Enquanto Zeca Baleiro pensa grande, formulando na sua carta
os sonhos de uma política cultural, Alcione recolhe o cachê contra os
interesses do Maranhão e do Brasil inteiro.
Ela foi uma das estrelas do comício patrocinado pelo governo
carioca para concentrar no Rio e nos demais estados produtores os dividendos do
petróleo.
O petróleo é uma riqueza nacional, independente de onde é
extraído. Todos os estados brasileiros têm direito de usufruir e partilhar das
riquezas minerais do país.
Os royalties do petróleo, se bem aplicados, serão importantes
para promover o desenvolvimento nacional, incluindo o Maranhão, onde a pobreza é
extrema.
Ao cantar pela exclusividade dos dividendos do petróleo para
o Rio, Alcione não destrata somente o Maranhão. Ela age na contra-mão de milhões
de brasileiros que podem ser beneficiados com a partilha razoável das riquezas
oriundas do petróleo.
Ao contrário de Alcione, que envergonha o Brasil e o Maranhão
com uma atitude mesquinha, Baleiro dá um exemplo de altivez, coisa de gente
grande, ao agradecer carinhosamente o entusiasmo de muitos maranhenses para que
ele assumisse um cargo público.
Baleiro agradeceu a mobilização feita nas redes sociais para
que ele fosse o secretário de Cultura na gestão do prefeito eleito Edivaldo
Holanda Junior (PTC). O cantor reconheceu a força dos entusiastas, mas
ressaltou que continuará contribuindo com a cultura, só que em outras dimensões.
O cantor criticou duramente os esquemas na área cultural do
Maranhão. “Não se muda o cenário cultural de uma cidade, estado ou país com
atitudes paternalistas ou favores de balcão (cultura que aliás sempre imperou
no Maranhão), mas sobretudo com uma discussão madura sobre o tema e uma
proposta efetiva e plausível de política cultural. Infelizmente o Maranhão – e
São Luís a reboque – está ainda na pré-história do debate político sobre
cultura, como de vários outros debates (e faço aqui uma exceção honrosa a
alguns guerreiros solitários como os amigos Joãozinho Ribeiro e Josias
Sobrinho)”, acentuou Baleiro.
Já Alcione, useira e vezeira das benesses do Palácio dos Leões,
dá as costas para o Maranhão cantando em prol da exclusividade do Rio de
Janeiro sobre o petróleo.
Valeu, Baleiro! Tristeza, Alcione.
Veja abaixo a carta de Zeca Baleiro:
SOBRE CAMPANHA PARA SECRETARIA DE CULTURA
Este texto é para agradecer a mobilização que foi feita nas
redes sociais há cerca de um mês pedindo o meu nome para Secretário Municipal
de Cultura de São Luís do Maranhão. Naturalmente fiquei lisonjeado com a
“campanha”, uma iniciativa de fãs, entusiastas e amigos, mesmo que não tenha
sido feito nenhum convite oficial.
Nunca havia passado pela minha cabeça o projeto de assumir
um cargo como o de Secretário de Cultura, mas é claro que, uma vez deflagrada a
campanha, minha mente sonhadora se perdeu em mil projetos e devaneios. Sonhei
festivais, editais, ocupação artística da área histórica, revitalização de
fato, oficinas, intercâmbios e troca de conhecimentos com o resto do país.
Sempre lutei, à minha maneira e com as armas que tinha, por uma vida cultural
proativa, intensa e autossuficiente nas cercanias do Maranhão, estado cuja
diversidade culturale racial ímpar faz dele um dos grandes tesouros do país (ainda
que bastante escondido).
Mas o cargo de Secretário Municipal de Cultura é um cargo
político, e mais que político, burocrático. E eu, por mais que me esforçasse,
não me sentiria capaz (não neste momento pelo menos) de desempenhar a função
como devida. Sou um artista, e é dessa maneira que sinto que posso ajudar no
desenvolvimento cultural do meu lugar de origem. Mas não tenho ilusões. Não se
muda o cenário cultural de uma cidade, estado ou país com atitudes
paternalistas ou favores de balcão (cultura que aliás sempre imperou no
Maranhão), mas sobretudo com uma discussão madura sobre o tema e uma proposta
efetiva e plausível de política cultural. Infelizmente o Maranhão – e São Luís
a reboque – está ainda na pré-história do debate político sobre cultura, como
de vários outros debates (e faço aqui uma exceção honrosa a alguns guerreiros
solitários como os amigos Joãozinho Ribeiro e Josias Sobrinho).
O que vigora é a “politicagem” mais estéril e infrutífera
(frutífera apenas para os bolsos dos beneficiados, que não são poucos) e a
briga de interesses tacanhos de grupos políticos e/ou partidários. Ora, a
cultura é um bem comum, e deveria estar acima de interesses deste ou daquele.
Mas não á assim que acontece, infelizmente.
E assim vai-se levando a carruagem, dando esmolas à nobreza
da cultura popular e enriquecendo os cofres de joões-ninguéns articulados e bem
relacionados, mas sem nenhum comprometimento com o fazer cultural. Minto, pois
eles têm sim um comprometimento com a cultura - a cultura do dinheiro, sujo de
preferência, e ganho às custas do suor de poetas, pintores, escritores,
músicos, grafiteiros, atores ou simplesmente amantes da arte e da beleza.
Enriquecem enquanto morrem à míngua felipes, leonardos, tetés, nivôs e toda a
realeza mestiça espalhada (e esquecida) nos guetos de nossa outrora “Ilha
Rebelde”.
Pois é justamente o que falta à nossa cidade: rebeldia.
Rebeldia de verdade, visceral, guerreira, suicida quem sabe. Aprender a não
bater continência aos absurdos e desmandos de governantes, sejam quais forem.
Aprender que fazer cultura é muito mais que administrar orçamentos de Carnaval
e de São João, prestigiando grupos não por talento ou mérito, mas por
retribuição a sei lá que “tenebrosas transações”.
Há muitas pessoas capazes em São Luís – artistas ou não -
para ocupar o cargo de Secretário de Cultura. Espero que o prefeito eleito
tenha a sabedoria de escolher uma pessoa honesta e realmente comprometida com
os rumos culturais da cidade. Nenhum governo, em nenhuma esfera, pode ser
considerado “vitorioso” se não se basear no tripé básico Saúde + Educação +
Cultura. Desejo sorte a ele e à cidade durante seu mandato.
E se por acaso acontecer de um dia eu ser de fato convidado
para cargo semelhante, espero estar à altura de merecê-lo, e ser capaz de fazer
metade do que sonho como projeto cultural ideal para minha cidade, cidade que
amo, apesar de todos os pesares de toda relação de amor, que pode (e deve) ser
crítica, por que não? Isso não torna o meu amor menor. Nem minha revolta. Sim,
revolta contra as almas mesquinhas que querem apequenar o que nasceu para ser
grande e belo e altivo, como a nossa Ilha de Upaon-Açu, grande desde o nome até
o seu destino.
Zeca Baleiro
26 de novembro de 2012
4 comentários:
Belo texto. Tanto o teu, Ed, como o do nosso Baleiro. A esta senhora digo que a História não a perdoará......temos que garantir isso produzindo nossa leitura da realidade, assim como vc o fez agora.
Gande Ed Wilson, quanto tempo, cara! Texto muito verdadeiro, tanto o seu, quanto do Baleiro, artista que nos orgulho pelo talento e pela posição invendável, que mandou a oligarquia Sataney tomar no cu ao recusar participar da palhaçada dos 400 "anus" na Lagoa. A partir de agora vou sempre passar por aqui pra saber boas (e outras nem tanto) novas sobre nosso sofrido mas amado Estado. Abraço!
só se for carta cultural porque em outro aspecto, como por exemplo: turismo do maranhão, ele é um desastre. Esse Baleiro é um mentiroso, não gosta do Maranhão. Quando é questionado sobre o Estado fica todo constrangido. Seus leitores devem ler esse comentário também:
http://www.gazetadailha.com.br/2012/11/27/mais-um-artista-maranhense-faz-feio-contra-o-estado/
Matéria replicada em nosso Blogue: http://saobeneditodoriopreto.blogspot.com.br/
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