poderá se transformar em uma Visão de Futuro compartilhada, se trabalhada estrategicamente e negociada entre as diversas esferas de Governo, Sociedade Civil e Mercado.

Vamos à luta, sob inspiração dos versos do nosso Poeta Maior – Gonçalves Dias:

“A vida é combate que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar.”

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