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sexta-feira, 8 de março de 2013

“ELE LÊ A BÍBLIA COM UM OLHO SÓ”, DIZ JEAN WYLLYS SOBRE O DEPUTADO EVANGÉLICO QUE PRESIDIRÁ A COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS

Wyllys, do PSOL, critica a posição do PSC nas temáticas dos direitos humanos

por Jean Wyllys, deputado federal (PSOL-RJ)

"Graças ao jogo de interesses entre os partidos da base aliada, é quase certo que o pastor e deputado Marco Feliciano presidirá a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Esse fato não é escandaloso --e eu não me oponho a ele-- pelo simples fato de ele ser pastor. Se o deputado Marco Feliciano fosse um pastor identificado com a garantia dos direitos humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas, não haveria problema algum e eu não faria qualquer oposição.

Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo público e declarado de minorias estigmatizadas e tem um discurso público que estimula a violação da dignidade humana desses grupos.

Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que disse que o problema da África negra é "espiritual" porque "os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé", revivendo uma interpretação distorcida e racista da Bíblia, que já foi usada no passado para justificar a escravidão dos negros?

Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e minorias um deputado que se referiu à Aids como "o câncer gay"? Um deputado que defende um projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de Psicologia a aceitar supostas "terapias de reversão da homossexualidade" anticientíficas e baseadas em preconceitos.

Um deputado que quer criminalizar o povo de terreiro e enviar pais e mães de santo à cadeia por rituais religiosos que estão presentes nos mesmos capítulos da Bíblia que ele usa para injuriar os homossexuais? Ele lê a Bíblia com um olho só. Um deputado que apresentou um projeto para anular diversas (boas) decisões do Supremo Tribunal Federal, entre elas a sentença que reconhece as uniões homoafetivas como entidades familiares.

Na verdade, para ser justo, o acordo realizado para dar a presidência da CDHM ao PSC, com ou sem Marco Feliciano, já era um grave problema. Trata-se de um partido que fez campanha definindo a família de uma maneira que exclui não só gays e lésbicas, como também as famílias monoparentais, as com filhos adotivos e tantas outras. Trata-se de um partido que defende posições fundamentalistas que vão contra os direitos de muitas das minorias que essa comissão deve proteger.

Eu me formei num cristianismo que acolhe os diferentes, respeitando sua dignidade. Eu me apaixonei na juventude por esse cristianismo que deu origem à Teologia da Libertação, que participou da luta contra a ditadura e que nos deu grandes referências.

O PSC, lamentavelmente, não tem nada a ver com isso. E Marco Feliciano menos ainda! Que ele seja o novo presidente da comissão é uma contradição: é como colocar à frente das políticas contra a violência de gênero um cara que bate na mulher.

É isso que milhares de brasileiras e brasileiros estão sentido nesse momento: que a Câmara bateu neles. Em nós --confesso que eu também senti. Às vezes, me pergunto o que estou fazendo aqui. Mas depois vejo a mobilização de milhares de pessoas para impedir essa loucura e penso: é isso que estou fazendo, tentando representar aqueles que, como eu, sempre receberam mais insultos e porradas que direitos e estima! Saibam que não estão sozinhos! Luta que segue!"

JEAN WYLLYS, 38, é deputado federal pelo PSOL-RJ

Um comentário:

Anônimo disse...

um pouquinho sobre direito, democracia e respeito as instituições
anos atras um bispo iurd cutucou com o pé uma imagem catolica de seus cultos, ele foi criticado e afastado, cometeu vilipendio do objeto sacro. é direito e lei.
diz a CF Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 3º é reconhecido a união estavel entre homem e mulher - de onde os constituintes tiraram isso? eles não inventaram nem criaram nada - isso parte da tradição dos judeus confirmado pelo cristianismo - portanto FAMÍLIA e CASAMENTO é uma imagem imaterial e objeto de culto que faz parte do rito no cristianismo.
vivemos no regime democratico, certo? então como o stf quer mudar a constituição na base da caneta? podem eles querer pegar uma imagem de rito religioso e vilipendiar sem ninguem poder fazer nada? vivemos democraticamente e a anos que pessoas fazem o que querem com suas vidas na sociedade, mas se eles querem mudar os conceitos da base da sociedade que façam isso democraticamente, que mudem a CF mas sem usar os termos familia e casamento que são objetos de direito cristão. ter direito é bom mas que ele fique limitado onde começa o direito do outro.
democracia sim, mas com responsabilidade, justiça e respeito aos direitos individuais e coletivos.