Celijon Ramos
Pensou por um momento,
franzindo as sobrancelhas grossas e hirtadas. Aquilo tudo para ele era
como se já se passasse fazia tanto tempo, um tempo mnemônico a se
reconstruir.
Foi quando andava a esmo por quaisquer ruas, esbarrando em busca de uma a memória tardia que não valorizava mais. Vivera há muito, arrastando-se por tantos lugares sujos e empoeirados e por anos a fio e ainda agora, deixando atrás de si apenas marcas de seus passos, que logo eram devorados pelo vento que lhe gelava as carnes e a alma.
Não se importava mais com as coisas, os cheiros, os gostos, os jeitos e rostos que mal se definiam por ser irreconhecíveis, emaranhados na confusão de seus pensamentos. Tudo parecia sem sentido ou nexo. Era como se na vida não tivesse havido momentos determinantes e fundantes, ou tudo que houvesse vivenciado até então descobrisse agora ter-lhe fugido com a velocidade de um estalar de dedos: zap! vulpt! para, no instante seguinte, reafirmar que o tempo não voltava mais assim como as marcas de seus passos que agora estavam definitivamente enterradas e esquecidas pelo tempo.
Sentiu um medo danado de paralisar o corpo e a alma, um frio na barriga e um enorme estranhamento de gelar a espinha, pois desconhecia tudo e só com muita força lembrava os amigos, namoradas, pais e seu mais adorado cão. Pediu para si mesmo paz e saiu gritando até ficar adormecido e inerte, torcendo para ser esquecido. Achou que tinha enlouquecido. Ou seria ele que talvez houvesse esvanecido sem saber?
Por via das dúvidas e sem querer confrontar o tempo, passou a viver com a não memória. Decidiu que só o presente imediato, o átimo, as relações do instante é que seriam bem-vindas, já que desconfiava que não pudesse chamá-las de vividas.
Ajustou, assim, que os momentos fossem rápidos e mais rápidos como piscar de olhos. O aqui é agora. Depois tudo poderia ser esquecido. Melhor assim, posto que não lhe criava vínculo, nem expectativas e tampouco obrigações, as quais detestava. Agora sua vida era uma “quase não experiência”. Não se importava. Afinal, por que deveria viver com coerência?
Já não precisava mais se justificar e isso era em si uma grande vitória. Mas havia inconvenientes nesse procedimento. Não conseguia conversar demoradamente com ninguém, o que lhe impunha conhecer e esquecer logo em seguida um monte de gente que depois lhe fugiam os nomes. Especializou-se em truques banais para disfarçar o esquecimento e lembrar nomes no meio dos papos. Às vezes só alongava as sílabas ou fonemas das palavras, quando era salvo da situação por alguém do lado que, sem perceber, lhe soprava o nome do interlocutor.
Foi quando andava a esmo por quaisquer ruas, esbarrando em busca de uma a memória tardia que não valorizava mais. Vivera há muito, arrastando-se por tantos lugares sujos e empoeirados e por anos a fio e ainda agora, deixando atrás de si apenas marcas de seus passos, que logo eram devorados pelo vento que lhe gelava as carnes e a alma.
Não se importava mais com as coisas, os cheiros, os gostos, os jeitos e rostos que mal se definiam por ser irreconhecíveis, emaranhados na confusão de seus pensamentos. Tudo parecia sem sentido ou nexo. Era como se na vida não tivesse havido momentos determinantes e fundantes, ou tudo que houvesse vivenciado até então descobrisse agora ter-lhe fugido com a velocidade de um estalar de dedos: zap! vulpt! para, no instante seguinte, reafirmar que o tempo não voltava mais assim como as marcas de seus passos que agora estavam definitivamente enterradas e esquecidas pelo tempo.
Sentiu um medo danado de paralisar o corpo e a alma, um frio na barriga e um enorme estranhamento de gelar a espinha, pois desconhecia tudo e só com muita força lembrava os amigos, namoradas, pais e seu mais adorado cão. Pediu para si mesmo paz e saiu gritando até ficar adormecido e inerte, torcendo para ser esquecido. Achou que tinha enlouquecido. Ou seria ele que talvez houvesse esvanecido sem saber?
Por via das dúvidas e sem querer confrontar o tempo, passou a viver com a não memória. Decidiu que só o presente imediato, o átimo, as relações do instante é que seriam bem-vindas, já que desconfiava que não pudesse chamá-las de vividas.
Ajustou, assim, que os momentos fossem rápidos e mais rápidos como piscar de olhos. O aqui é agora. Depois tudo poderia ser esquecido. Melhor assim, posto que não lhe criava vínculo, nem expectativas e tampouco obrigações, as quais detestava. Agora sua vida era uma “quase não experiência”. Não se importava. Afinal, por que deveria viver com coerência?
Já não precisava mais se justificar e isso era em si uma grande vitória. Mas havia inconvenientes nesse procedimento. Não conseguia conversar demoradamente com ninguém, o que lhe impunha conhecer e esquecer logo em seguida um monte de gente que depois lhe fugiam os nomes. Especializou-se em truques banais para disfarçar o esquecimento e lembrar nomes no meio dos papos. Às vezes só alongava as sílabas ou fonemas das palavras, quando era salvo da situação por alguém do lado que, sem perceber, lhe soprava o nome do interlocutor.
Descobriu, assim, um lado útil das pessoas. Foi um fascínio para ele,
algo de se gabar. Agora sim o veriam como importante e muito sábio, sem
saber que na verdade aquilo era produto de sua desmemória. Algo muito
útil para os dias que se vive hoje. Muito útil aos outros e a si próprio
também. Agora que o sabia não ficaria pedra sobre pedra, sua vingança
estava urdida e desenhada.
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