Advogado
dos movimentos sociais e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, o
pré-candidato do PSOL ao governo do Maranhão, Antonio Pedrosa, traça um panorama
do projeto do partido para a disputa eleitoral de 2014.
A definição da candidatura, na visão de Pedrosa, foi um “consenso inédito no PSOL”. Ele
defende a construção da frente de esquerda com o PSTU e o PCB e distingue seu
perfil ideológico da oposição intraoligárquica, representada pela coalizão sob a liderança Flavio Dino (PCdoB).
Segundo Pedrosa,
o comunista “abandonou qualquer perspectiva programática e ampliou
desvairadamente seu campo político, de tal modo que coloca em dúvida as
vantagens do voto útil”.
Ele discorreu também sobre as críticas que o PSOL vem sofrendo devido às alianças com partidos de direita e financiamento de campanhas socialistas por empresas-símbolo do capitalismo.
Gestão participativa com adoção da consulta popular, valorização do magistério, ensino integral, controle social e foco
nos Direitos Humanos merecem destaque em um programa de governo para mudar o
Maranhão, indica o pré-candidato.
Veja a
entrevista:
Blogue –
Como ocorreu a definição da sua pré-candidatura a governador no PSOL?
Pedrosa
– O PSOL é um partido de correntes políticas, com visões distintas acerca
da função do partido e da tática. O meu nome foi importante para garantir a
unidade política interna e a sinalização para uma nova etapa de construção
partidária, fundamentada principalmente para a luta social, de onde eu venho.
Diante da conjuntura que se apresenta, há um entendimento importante de que é
preciso urgentemente avançar na consolidação de um campo político de esquerda,
independente da coalizão nacional PT-PMDB, que no Maranhão possui
duas faces: a oligarquia e sua dissidência intraoligárquica. Brigam aqui, mas
estão juntas em Brasília.
Blogue -
Não houve divergências entre os grupos rivais? Sua candidatura é consenso no
partido?
Pedrosa
– Pela primeira vez na história do partido não houve disputas e a minha
pré-candidatura é um consenso inédito. Isso evidentemente aumenta a minha
responsabilidade, porque entro no partido com a missão de caminhar para além da
candidatura ao governo, contribuindo para um certo equilíbrio na função de
conduzir o partido para os inadiáveis embates externos.
Blogue–
Ainda há possibilidade de formação de uma frente com o PSTU e o PCB? Quais as
convergências e divergências entre as três legendas?
Pedrosa
- Eu defendo a construção da frente. Esta possibilidade é real, pelo tipo
de relações que temos com a militância do PSTU e pelo histórico de alianças que
temos com o PCB. As conjunturas política nacional e regional
impõem a Frente como estratégia mais inteligente de resistência contra a
direita e um determinado modelo de pragmatismo político que invadiu partidos,
sindicatos e outras ferramentas de luta da juventude e da classe trabalhadora
no país.
Blogue–
O PSTU critica o PSOL por ter aceito dinheiro de empresários e alianças com
partidos conservadores. Como sua candidatura vai lidar com a crítica?
Pedrosa
- A aliança somente é possível quando as diferenças são menores do que as
semelhanças. O PSOL não é o PSTU, mas temos concepções de socialismo e de
tática que nos aproximam.
No PSOL,
o debate sobre financiamento de campanha ainda está em curso e apenas pessoas
individualmente consideradas mantêm visões distintas quanto ao financiamento de
campanha. No Maranhão, nesse aspecto, não temos divergências.
Quanto
às alianças com partidos conservadores, é um tema que requer
aprofundamento. Para nós, o problema vai além da manutenção de um leque de
aliança inflexível, mas na capacidade de levar adiante um programa de esquerda,
dentro de uma estratégia que valorize a função do parlamento e o diálogo
político para consolidar experiências de ruptura com o rebaixamento
programático em curso. Eu penso que este ainda é o maior desafio da
esquerda brasileira, embora não seja um tema adstrito à nossa pré-candidatura,
que conclama a formação da frente somente com os partidos acima citados.
Blogue -
O partido já definiu programa de governo? Quais seriam as três diretrizes
prioritárias do PSOL para o Maranhão?
Pedrosa
- O Maranhão é um Estado onde os gestores não planejam. Não há uma única
política pública que reflita um planejamento mínimo. Em 50 anos de domínio, o
grupo dominante sequer tem uma marca positiva, uma diretriz. A sensação é de
caos administrativo.
Entendemos
que a gestão terá que ser participativa, em primeiro lugar. O controle social e
participação do cidadão devem orientar o planejamento, inclusive o planejamento
da função orçamentária.
Depois,
pretendemos erguer a centro da estratégia de planejamento uma Secretaria de
Direitos Humanos, que será catalisadora dos processos de consulta popular e
monitoramento das políticas públicas, a partir de um Plano Estadual de Direitos
Humanos.
Ponto
sensível para a sustentabilidade de qualquer processo de mudança social é a
educação. A proposta inicial é valorizar a profissão do magistério,
especialmente do ensino fundamental e médio e adotar o ensino integral como
referência, tornando efetivo um projeto pedagógico condizente com a realidade
sócio-cultural dos alunos e da comunidade escolar. Na zona rural, esse projeto
inclui a inserção progressiva da Escola Família Agrícola e da Escola
Comunitária Rural.
Falar em
diretrizes por vezes gera confusão, na medida em que vivemos em um Estado onde
quase nada funciona, em termos de políticas públicas. Contudo, acreditamos que
a partir dessas diretrizes tocaremos em problemas cruciais que atormentam a
população, como a violência, a segurança pública, a saúde. A partir de
diretrizes como essas seria possível fazer opções de desenvolvimento mais
democráticas, alavancando o turismo, a indústria e o comércio.
Detalhar
cada uma dessas estratégias exigiria uma reflexão para além de uma abordagem de
diretrizes, no que estaremos à disposição para um debate em profundidade.
Blogue –
Como você avalia as outras pré-candidaturas ao governo do Maranhão?
Pedrosa
- Acreditamos que temos candidaturas definidas em dois campos políticos. O
grupo Sarney ainda se debate por um nome, mas certamente será o nome com maior
capacidade de agregar uma base social experimentada em vencer eleições conforme
o modelo político oligárquico. É um grupo que se espraia para além da
candidatura governamental, ocultando-se nas frestas de uma oposição cada vez
mais intraoligárquica, a partir de interesses econômicos e práticas políticas
similares.
Flávio
Dino está em campanha desde a eleição para prefeito da capital, onde a eleição
de Edvaldo sempre foi posta como primeiro passo para o Palácio dos Leões. Para vencer, abandonou qualquer perspectiva programática e ampliou
desvairadamente seu campo político, de tal modo que coloca em dúvida as
vantagens do voto útil.
Eliziane
Gama é uma incógnita, sem um partido identificado com a nova política e sem uma
base social capaz de reconfigurar a terceira via no Estado. A essas
alturas, muita gente duvida de que será candidata e uma nota recente, assinada
pelo PSDB e PPS sinaliza claramente para a desistência.
O campo
político da esquerda programática é uma imposição da realidade. Ele busca o
eleitor que não se sente confortável em votar na coalizão PT-PMDB, no Maranhão
ou no Planalto Central (que reúne PCdoB e os Sarneys). Para esse eleitor, não
interessa mais do mesmo.
Tampouco
entendemos que a terceira via, apresentada por Eduardo Campos e Marina
represente mudança, porque o nosso referencial de mudança significa romper em
primeiro lugar com esse modelo de política e de desenvolvimento voltados
sobretudo para os mais ricos.
Blogue –
Sua atuação profissional é pautada na luta em defesa dos direitos humanos, tema
que o senso comum interpreta como proteção aos bandidos. Como sua candidatura
pretende abordar os direitos humanos no calor dos debates na campanha?
Pedrosa
- Nosso campo político representa a luta por essência contra a ideologia do
senso comum. Não será uma candidatura para fazer concessões ao oportunismo
político ou à demagogia. O debate acerca dos direitos humanos é uma questão de
princípio político de qualquer partido de esquerda. É dessa forma que temos
conquistado mandatos populares, profundamente vinculados à luta por direitos
humanos, como é o caso de Marcelo Freixo, Chico Alencar e Jean Wylys,
no Rio de Janeiro; Ivan Valente, em São Paulo; e Randolfe, no Senado
Federal. Portanto, não será um desafio inédito.
Blogue–
Após as mortes de presos e da menina Ana Clara, qual a situação do Sistema
Penitenciário no Maranhão atualmente? Melhorou, piorou ou está igual?
Pedrosa
– Não haverá mudanças significativas, ao julgar pelas últimas declarações da
governadora. Se o candidato ao governo do grupo dela for Lobão Filho
talvez piore, porque já se manifestou agressivamente contra as medidas adotadas
para estancar a sangria dos presídios. O problema prisional reflete a crise do
modelo de sociedade. Enquanto o paradigma for a construção de presídios e não
boas escolas, conviveremos com essa realidade, em maior ou menor escala de
tragédia.
Blogue –
O Sindicato dos Agentes Penitenciários teve ingerência na crise de Pedrinhas
que resultou em assassinatos de presos e incêndios a ônibus?
Pedrosa
– O sindicato tem representado um reduto ideológico conservador de agentes
públicos, que são minoria. Devemos isso ao deputado Raimundo Cutrim, quando
Secretário de Segurança (de Roseana Sarney, hoje com Flávio Dino: vejam
que mudança!). Ele cedeu aos apelos do corporativismo que ascendeu às
direções dos presídios. Eles constituem um núcleo de resistência à humanização
dos presídios, o que somente agudiza a crise, que tem origens mais profundas no
desmantelamento do sistema de segurança pública e na exclusão social.
Blogue -
O que sua candidatura propõe para área de segurança para o Maranhão?
Pedrosa
- Em primeiro lugar, posicionando o Estado em índices razoáveis de
contingente policial/habitante e valorizando a carreira desses servidores
públicos.
Partimos
do pressuposto de que as instituições policiais não devem ser as únicas
agências de controle do delito, nem as mais importantes para o desenvolvimento
e execução de políticas de prevenção à violência. Superar essa visão já seria
um avanço.
De outro
lado, precisaríamos investir na cultura do trabalho em rede, fazendo parcerias
com outras instituições e órgãos.
Por
outro, é preciso recolocar a segurança pública no marco de uma política
pública, democratizando-a no seu processo de elaboração e de execução,
permitindo que a sociedade, os conselhos de segurança autônomos opinem a esse
respeito.
Depois,
é preciso inscrever a segurança pública no marco teórico da pesquisa e dos
diagnósticos, transparentes, participativos, submetidos ao crivo da comunidade
acadêmica, coisa que não existe no Maranhão. De igual forma, ela deve estar
submetida ao monitoramento e à avaliação permanente, a partir de uma base de
dados confiável e também transparente.
Além
disso, é preciso reduzir a taxa de homicídios, com georreferenciamento e
articulação de outras políticas públicas em áreas de risco, tendo como
parâmetro de intervenção: a) políticas sociais focadas no enfrentamento dos
fatores de risco e nos agenciamentos para o crime e a violência; b) a
inteligência e a capacidade de investigação da Polícia Civil; c) investimento
em polícia comunitária.
Por
último, será preciso democratizar a indicação do Comandante da Polícia Militar
e do Delegado Geral, segundo processos de escolhas que envolvam os operadores de
cada um desses subsistemas de segurança pública. A crise de legitimidade da
hierarquia superior desses dois segmentos precisa ser resolvida pelo critério
de maior democracia.
Blogue –
Caso sua candidatura não chegue ao segundo turno, o PSOL apoiaria Flavio Dino
(PCdoB) contra a oligarquia Sarney?
Pedrosa
– Inverto a pergunta: se Flávio Dino e seus aliados Zé Vieira, Raimundo
Cutrim, Weverton Rocha, Humberto Coutinho, Waldir Maranhão, Edivaldo Holanda
pai e filho, Roberto Rocha e demais dissidentes da oligarquia não forem ao segundo
turno contra a oligarquia, e sim nós: apoiariam o PSOL?
Blogue -
Qual seria a sua primeira medida caso ganhe a eleição e seja empossado
governador do Maranhão?
Pedrosa
- É necessário fazer uma auditagem especializada da dívida fundada do
Estado. Elevar a capacidade de investimento, restabelecer o investimento
público, somente será possível a partir do esclarecimento do montante desta
dívida. Roseana contraiu empréstimo com o Bank of América, recentemente, no
valor de R$ 1,5 bilhão. Ano passado contraiu empréstimo com o BNDES de R$ 3,8
bilhões. Em 2010 contraiu mais um empréstimo de R$ 430 milhões. Em 2009
contraiu outro, no valor de R$ 288 milhões. O governo Roseana continua fazendo
operações de créditos (empréstimos) junto ao sistema financeiro nacional e
internacional, sem que se saiba onde este montante de dinheiro está sendo
aplicado. A oligarquia não fará nunca isso, tampouco a dissidência intra-oligárquica
em torno de Flávio Dino – até hoje não fizeram isso na Prefeitura de São Luís,
por exemplo. Só o PSOL pode propor e fazer essa auditoria. Abrir a caixa-preta
das contas do Estado.
Blogue -
É possível combater a corrupção no Maranhão? Qual a maneira mais viável?
Pedrosa
- É possível combater a corrupção em qualquer lugar, desde que seja
possível mudar a concepção de governo e de desenvolvimento. E isso é o limite
dos dois campos políticos, representado pela oligarquia e pela dissidência
intraoligárquica.
Em
primeiro lugar, é preciso fortalecer o espaço político das discussões que
envolvam o interesse público, incluindo os partidos políticos. Para nós do PSOL
é possível governar sem ampla coalizão, desde que se respeite esse princípio
basilar das sociedades democráticas. A corrupção não ocorre pela coalizão em
si, mas pelos acordos subterrâneos que a sustentam. É o primeiro passo para o
rebaixamento programático.
Em
segundo lugar, é preciso fazer o orçamento participativo e criar mecanismos
participativos para o monitoramento e a avaliação das políticas públicas. Um
desses caminhos é fortalecer os conselhos, dando-lhes autonomia para funcionar.
Essas medidas ajudam a planejar e a fiscalizar os gastos públicos, inibir o
caixa dois, o financiamento de campanha por agentes interessados em obras e
serviços do Estado.
Se
houver monitoramento participativo do orçamento público, ele deixa de ser carta
de intenção, espaço de manobra, para beneficiar aliados políticos e grupos
econômicos corruptos. Ele passa a ser um instrumento de planejamento, porque
terá sua execução acompanhada em audiência pública e outros instrumentos de
consulta e participação.
Por
outro lado, os órgãos e instituições de combate ao crime precisam de mais
independência. No Maranhão teremos a coragem de democratizar pela base a
indicação do comando da PM e do Chefe de Polícia Civil (Delegado Geral),
assumiremos o compromisso para que o Procurador Geral de Justiça seja o eleito
por seus pares e indicaremos o desembargador mais votado da lista.
Vamos
criar mais delegacias especializadas no combate à improbidade administrativa,
dando-lhes estrutura para atuar e investindo na polícia científica.
Estudaremos
mecanismos para tornar mais transparente e independente o Tribunal de Contas do
Estado, priorizando a indicação de conselheiros com perfil técnico.
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